Posições e Oposições

O Primeiro-ministro não eleito, Santana Lopes, vai ao Brasil. Seu colega na coligação, Paulo Portas, tem atraído a oposição de todos pela sua posição sobre o barco do aborto. Entretanto, nos partidos da oposição, o Partido Socialista está dividida em três facções na véspera de escolher um novo líder e o PCP admite que perdeu sensivelmente metade dos militantes nos últimos anos. Resta o Bloco de Esquerda, que faz oposição coerente e constante e vê aumentar gradualmente suas bases.

É bem sabido que o novo Primeiro-ministro de Portugal gosta de mulheres, e o Ministro de Defesa, Paulo Portas, nem tanto. Por isso não surpreende que Santana decide ir passar três dias com as belezas em Rio enquanto Paulo Portas envia dois navios de guerra para impedir que as Mulheres sobre Ondas (Women on Waves, ou WoW) do barco de aborto holandês entrem em águas territoriais portuguesas.

Dois navios de guerra contra um barco cheio de mulheres, que distribui pílulas do dia seguinte a grávidas? O WoW foi convidado por algumas organizações portuguesas e distribui a pílula que provoca uma menstruação a mulheres que estão atrasadas no período por 14 dias.

Podendo operar em águas internacionais, onde as mulheres que querem seus serviços podem aceder a esses, o barco foi impedido de entrar nas águas territoriais portuguesas por uma corveta e um navio patrulha da marinha portuguesa. Por atentado à saúde pública.

A distribuir umas pílulas?

E aqueles que entram cá com toneladas de cocaína, heroína e haxixe? Cadê os navios no caso deles? Ou será que estes são crocodilos que voam muito baixo?

Santana por sua vez não quer nada a ver com isso. Se as mulheres não podem entrar em Portugal, lá vai ele à procura delas, desta vez em Brasília e em Rio de Janeiro, onde vai comemorar a independência do Brasil, sendo o primeiro Primeiro-ministro português a celebrar o Grito do Ipiranga, com o qual em 1822, o então Príncipe regente Pedro (mais tarde Pedro IV) gritou “Independência ou Morte!” Foi a separação do filho Brasil da mãe Portugal.

Convidado pelo Presidente Lula da Silva, Santana Lopes faz bem aproveitar o convite e tirar uns dias e deixar Portas ficar com a porcaria que ele fez, e continua fazendo.

Se o governo está dividido entre dois continentes, o Partido Socialista está dividido entre três candidatos, o poeta-deputado Manuel Alegre, que pede um pacto de não agressão nos dois dias antes da escolha do novo líder do maior partido da oposição, João Soares, o ex-Presidente da Câmara de Lisboa, ambos da ala esquerda do partido, e José Sócrates, o eficiente ex-Ministro do Ambiente, com conta com o apoio dos pesos-pesados do partido, como António Costa, ex-líder parlamentar do PS, que aperceberam onde o poder está centrado.

Por sua vez, Carlos Carvalhas, líder do Partido Comunista Português, quase não tem militantes com quem falar, tendo já perdido nos últimos anos sensivelmente metade dos membros do seu partido, de acordo com um estudo divulgado há dias. Por isso, em vez de criticar seu próprio partido por ter falhado na procura de encontrar novas soluções, novas ideias e novas políticas, critica agora o Presidente por ter colocado este governo de coligação no pedestal sem uma eleição geral depois de José Barroso ter fugido para Bruxelas.

No entanto, há sinais positivos para a esquerda: o número de militantes activos do PCP está a aumentar, como também está o número de apoiantes do Bloco de Esquerda. A notar também, a franqueza com que o PCP enfrenta esta divulgação potencialmente catastrófica. Bom sinal.

Infelizmente para esses dois partidos, em momentos de grande contestação política, o voto português habitualmente se polariza entre os dois grandes, o PSD e o PS. Ou será que o povo já está tão farta de “alternativas à direita” que é desta que vamos ver uma votação decente na esquerda?

A ver se daqui a 18 meses o carisma de Santana será superior à filosofia da estratégia política de Sócrates, se Carvalhas conseguirá falar com convicção e não simplesmente ler os seus discursos e se o Bloco de Esquerda se virá firmemente implantado no cenário político em Portugal. Pelos vistos, é a única certeza desde já.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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