Com medo de repetir

A primeira foi feita pelo vereador mais votado pelo Partido dos Trabalhadores de Ribeirão Preto, a jóia da princesa petista, Beto Cangussu: “O PT virou as costas para a militância e se transformou em partido de um só (sic). Precisamos voltar às origens em Ribeirão Preto e não ser só o partido do Palocci". O partido não é só do Palocci, mas sim dos paloccianos, aqueles que ignoram os compromissos assumidos com o povo brasileiro e, uma vez chegado ao poder, mudaram de lado, de convicções.

A outra constatação vem do prefeito eleito pelo PMDB de Ipatinga, Sebastião Quintão, no Vale industrial mineiro: “É emocionante ver o povo, os verdadeiros detentores do poder, dizendo e repudiando àqueles que um dia a eles se apresentaram com objetivo de mudança, mas que, no poder, se embriagaram com o próprio egoísmo, perdendo assim o perfil sonhado pela população”. O PT achou que podia fazer tudo aquilo que vem fazendo até agora e que ainda assim sairia impune destas eleições.

Na Bahia, depois de ignorar o candidato do partido e ‘jantar’, se fartar, com Antônio Carlos Magalhães, o Lulinha paz e amor jogou uma pá de cal na candidatura do companheiro de partido e lutas Nelson Pellegrino, levando assim, o candidato do Toninho Mavaldeza, César Borges, para a disputa do segundo turno com o brizolista João Henrique, em Salvador. No Ceará, a destemida deputada petista Luizianne, depois de ser ignorada e jogada para as cobras por toda a cúpula petista durante a campanha, chegou heroicamente ao segundo turno, dando um tapa-de-luvas nos homens duros do núcleo duro do poder central. É isto que o povo está repudiando nas ruas, o egoísmo e pedantismo petista. É a multa cobrada do partido por excesso de ‘velocidade’ e arrogância.

Nas cidades onde o PT governa há um certo tempo, e o povo o conhece muito bem, foi uma enxurrada de reprovação contra o modo petista de governar. A começar por Ribeirão Preto, terra do bucéfalo Palocci, onde o atual prefeito petista ficou em terceiro lugar na corrida eleitoral, um vexame. Em Campinas, Franca e Piracicaba não deram nem para o cheiro, perderam todas. Vicentinho, o grande herdeiro do sindicalismo de Lula, coitado, foi esmagado em São Bernardo do Campo, lá mesmo, pela dúvida que o eleitor começa a ter dos companheiros de Lula. Vicentinho perdeu por 22,88% contra 76,37% do candidato do PSB. Em São José dos Campos e Sorocaba idem, na baixa santista foi a mesma sova. Das 96 maiores cidades do país, entre as 29 prefeituras que o PT já havia conquistado, só conseguiu se manter no poder em dez. Dos 17 deputados da bancada petista que disputaram cargos nestas eleições, apenas cinco tiveram sucesso. No centro industrial mineiro, perdeu em Ipatinga, João Monlevade e Betim. Na doce Governador Valadares também. Então, o crescimento do PT se deu, em sua maioria, em cidades que, até então, não passaram pelas suas mãos. Daqui há quatro anos, faremos uma nova avaliação deste quadro.

Nestas eleições, ficou claro que o povo virou as costas para o Partido do governo Lula, o saudoso partido que era dos trabalhadores, pois o PT só cresceu onde ainda não havia chegado ao poder, o que é, no mínimo, estranho. Marta Suplício que o dia. Nas nove capitais que o partido ainda disputa o segundo turno, seus candidatos chegaram em segundo lugar em seis, muito mais da metade.

Ainda assim, os empedernidos homens de Lula comemoram o ‘crescimento’ do partido, exaltando a máxima da quantidade em detrimento da qualidade. O PT de agora, nem de longe lembra o PT de outrora, o partido que hasteou dentro de muitos a bandeira vermelha e acesa da esperança.

Petrônio Souza Gonçalves jornalista e escritor e-mail: [email protected]

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