EMBRAPA e Parcerias Público-Privadas

Durante todos esses anos, a empresa se destacou pela importância das suas pesquisas científicas. Com 37 centros de pesquisa, 2.221 pesquisadores, mais de oito mil funcionários e 275 acordos de cooperação técnica com 56 países, a empresa foi responsável pelo desenvolvimento da agricultura tropical, do qual o Brasil hoje é líder mundial.

As pesquisas da Embrapa trouxeram o primeiro clone animal da América Latina, a soja produzida no Centro-Oeste e Nordeste, a uva cultivada às margens do São Francisco. Resultados que contribuíram para os R$ 34 bilhões de saldo do agronegócio obtidos em 2004, o melhor da história. No dia de seu aniversário, a Embrapa recebeu a Medalha Nacional do Mérito Científico. A homenagem, entregue pelo presidente da República, é prestada a instituições pela contribuição para o desenvolvimento tecnológico e científico do país. Esta é a primeira vez que uma instituição de pesquisa brasileira recebe a condecoração.

Em entrevista ao Em Questão, o diretor-presidente da empresa, Sílvio Crestana, há três meses no cargo, fala sobre o desafio e a importância de se atrair investimentos para a pesquisa por meio das parcerias público-privadas, do projeto de alto impacto para a agricultura familiar e das prioridades da instituição para acompanhar novos nichos da tecnologia, como a agroenergia e a nanotecnologia. O físico e pesquisador da Embrapa desde 1984 também chama atenção para a revolução que o agronegócio causou e vem causando no desenvolvimento do interior do país.

Em Questão - A Embrapa é uma referência internacional na pesquisa do setor agropecuário, sendo a responsável pelo desenvolvimento de uma agricultura tropical e pelo primeiro clone animal da América Latina, dentre outros avanços importantes da tecnologia. Como a empresa atingiu esse patamar?

Sílvio Crestana - A Embrapa é uma instituição de conhecimento que gera informação e tecnologia. Como tal, o principal ativo que a empresa tem é gente, é o capital humano. A Embrapa começou com intensos treinamentos de seus funcionários, principalmente em nível de pesquisa, há 32 anos. E graças a isso e aos investimentos em infra-estrutura é que foi possível dar esse salto no agronegócio, na agricultura brasileira, saindo de índices medíocres de produtividade para taxas hoje altamente competitivas, a ponto de estarmos batendo os principais países detentores dos primeiros lugares em agricultura, em produção agrícola, em produtividade. Investimento em gente, em infra-estrutura e visão apropriada faz com que nós sejamos essa potência - Embrapa, sistema cooperativo de pesquisa, universidades - que hoje é o Brasil, país líder em agricultura tropical.

EQ - Ao completar 32 anos quais são as prioridades da empresa?

SC - A nossa prioridade é redimensionar os nossos quadros de funcionários, requalificar, abrir novos concursos, ter novos perfis. Hoje existem áreas, como a nanotecnologia, a agroenergia, a tecnologia da informação, a gestão do conhecimento, a comunicação e precisamos estar preparados para trabalhar com essas novas tecnologias. Nosso trabalho deve ser desenvolvido de forma que possamos transferir melhor nossas tecnologias, que inovemos, verdadeiramente, no sentido de que aquele conhecimento possa ser utilizado pelo sistema produtivo, pelo sistema social. Portanto, de maneira que a sociedade se beneficie e com isso seja possível a geração de emprego e renda. A Embrapa é ainda braço direito da política externa do governo federal no Hemisfério Sul porque temos soluções para os problemas de fome e miséria que países pobres como os da África estão vivenciando. Com um pouco de esforço de transferência, de adaptação, de conhecimento, nós podemos até devolver muita coisa que o Brasil foi até o continente buscar, como é o caso das forrageiras e do capim Napier. Hoje temos um material melhor e aprendemos a fazer manejo, a plantar, a lidar, a colher na hora certa, o que permitiu esse impulso enorme (taxa de 8%, 9% de crescimento em produtividade no caso da pecuária de corte) graças a esse sistema. Então, podemos devolver hoje isso a África ou numa política de solidariedade ou numa política de negócio tecnológico, como empreendimento.

EQ - Um grande desafio da Embrapa para, inclusive, viabilizar pesquisas nessas novas áreas (nanotecnologia, agroenergia) é conseguir mais recursos. Como a empresa pretende atrair mais investimentos para a ciência e tecnologia?

SC - A chance que o governo tem de aumentar investimento nessa área drasticamente hoje é muito pequena, pois dependeria de a economia brasileira crescer a taxas muito elevadas, de 8,9, 10% ao ano. Nós estamos saindo de crescimento zero para crescimento de 4, 5% e nessas taxas é possível imaginar que o Estado ganhe maior capacidade de investimento no setor público, e no caso em pesquisa em ciência e tecnologia. Precisaríamos aumentar o investimento em inovação para 1,5%, 2% do PIB nacional como faz o Japão, Estados Unidos, Alemanha, Coréia. Hoje esse número é próximo a 1%. Há a necessidade de se pavimentar uma nova via. Essa via é a do setor privado. Temos que firmar arranjos institucionais, parcerias estratégicas de forma que se possa viabilizar o financiamento da inovação em parceria com o setor privado. Um dos mecanismos é a criação de uma Agência de Inovação Tecnológica, iluminada pela Lei de Inovação e que abra caminhos, por meio de um Fundo de Incentivo a Inovação, para que os pesquisadores possam trabalhar no setor produtivo por algum tempo e receber algum diferencial de salário. Outra coisa que também nos tem motivado nessa direção é das Parcerias Público-Privadas. As PPPs foram criadas com foco na logística, em resolver problemas de infra-estrutura do país, o que o agronegócio precisa. No caso da Embrapa, precisamos aproveitar esse conceito e ampliá-lo para fazer Parcerias Público-Privadas em inovação. O setor privado é favorável, está disposto a colaborar e reconhece que tem ganhos.

EQ - É fato que o desenvolvimento da agropecuária responde por parte significativa do crescimento do PIB nacional, mas no interior há ainda uma relação mais forte com essa atividade. Como funciona essa relação?

SC - O desenvolvimento do interior do Brasil é dependente da agricultura, da pecuária, do desenvolvimento florestal, portanto, do agronegócio. São cidades que estão surgindo, crescendo, empregos, renda, até grifes e festas, como a festa do peão e agrishows. Na verdade são grandes feiras que mostram essa pujança econômica que gera emprego, que cria novas profissões e áreas no interior do Brasil. Isso vem porque o agronegócio não é só a venda de um produto. São as máquinas, os insumos para produção, o adubo, o pesticida, o transporte. Você paga imposto na produção ou na comercialização e, portanto, o estado ou município se beneficia disso. Nas regiões já tradicionais de agricultura, como o Sul do Brasil, é possível ver qual é a importância dessa atividade quando a crise que a seca, a perda da safra agrícola representa para o Rio Grande do Sul. Quando existe um foco de aftosa e o produtor não pode exportar aquela carne.

EQ - O que representa a aprovação da Lei de Biossegurança para o trabalho da Embrapa?

SC - A lei facilita nosso trabalho porque há um protocolo mais claro e acreditamos mais rápido para que possamos utilizar todas as ferramentas da ciência para gerar novas tecnologias. A biossegurança tem a ver com isso porque, por exemplo, houve grande avanço no cultivo do milho quando se criou o híbrido. E agora há o milho transgênico que já vem com característica de bioinseticida, ou seja, o milho não estará suscetível a pragas e por isso vai ganhar mercado. Mas para colocar esse milho no mercado é preciso, além da pesquisa, os testes de avaliação de risco do ponto de vista ambiental e da saúde humana. E isso é muito caro. Temos mais uma razão para buscar as parcerias com a iniciativa privada. E aí compartilhar custos e benefícios.

EQ - Quais os projetos a Embrapa pretende desenvolver para a agricultura familiar?

SC - A Embrapa tem uma carteira de projetos para a agricultura familiar por meio do Macro-programa da Embrapa de Pesquisa dedicada a esse segmento. Temos também um portfólio de resultados para o pequeno produtor: sementes, variedades, cultivares e implementos agrícolas para propriedades menores que podem ser operadas individualmente. O governo está agora montando uma política para alavancar o setor de implementos e máquinas agrícolas. Hoje há financiamentos do BNDES para a compra de máquinas, mas voltadas para a média e grande propriedade e isso tem viabilizado a modernização do parque mecânico brasileiro. Mas na pequena isso não existe. Os Ministérios da Agricultura, da Ciência e Tecnologia, do Desenvolvimento Agrário e a Embrapa estão fechando um projeto para garantir o acesso do agricultor familiar a máquinas adequadas para o porte da sua propriedade. E esse projeto virá em parceria com a iniciativa privada que irá fabricar esses equipamentos em escala para baratear o custo. Então, o projeto vai incluir o crédito, a tecnologia, a necessidade do pequeno produtor e a indústria para produzir. Estamos em fase de negociação e há interesse de todas as partes.

Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República

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