Entre a sigla e a cifra

Cristovam Buarque, senador eleito pelo Partido dos Trabalhadores do Distrito Federal, declarou, analisando os rumos do governo petista: “O que a gente está vendo aí é que muitos mudaram de lado, de ideologia... eu tenho a minha ideologia e tenho o meu partido... Não quero deixar o meu partido nem minha ideologia. Mas se tiver que abonar um governo que não segue as minhas ideologias, meu princípio moral, eu fico sem partido mas mantenho dentro de mim os meus ideais”. Ao que tudo indica, o senador petista não está sozinho no PT e no governo Lula, e a turma mais ligada ao grande ideal petista, o que tornou o partido uma referência nacional, já começa a cobrar de Lula e seus camaradas, posições mais coerentes com o PT e sua bandeira vermelha hasteada na história recente da política brasileira.

Parece mesmo que Lula não quer mais saber da sigla do Partidos dos Trabalhadores, mas das cifras que a sigla pode proporcionar. É por isso que lideranças do PT elaboraram um documento cobrando posições mais austeras e coerentes do governo que era da esperança, mas que no poder só pensa em mudança. É o PT largando a sigla na beira da estrada e pegando carona na cifra, andando cada vez mais à direita.

O documento "Carta aos petistas", elaborado após seminário realizado na última segunda-feira, em São Paulo, e divulgado no Salão Verde da Câmara por um grupo de deputados, propõe mudanças na política econômica, exige a adoção de mecanismos para permitir a participação popular nos rumos do governo e defende que a relação entre o Executivo e sua base no Congresso seja feita sem o "troca-troca fisiológico, que tem caracterizado a política institucional" no País.

Assinado pelas correntes do PT: Articulação de Esquerda, Democracia Socialista, Alternativa Socialista, Construção: Socialismo e Democracia, Esquerda Democrática, Esquerda Socialista, Movimento Socialista Cabano e Tendência Marxista, e alguns parlamentares considerados independentes, o documento prega o resgate da ética e defende a autonomia do partido em relação ao governo.

Bom, então são os petistas que estão falando em resgate da ética, mudança na política econômica, autonomia do partido em relação ao governo e, principalmente, coerência histórica e ideológica. Está tudo aí, um fiel e frio retrato do que aconteceu com o governo Lula e com o PT que é governo.

Se lembrarmos então dos propósitos do PT antes de chegar ao poder, a decepção fica cada vez maior. O Partido dos Trabalhadores e as Centrais Sindicais sempre cobraram dos governos uma auditoria da dívida externa e, no poder, o que fez o PT acerca deste assunto?!... Agora vem o presidente do Conselho Nacional da OAB, o destemido Roberto Busato, talvez até influenciado pelas idéias petistas de outrora, e entra no Supremo com ação para que o Congresso realize uma auditoria da dívida externa. Isto é uma atitude que faz parte da nossa Constituição, está previsto no artigo 26 das Disposições Transitórias da Constituição de 1988. Mas deputados e senadores jamais tiveram motivação política para exigir o cumprimento da Lei. O pior e lembrarmos que o PT tanto pregou isto... durante anos...

Com disse Cristovam: sou do PT que é da sigla, do social, do planejamento e não da cifra, da economia recessiva, dos altos juros, do superávit primário e do modelo excludente neoliberal. Falta ao PT encontrar seu caminho, seguindo sempre à esquerda, aquela mão que nos leva ao Brasil dos grandes ideais petistas, da Caravana da Cidadania, da esperança vencendo o medo e do povo cantando pelas ruas sem medo de ser feliz. Petrônio Souza Gonçalves jornalista e escritor e-mail: [email protected]

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