O FIM DO MERCOSUL?

Nesta semana, apareceram nas imprensas argentina e brasileira declarações de um oficial do governo argentino não identificado, segundo o qual seu país estaria insatisfeito com o vizinho. As razões seriam a intervenção brasileira na crise do Equador e a busca ativa do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Imediatamente, apareceram na imprensa e no meio empresarial aqueles que vaticinam o congelamento dos projetos de integração política e econômica entre Brasil e Argentina, e até alguns que prevêem o fim do Mercosul. Roberto Pompeu de Toledo, na Veja dessa semana, afirmou que "o Mercosul está em destroços, e a relação com a Argentina recuou ao nível conturbado da época da construção de Itaipu."

Não é a primeira nem a última vez que isso ocorre: cada vez que há algum desentendimento entre os dois principais países do bloco sul-americano, sempre existem aqueles que imaginam que é o seu fim. No entanto, o Mercosul sempre contraria tais expectativas, e não só não é extinto, como se fortalece.

A causa real dos desentedimentos é que tanto o Brasil quanto a Argentina ainda não abandonaram por completo o plano de ser, cada um por si, a potência dominante da América do Sul. Embora a criação do Mercosul, há 20 anos, tenha feito muito para diminuir a importância desse plano de dominação, ele ainda existe, embora cada vez mais fraco.

Porém, apesar de algumas rusgas ocasionais, inclusive a mais recente, a verdade é que o Mercosul está muito bem, não corre nenhum perigo de desaparecer ou enfraquecer, e até mesmo continua a consolidar-se. Há alguns fatos que os ativistas "anti-Mercosul" fingem não ver, e que demonstram a solidez da integração: já existe um Parlamento do Mercosul funcionando; o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) fornece créditos a juros baixos para empresas da Argentina, Paraguai e Uruguai, ajudando a fortalecer também as indústrias desses países; e, apesar da incompreensível postura crítica de alguns empresários, a verdade é que o principal destino das exportações brasileiras é a Argentina, assim como o principal importador de produtos argentinos é o Brasil. Portanto, do ponto de vista econômico, a Argentina é muito mais importante para o Brasil do que os EUA, a União Européia ou o Japão, e vice-versa.

Quanto se leva em conta principalmente este último fato, percebe-se quão irracional é a proposta daqueles que afirmam que o Brasil deveria dar prioridade à Alca (a Área de Livre-Comércio proposta pelos EUA).

Apesar de alguns problemas acidentais e de pouca importância, a tendência do Mercosul é crescer, tanto no número de membros quanto na maior integração entre eles. E talvez algum dia a Comunidade Sul-Americana de Nações, que hoje é só uma carta de intenções, seja uma realidade, transformando este continente num pólo político, econômico e estratégico independente e de relevância mundial.

Carlo MOIANA Pravda.ru Brasil

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