Existe uma imprensa livre? Os órgãos da comunicação social são verdadeiramente independentes? Um jornalista tem o direito de falar toda a verdade sem qualquer tipo de censura? Em Portugal, não. Bem-vindos a Santanalândia, o País das Maravilhas onde tudo decorre num mar de rosas perfumado pelas Santanettes, dejeitos do Jet-Séis (que nunca chegará a Sete) que começam a governar o país.
Num país democrático, de vez em quando há um caso mediático, em que um jornalista ou mais provavelmente, o director dum canal de televisão, estação de rádio, ou administrador numa corporação da comunicação social é substituído por questões políticas.
Mas geralmente, há que saber fazer as coisas com um jeitinho, com um telefonema a convidar para um jantar civilizado, onde as linhas-guia de orientação são traçadas e para quem for suficientemente inteligente a compreender o não dito, meia palavra basta.
Não só em Santanalândia, onde de repente uma onda de mulheres apresentáveis varrem todo e tudo na sua frente, instalando-se como conselheiras e adjuntas, nas Câmaras, nos ministérios, nos gabinetes. Apresentamos as Santanettes!
Como se fosse uma peça de teatro (com péssimo gosto e de terceira qualidade) enquanto as santanettes dançam ao som de música modernóide com um pano de fundo rocambolesco, entra o mau da fita, com barba para fazer, tem o ar dum ex-pugilista, uma espécie de Rottweiler meio-humano, sem açaime, nem trela, que deambula por todo o palco, devastador.
Apresentamos o Ministro da Presidência, Morais Sarmento. Sua pasta com nome obscura, Ministro da Presidência, quer dizer que entre suas funções tem de vigiar a comunicação social. A sério. Embora o negue, entre os dentes, é este o instrumento utilizado pelo governo para directa ou indirectamente, controlar o que é dito na comunicação social em Portugal.
É censura, pura e simplesmente. 30 anos depois da Revolução 25 de Abril, os portugueses deixaram-se ser levados por um cabal de fascistas de terceira, cuja política externa é rastejarem-se aos pés dos Estados Unidos da América, que são total e completamente incapazes de entender o dia a dia do seu povo, porque nunca o viveram e que se agarram a políticas de laboratório, enquanto gerem o país como se fosse a cantina do clube dos meninos ricos. Alguém há-de pagar a comida, alguém há-de limpar a porcaria depois da festa.
Por engraçado que pareça, não tem graça nenhuma. Há censura em Portugal. Primeiro, foi o comentarista Marcelo Rebelo de Silva, calado porque falava contra o governo. Depois foi uma avalanche de pressões sobre a rádio, sobre os jornais, sobre a própria RTP, cujo Director de Informação, José Rodrigues dos Santos, se demitiu esta semana por ter divergências com a administração.
Basicamente, o governo em Santanalândia quer controlar tudo que é dito na comunicação social e liberta o Rottweiler Sarmento para se infligir sobre a sociedade portuguesa num acto de hooliganismo político. Se Morais Sarmento foi muita coisa no passado, que o deixou com pancada, por quê é que não lhe deu em arrumar os assuntos sérios e não o seu país? E não falámos em arrumar carros.
Falamos em atacar o que está mal na sociedade portuguesa, nomeadamente a falta de oportunidades de emprego, o grande número de desempregados (baixa para os gestores de laboratório mas altíssimo no seu peso para o tecido da sociedade), o sistema de educação que vê alunos do 10º ano com graves dificuldades com algumas disciplinas, pois não acabaram os programas no 7º, 8º e 9ºs anos, as pensões baixíssimas para enfrentar preços altíssimas e sempre a crescer e por aí fora.
(Toca o telefone) Um momento
De facto vivemos no País das Maravilhas, onde tudo decorre de forma exemplar. O sistema da Justiça é rápido e totalmente transparente, a economia está uma beleza, os desempregados recebem seu subsídio logo no primeiro mês e têm fortes hipóteses de se re-colocarem, a política externa vai de mãos dadas com a vontade do povo, a classe política nos maiores partidos é interessada, informada e competente, sempre com a vontade do povo acima dos seus interesses particulares, a comunicação social está livre.
Viva o Primeiro-ministro, o Lebre de Março! Viva as Santanettes! Viva o Rottweiler, ai desculpem! Viva o Chapeleiro Louco! Venham a Santanalândia, País das Maravilhas, ou será a Lagoa das Lágrimas?
Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru
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