Entrevista com Rômulo Paes de Sousa

Os resultados do seminário internacional "Os rumos da transição nutricional no Brasil: fome e obesidade no contexto da exclusão social", realizado esta semana, em Brasília, subsidiarão o aprimoramento das políticas públicas do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

Os participantes concordaram que apesar de antagônicas, a obesidade e a desnutrição caracterizam a insegurança alimentar; alvo de combate das ações do Fome Zero.

Participaram dos debates, o secretário de Avaliação e Gestão da Informação do MDS, Rômulo Paes de Sousa; o diretor do Centro de Nutrição Humana da Universidade Jonh Hopkins de Baltimore (EUA), Benjamin Caballero; a professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade Estadual de Campinas (SP), Ana Maria Segall Corrêa; o professor de Nutrição e Saúde Pública da Universidade de Connecticut (EUA), Rafael Pérez Escamilla; e o coordenador científico do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo, Carlos Augusto Monteiro.

Em entrevista ao Em Questão, o secretário de Avaliação e Gestão da Informação do MDS, Rômulo Paes de Sousa, avaliou os resultados do Seminário. Na sua opinião, "os debates mostraram que a melhora na dieta é um importantíssimo foco de trabalho para toda a área social, envolvendo os ministérios do Desenvolvimento Social, da Educação e da Saúde. Com isso, poderemos direcionar as ações do governo".

Em Questão - Qual o objetivo do seminário? Rômulo Paes - O seminário buscou avaliar como os estudiosos de vários países estão observando a situação da alimentação e da condição nutricional das pessoas no Brasil e em países semelhantes com o Brasil. Os debates mostraram que a melhora na dieta é um importantíssimo foco de trabalho para toda a área social, envolvendo os ministérios do Desenvolvimento Social, da Educação e da Saúde. Com isso, poderemos direcionar as ações do governo.

EQ - Nem sempre uma pessoa gorda é uma pessoa bem nutrida.Nas populações de baixa renda, os casos de obesidade têm aumentado. Por que acontece isso? Rômulo - O que tem mudado sobretudo é a relação que as pessoas têm com a alimentação. Hoje em dia é muito mais fácil obter alimento industrializado e esses alimentos têm muito açúcar e muita gordura. O fato de comer muita gordura e açúcar, não quer dizer que a pessoa esteja bem alimentada. O que nós estamos observando, é que em vários países do mundo já há uma população com o peso acima do que seria recomendável. Chamamos isso de sobrepeso. Mas, ao mesmo tempo, essas pessoas têm um índice de deficiências de vitamina, deficiência de micronutrientes, que seriam essenciais para elas. Então temos uma situação curiosa: elas têm peso em excesso e estão mal alimentadas.

EQ - O que o governo tem feito para combater a obesidade? Rômulo - A questão da obesidade nas populações mais pobres no Brasil está posta desde os anos 80, e a partir daí, os governos nesses vários períodos procuraram agir sobre o tema. O Ministério da Saúde tem ações importantes na área da nutrição. O Ministério da Educação tem uma preocupação grande com a educação nutricional, que está na base desta questão. O Fome Zero é uma resposta articulada em termos de políticas, em termos de programas, em termos de ações do governo para que as pessoas não só possam comer melhor, ter um melhor conteúdo nessa alimentação, mas que elas tenham acesso ao alimento e, ainda, que elas possam fazer as melhores escolhas dentro de um determinado orçamento. Eu queria só alertar de que muitas das pessoas que têm um peso acima do adequado, têm às vezes uma refeição por dia, ou duas refeições por dia, ou não conseguem ter alimento todos os dias do mês. Comer muito, não quer dizer comer bem, e quem está com o peso acima do desejável, não necessariamente está comendo todos os dias.

EQ - Muitas vezes a pessoa com problemas de obesidade não sabe como proceder, onde ela pode procurar ajuda? Rômulo - No caso especificamente das deficiências de peso ou excesso de peso, existe o programa de Saúde na Família e este programa tem procurado dar uma orientação para uma dieta adequada, considerando também o orçamento de cada família. Então, uma primeira ajuda que pode ser obtida, é com o Ministério da Saúde. O SUS inclusive fornece tratamento cirúrgico para os casos de obesidade mórbida Além disso, nas escolas têm havido uma preocupação cada vez maior com esse tema. Muitas escolas já têm nutricionistas, para orientar tanto a merenda escolar, como as próprias crianças sobre qual a forma adequada de alimentação. É muito fácil hoje se consumir gordura e açúcar. O refrigerante, por exemplo, tem cerca de 25% de açúcar. As gorduras predominam na dieta das pessoas, nos alimentos industrializados. Então há uma disponibilidade muito grande de açúcar e de gordura, e o que nós estamos recomendando é que as famílias busquem os serviços do Ministério da Saúde e das escolas. Esse é um tema que também é de responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Social, que está definindo as suas políticas de educação alimentar. Ou seja, somando forças com o Ministério da Saúde nessa questão e utilizando a sua própria rede de assistência social para ter estratégias de ajudar o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação nessa política de disseminar, de difundir uma melhor educação alimentar.

Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República

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