Estamos em plena campanha eleitoral.
Tudo é discutido, é falado e perguntado.
Só não vejo ninguém a discutir, a falar ou perguntar sobre as indemnizações dos bens deixados pelos cidadãos portugueses no ex-Ultramar, entre outras sequelas da chamada descolonização exemplar.
Entre outros mais, existem aqueles portugueses que, forçados a regressar a Portugal, subsistem com pouco mais de 200.00.
Facto é não ter existido no Ultramar um esquema de Segurança Social. Era esta construída pela aplicação dos rendimentos auferidos em bens que mais tarde a garantiam. Não puderam esses cidadãos, não só por bloqueamento cambial, mas também por um forte sentimento de permanência, transferir esses rendimentos para fora de Moçambique, o que, na fase dos Governos de Transição até dava prisão.
Apenas os funcionários públicos ultramarinos viram a sua situação resolvida com a integração nos quadros metropolitanos, tendo assim o seu futuro assegurado.
Mas aqueles que, no comércio, indústria, pesca e todas as outras actividades económicas asseguravam com os seus impostos a máquina estatal, nada tiveram quando aqui chegaram.
Propala Mário Soares que foram integrados na sociedade portuguesa através dos programas do então existente Comissariado para os Desalojados.
Não é verdade. Em números oficias foram criados 80 000 postos de trabalho. Mas os cidadãos vindos do ex-ultramar, não funcionários públicos, eram muitos mais. Igualmente era factor de primazia associarem-se os beneficiários destes programas a residentes em Portugal, o que diminui o total apresentado.
Não querendo falar de portugueses de primeira e de segunda, mas, e enquanto uma indemnização justa pelos bens deixados no ex-Ultramar não for atribuída pelo Estado Português, uma pensão compensatória e transitória deveria ser atribuída àqueles que, se os seus interesses tivessem sido acautelados, não necessitariam de qualquer outra ajuda, mas ora subsistem com pouco mais de 200.00. Para não falar nos milhares que entretanto já faleceram, muitos à míngua de tudo inclusive de uma reparação moral.
Sabemos de cidadãos de outras nacionalidades cujos governos indemnizaram por bens nacionalizados em Moçambique e Angola por simples processo administrativo.
Mas este é tema TABU NACIONAL. Para políticos e jornalistas. Mesmo para aqueles que lá nasceram ou viveram. Porquê?
Quando se perde tanto tempo e dinheiro a falar e a escrever sobre questões de lana caprina ou mexericos
Lisboa, 5 de Fevereiro de 2005
Fernando Gil
Vogal da Direcção da AEMO Associação dos Espoliados de Moçambique
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