O ano de 2005 está nos colocando desafios imensos

Começou em janeiro, com a primeira reunião entre os parlamentares expulsos do PT, intelectuais, lideranças sindicais e dos movimentos sociais, no Rio de Janeiro. Ali nasceu a Esquerda Socialista e Democrática - Movimento por um Novo Partido. A partir daquele momento iniciamos uma peregrinação pelo Brasil. Estivemos em praticamente todos os Estados realizando atos de lançamento do novo partido e preparando o I Encontro Nacional. Nesta caminhada confirmamos aquilo que já vínhamos sentindo desde 2003: a necessidade inadiável de construir – nas palavras da nossa senadora Heloísa Helena - um abrigo para a esquerda socialista. Milhares de ativistas participaram destes eventos. Em todos eles alguém expressava a dor da traição, a alegria de ver a esperança surgir em nosso movimento, ou a preocupação em não repetir os erros do passado. Estes foram temas recorrentes.

Nosso encontro, nos dias 4 e 5 de junho foi um enorme sucesso. Mais de 700 militantes vindos de todos os Estados do país, intelectuais como Chico de Oliveira e Carlos Nelson Coutinho, os parlamentares expulsos, sindicalistas, lutadores do campo e da cidade, de fábricas, repartições públicas, escolas e universidades. Aprovamos um programa e um estatuto provisórios e partimos para a campanha da legalização. Fomos o primeiro partido a obter 438 mil assinaturas de apoio para conquistar a legalidade.

É verdade que alguns sucumbiram ao desânimo, mas muitos decidiram seguir em frente junto conosco. Em 25 de novembro de 2004 tivemos a primeira grande marcha unitária contra as reformas reacionárias de Lula. Foram mais de 10 mil sindicalistas, estudantes e sem-terra do MTL – Movimento Terra e Liberdade – que se uniram para demonstrar que mesmo sem o apoio da maioria da CUT e da UNE é possível articular um grande movimento de resistência aos ataques do governo.

Ficou clara a existência de uma enorme disposição de luta e a necessidade de articular os diferentes movimentos sociais e sindicatos que se recusam a fazer o jogo do governo. Fica também mais evidente a cada dia a necessidade e o enorme espaço para a construção de uma nova ferramenta política para a classe trabalhadora. Um partido para fazer o resgate das bandeiras de luta, a defesa da reforma agrária, do emprego, do salário, da ruptura com os ditames do FMI e dos mercados. Bandeiras que o PT deixou para trás. São nossas, e de quem mais quiser empunhá-las. Ao mesmo tempo que resgatamos esta tradição, também buscamos a superação, o aprendizado com os erros destes mais de 20 anos de caminhada.

A velha esquerda, simbolizada pelo PT, é incapaz de apresentar uma alternativa, e está morta enquanto instrumento de construção de uma saída para o país sob a ótica dos interesses da maioria do povo. Eles se renderam e hoje governam junto com o que há de mais podre na política brasileira. Mas nós não nos demos por vencidos. Temos certeza de que um caminho alternativo é possível. E a Venezuela é uma prova da sua viabilidade. Tive o privilégio de estar lá durante o referendo revocatório, quando o povo mais uma vez – depois de ter descido dos morros de Caracas para derrotar o golpe da direita –impediu as elites e oligarquias de fazer retroceder a revolução bolivariana, em uma grande mobilização popular, desta vez manifestada no voto NÃO aos golpistas. Foi lá que conheci Eduardo Galeano e que ouvi dele a opinião de que o P-SOL é um símbolo fundamental de resistência dos ideais socialistas. Opinião compartilhada por muitos lutadores internacionalistas que estarão presentes no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, e que manifestarão sua solidariedade com esta nova experiência.

Uma refundação da esquerda socialista que pode cumprir um papel decisivo no reagrupamento internacional dos lutadores socialistas. Uma tarefa urgente pois precisamos unir forças para enfrentar a irracionalidade do capitalismo, transformada em um sistema calculista de exploração do homem e dos recursos naturais. Um sistema que convive com os ataques do Estado terrorista imperial que invade o Iraque, com o genocídio na Palestina, nos lembrando todos os dias que a barbárie nazista não faz apenas parte do passado.

O ano de 2005 está nos colocando desafios imensos. Entramos na fase de aprofundar o debate sobre qual a saída para o país. Construir um programa emergencial, apontar um caminho para tirar o país da crise sob a ótica dos interesses da maioria do povo. Ele começa, sabemos, com a suspensão do pagamento dos juros da dívida, sangria desatada ainda maior no governo Lula.

Pela unidade latino americana para enfrentar o jugo imperialista que mantém nosso continente com suas veias abertas permanentemente. Passa pela necessidade de uma assembléia constituinte que reorganize o país e suas instituições, totalmente corroídas pela corrupção, distanciadas dos interesses do povo, carcomidas pelas classes dominantes e suas oligarquias. E por muitos outros temas, que precisamos debater. Um debate que vai além das fronteiras do P-SOL pois sabemos que há muitos lutadores espalhados por aí. E queremos construir este debate e este caminho alternativo com todos os que estejam dispostos a comprar a briga com as classes dominantes. Com todos os que não se dobraram e seguem, firmes, na luta socialista e anti imperialista.

O Fórum Social Mundial é um grande momento para aprofundarmos os laços entre os socialistas e internacionalistas, das mais diversos partes do mundo, trocando idéias e aprendendodestas experiências. A esta tarefa nos dedicamos com muita energia.

Luciana Genro

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