As oposições

O primeiro adversário político que Santana Lopes enfrenta é o próprio. Chegou à chefia do governo dizendo que iria fazer uma remodelação, diminuindo sua estrutura…e o resultado é mais ministros e mais secretários de estado.

Santana, opositor a ele próprio

Santana Lopes, como esperado, entrou disparando em todas as direcções, adiantando-se com uma proposta de descentralizar o governo (que não é uma prioridade política nesta fase do campeonato) e acabou por ter de fazê-lo mesmo, para não ser rotulado de fala-barato ou inconsistente. Assim seis secretariados de estado serão colocados fora de Lisboa, obrigando seu pessoal à obrigatória deslocação, juntamente com as suas famílias, ou então desfazer as famílias e viverem separados, vendo-se aos finais de semana para uma conversa tipo “Olá! Tchau! Beijinhos! Não faça nada que eu não faria” …ou entrar na estatística como novos desempregados.

O efeito Portas

O segundo grande adversário de Santana Lopes (embora ainda ele não o saiba), é o líder do Partido Popular (em nome, mas não em votos), Paulo Portas, um venenoso político com uma adrenalina maldosa a cursar nas suas veias, a personalização da figura “Jabba the Hutt” da Guerra das Estrelas, que vive rodeado por sicofantas e que come tudo ao seu redor.

Contrariando o protocolo e as normas em vigor há décadas em Portugal, Portas já tinha anunciado os secretários de estado no seu Ministério da Defesa ainda antes da tomada de posse do governo de Santana. Mau presságio.

O PSD

Seria um grande erro afirmar que a votação quase unânime a conduzir Santana Lopes à liderança do PSD na última reunião do partido é um sinal que não há anticorpos contra ele no partido que ele lidera.

A verdade é que o PSD acredita que ele é a única hipótese de angariar qualquer popularidade, dado seu carisma e poderes de comunicação. Contudo, o facto que a sua Tomada de Posse fosse atrasada por 55 minutos por causa duma mudança de planos à última hora imposta pelo partido e contra as escolhas de Santana, dá lugar à noção que o aparelho do PSD adoptou uma posição “esperar e ver” o que Santana faz.

O Partido Socialista

Quanto ao maior partido na oposição, o PS, o antigo líder Eduardo Ferro Rodrigues não sobreviveu à decisão do Presidente (também PS) optar por Santana em vez duma nova eleição, assumindo a decisão como derrota pessoal e demitindo-se…à espera das eleições presidenciais?

José Sócrates, o energético ex-Ministro do Ambiente, que iniciou a sua carreira política do JSD (Jovens Sociais Democratas), já deu provas que tem grande competência executiva e habilidade política e aparece como candidato do centro do PS. Na ala esquerda deste partido, surgem dois nomes para disputar a liderança, João Soares (filho de Mário Soares, ex-PM de Portugal e Presidente por duas vezes) e Manuel Alegre (fundador do PS, deputado, vice-presidente do partido, autor e poeta).

João Soares é muito mais do que simplesmente filho do seu pai. Foi discutivelmente o melhor Presidente da Câmara de Lisboa de sempre, dando provas que ele lê os dossiers, deixando trabalho feito e que sabe liderar uma equipa competente.

Manuel Alegre entende que se deve candidatar como alternativa para provocar um debate interno, levantando todas as ideias que fundamentam o PS. No entanto, embora nunca haja vencedores antecipados a uma eleição democrática, é Sócrates que aparece como o grande favorito a enfrentar Santana daqui a dois anos na eleição legislativa.

A esquerda assumida

Nos partidos da esquerda (porque em Portugal o Partido Socialista é da direita), o CDU (Coligação Democrática Unitária, formada pelo Partido Comunista Português e o Partido Ecológico os Verdes) adopta um discurso coerente, afirmando que não é preciso chegar ao poder mas sim, defender as ideias do Partido. Certo. Com uma militância a diminuir e com uma idade média dos membros do partido com cerca dos 60 anos, o PCP, mantendo-se fiel à linha soviética, aparece mais como formação saudosista para a maioria da população e por isso vê sua quota de votação diminuir gradual e constantemente. O Secretário-geral do Partido, Carlos Carvalhas, é um político competente mas sem faísca, espelho de Ziuganov, que enfrenta os mesmos problemas pelas mesmas razões.

Por isso se explica o surgimento do movimento (mas ainda não Partido) dos Renovadores Comunistas, que querem adoptar um discurso menos limitado ao passado e mais virado aos desafios do presente e do futuro.

Com mais vigor, está o Bloco de Esquerda, que não fica constrangido pelas linhas duras do sovietismo, e que pelo menos já consegue igualar o PCP em termos de votação, senão ultrapassá-lo. O BE tem uma militância mais jovem que o PCP e uma fluidez política mais adaptado ao momento actual, conseguindo transpor sua mensagem pelas grandes poderes de comunicação do seu líder Francisco Louça e seu grupo parlamentar. Porém, não se deve cair no erro de dizer que o BE substitui o PCP, porque ambas as formações têm seu espaço e se mantêm fiéis aos seus ideais.

São concorrentes para o voto da esquerda, mas são colegas em oposição à coligação PSD/PP e há que apontar que quer o CDU, quer o BE, fazem um trabalho muito importante na vida política em Portugal e na Europa, onde tendências fascizantes e políticas monetaristas liberais existem amiúde.

Em fim, muitas oposições numa panela política com pouca pressão e ingredientes pouco picantes. Este clima político em Portugal faz lembrar a piada dos dois políticos a discutirem se o plural da palavra “oposição” é “oposiçães” ou “oposiçãos”. O PM resolveu a discussão por dizer “Depende das opiniães”.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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