África acorda

Durante muitas décadas, o continente africano, tal como a Rússia hoje, só aparecia nas notícias se houvesse um surto de doença, uma guerra ou um desastre natural, como uma praga de gafanhotos, pintando um quadro horrífico dum lugar para evitar.

Depois de anos de exploração, em que o fluxo de tráfico era uma rua de sentido único, em que as potências coloniais saquearam as riquezas minerais do continente, África começou a aparecer no palco mundial com confiança, com empenho e com uma identidade colectiva que obriga o resto do mundo a repensar sua estratégia.

A decisão do Primeiro-ministro britânico, Tony Blair, de escolher o continente africano como peça chave da sua política externa em 2005, o ano em que preside ao grupo dos países mais desenvolvidos (G8), é bem-vindo, como também foi o estabelecimento no ano passado por ele da Comissão para África.

O relatório desta Comissão, emitido no mês passado, estabelece linhas guia para abordar os problemas do continente, apelando aos líderes africanos a adoptarem políticas de boa governação, atacando a corrupção e respeitando as constituições dos seus países e para os países mais desenvolvidos, sugere um conjunto de medidas que inclui a total perdão da dívida africana e uma redução da prática de conceder subsídios aos produtores ocidentais e impor tarifas contra importações.

A União Africana e a NEPAD (Nova Parceria para o Desenvolvimento Africano) providenciam um quadro e um instrumento para construir a África como um Continente, pondo em prática políticas coesas de desenvolvimento sustentável.

Sob a NEPAD, o desenvolvimento é abordado através de parcerias, não uma estratégia de cima para baixo imposta por Europa ou América do Norte mas sim, um casamento de interesses comuns.

A União Africana (U.A.) tem sido instrumental em resolver crises – problemas africanos resolvidos por africanos. A tentativa por Faure Gnassingbe de seguir na Presidência em Togo depois da morte do seu pai, mas a custo de alterar a constituição, foi tratada com firmeza e rapidez pela U.A., o Presidente nigeriano e da União, Olesegun Obasanjo chamando o auto-proclamado líder togolês a Abuja, onde lhe disse para respeitar a constituição e organizar eleições livres.

Na Somália, o governo da Quénia e a União Africana forjaram um acordo permitindo pelo menos uma semelhança de governação a voltar ao caos causado pelos senhores de guerra, que assinaram um cessar-fogo. Em Darfur, onde a morte continua a aparecer, pelo menos hoje é mais por causa da fome ou de doença do que por chacina. A força de manutenção de paz da União Africana conseguiu reduzir as hostilidades a escaramuças, embora ainda há muito por fazer.

Presidente Obasanjo está a atacar a questão de corrupção na Nigéria, onde acaba de dar instruções para o cancelamento dum processo de vender centenas de propriedades do estado a preços reduzidos (diz-se que a venda era para alguns ministros e a família próxima da sua mulher).

Longe de ser o coitadinho da comunidade internacional que se contenta com dádivas e uma palmadinha da cabeça, África se ergue, orgulhoso das suas tradições e cultura, assumindo o mau e o bem da sua história e encontra a comunidade internacional olho a olho, com um sorriso nos seus olhos e no seu coração.

A resposta que Tony Blair recebe dos outros membros do G8 na Escócia em Julho será uma demonstração clara quanto ao nível de boa vontade e desejo deste grupo de países mais desenvolvidos para empenharem-se na resolução dos problemas da África. A ver se eles retornam o sorriso com um sorriso, ou um olhar de derisão.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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