Nada como dantes no Quartel de Abrantes
Jolivaldo Freitas
No ano de 2020, em pleno drama da pandemia do covid-19 fiz um artigo em que dizia que nada seria como antes após a chegada da moléstia que levava pânico a todo quadrante do planeta, onde morria gente da esquerda., da direita, os isentões, os reacionários, os alienados e até os inocentes. Eu explicava que, claro, que a internet estava – como está - ajudando no enfrentamento solitário da peste. Observava naquela altura que tudo mudou e iria mudar mesmo. “Nada será como antes, amanhã” dizia a canção entoada por Milton Nascimento como um vaticínio e apreendi a canção.
Hoje volto a dizer e repetindo que não será mesmo. No artigo eu garantia que quem se acostumou e pode, trabalhar em casa, vendo que muitas das vezes o resultado foi melhor, sem estresse, sem trânsito e sem pressa, iria brigar para manter este privilégio – coisas para poucos neste intricado mercado de trabalho. Mas, serão milhões que transformarão em escritório o seu apartamento e casa. E hoje, dois anos depois do escrito, é o que se vê.
O dito nada será como antes, vale também para outras bandas, pois muitos patrões acabam de perceber que podem atuar com uma equipe mais enxuta e isso representará perda de emprego para milhares de pessoas, o que é ruim para a economia e para as famílias envolvidas e que passam a fazer parte dois índices do IBGE, longe das planilhas do Banco Central, e vem ocorrendo
Outra assertiva do velho texto é que nada será como antes a partir do momento em que as vendas online se exacerbam e o consumidor passa a confiar que vai comprar e receber e que não será fraudado. Não se pode mais negar. E dizia “Eu mesmo nunca pensei que um dia seria essencial adquirir um mix, embora só tenha usado para cortar cebola, mas tenho certeza que arrumarei outras funções “essenciais” para ele. Pela internet comprei uma bicicleta ergométrica (que ainda não recebi) e que no futuro será um excelente cabide para dependurar roupas, cintos e provavelmente um chapéu Panamá que pretendo comprar via internet, para ir aos sambas “ao vivo”, quando a crise passar”. Um conhecido acaba de comprar um carro elétrico pela internet. Outro comprou uma colheitadeira.
Eu disse à época que “nada será como antes, pois os médicos ganharam expressividade – embora muitos deles se transformem posteriormente em “monstros” – e junto com os outros profissionais que atuam na área da Saúde passam a ter o reconhecimento que merecem, somente pelo fato de terem ido para a linha de tiro neste momento em que a humanidade se mostra frágil e com até certo teor de humildade. Se bem que humildade, na maioria das vezes, vem e passa”. Nessa parte me enganei por que estamos vendo com a desmobilização dos hospitais de campanha levas de médicos, ao invés de serem aproveitados para diminuírem as mazelas no setor de saúde no país, sendo demitidos nos municípios em todo o Brasil. Mas isso só prova que nesse nosso país nem as pandemias conseguem dar jeito em certas coisas.
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Escritor e jornalista. Email: [email protected]
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