PCP: Os ventos de mudança

O Secretário-Geral do Partido Comunista Português, Carlos Carvalhas, anunciou hoje, após 12 anos no lugar, que vai abandonar o posto no próximo Congresso do PCP entre 26 e 28 de Novembro.

"12 anos como secretário-geral, mais dois anos como secretário-geral adjunto. São 14 anos. Não se trata de divergências nem de cansaço", explicou o líder comunista hoje nos Açores, acrescentando que nunca entendeu que o cargo seria eterno, e que entendeu que seu ciclo político tinha terminado.

E bem. O consulado de Carlos Carvalhas a frente do PCP viu o partido passar com cada ano dum partido com intervenção verdadeira na vida política em Portugal, a um partido com uma intervenção virtual.

No entanto, não podemos ser cruéis demais. Virtual, sim, mas também constante. Carlos Carvalhas conseguiu manter a voz do PCP activa e audível e não deixou o partido morrer completamente. Tentou formar um diálogo e não uma ruptura com os Renovadores Comunistas e conseguiu que o partido se mantivesse activo e dinâmico nos anos em que sistemas de governação comunistas caíam amiúde. Porém, conseguiu criar uma realidade política em que o PCP seja uma realidade hoje em Portugal, com boas perspectivas de futuro, enquanto noutros países deixaram o ideal morrer.

No entanto, pouca gente, e Carlos Carvalhas está presente entre este grupo, conseguiu comunicar a mensagem às populações que os grandes objectivos do Partido Comunista foram realizados, e foram realizados a 100%: paz, direitos iguais, democracia, e por aí fora, mas que há muito mais a fazer.

Tendo-se assumido há muito tempo, e muito bem, como partido que não estava obcecado em ganhar o poder, o PCP de Carvalhas pecou em não comunicar a mensagem que estava à procura de novas lutas, de novos objectivos, de novas gentes, de novos membros e mais novos, mais jovens.

As críticas de há três anos atrás aqui nas páginas da PRAVDA.Ru, então na versão inglesa (porque a portuguesa ainda não existia), que o PCP estava a tornar-se num dinossauro político em vias de extinção, foram muito mal recebidas no seio do PCP, embora tenham sido escritas com muito amor e com muita boa vontade, na intenção de ajudar por criticar. Sinal duma linha histórica pouco inteligente e pouco modernista. Morte assumida. Legado de Carvalhas.

A verdade actual é que o PCP se mantém vivo, se mantém activo, tem um eleitorado entre os 4 e os 9 por cento da população de Portugal, tem bases, tem um aparelho municipal invejável e tem boas perspectivas para uma excelente continuação.

O que tem de fazer é passar a mensagem que o excelente trabalho a nível municipal pode também ser uma realidade num palco nacional mas não é por ler discursos, hoje em dia, que se passa esta mensagem. É preciso ir mais longe, ir mais além. Procurar um candidato que galvaniza a juventude (o futuro), que vai buscar rumos actuais da política do partido, falando em termos do século XXI e não só revolucionários (o presente) mas sem trair as vitórias, as grandes e muitas vitórias da revolução (o passado).

PRAVDA.Ru fez muitos inimigos no seio do PCP durante o consulado de Carlos Carvalhas por criticar o partido com o intuito de o ajudar, se bem que a média fez um espectáculo a volta disso.

Não é por isso que a liderança de Carlos Carvalhas vai passar um mau bocado nas nossas páginas. Ele soube manter viva a esperança no rumo da massa associativa do partido, ligou o passado ao presente e soube retirar-se a tempo de entrar na história política portuguesa com pontos positivos, embora nunca tenha vencido nada.

Agora é preciso o PCP abrir os olhos, melhorar a imagem comunicativa e, pelo amor de Deus, aceitar uma crítica construtiva, bolas!!

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Pravda.Ru Jornal
X