Celso Teixeira Brant - um inconfidente

Nasceu Celso Teixeira Brant a 16 de dezembro de 1920. Filho do farmacêutico José Ferreira de Andrade Brant Neto e de dona Maria Amália Teixeira Brant, herdou da cidade natal, Diamantina, Minas Gerais, a alma enevoada pelos diamantes da nossa história. Sabia exatamente o valor da sua terra e fez disso, até o último minuto de vida, razão única da sua existência.

Era menino ainda, quando vi aquele homem de idéias e palavras claras, falando pela TV ao Brasil da nossa condição social e política. Pelo PMN, fundado por ele em 1985, Partido da Mobilização Nacional, disputou a presidência da República em 1989. Como depois me confessou, queria naquele momento apenas levar por meio do horário político gratuito as informações básicas que faltavam aos brasileiros, do País colônia, do País que ainda não encontrou o seu verdadeiro caminho, a soberania.

Desde então, passei a admirar aquele homem de idéias claras e palavras raras; o brasileiro herdeiro direto do sonho libertário de Tiradentes, um inconfidente moderno.

Tempos depois, o encontrei num supermercado de Belo Horizonte, queria cumprimentá-lo, coisa que não fiz. Outra feita, numa rede de TV, enquanto falava as coisas mais sérias com aquela leveza que lhe era peculiar, não perdi a oportunidade. Ele sempre gentil, mineiramente.

Mas, para minha surpresa, viria encontrá-lo de forma definitiva para selar aquela admiração que se convertera desde sempre em amizade. Estava na terra do nosso dileto amigo, o embaixador José Aparecido de Oliveira, dentro de uma igreja centenária, depois de algumas comemorações na cidade, quando, inesperadamente, surgiu ele por detrás do altar com um sorriso de felicidade. Ali, dentro da igreja, bem ao pé do Caminho do Ouro, começamos uma conversa acerca das suas idéias, conversa que durou até hoje. Ele falando, eu perguntando, bebendo aquelas palavras na fonte. Pela boa prosa, me convidou para acompanhá-lo durante o almoço, convite que foi para mim uma honra. Afinal, almoçar sabedoria é um cardápio indispensável.

Já tarde finda, marcamos um novo encontro em Belo Horizonte, na Secretaria do Trabalho, seu posto dentro do governo de Itamar Franco. Ficamos conversando durante horas e, ao final, me convidou para participar do seu novo movimento: A Nova Inconfidência. Ali, à sua frente, assinei a ficha de adesão, entrando para a confraria dos novos inconfidentes. Era um homem da mobilização. A partir daí idealizamos projetos, escrevemos sonhos e buscamos acreditar nas causas do coração. Ele sempre lutando pelas causas impossíveis. Era um jovem idealista de 83 anos, renascido em suas verdades.

O jornalista Hélio Fernandes, seu dileto amigo, assim escreveu: “Se me pedissem para definir Celso Brant em três palavras não convencionais, eu diria: Invulgar. Singular. Fascinante”. Era tudo isso e muito mais, um ser humano que viveu até o último minuto buscando o seu próprio sonho. Um brasileiro nato.

Com idade avançada e já debilitado por um cirurgia no final de 2001, fazia semanalmente três hemodiálise. Quando perguntado se poderíamos adiar os nossos encontros no Movimento, ele era preciso: “Que é isso Petrônio, temos que definir isto com urgência”. Estava mesmo, verdadeiramente e a todo instante, a serviço da pátria. Sobre o ideal mineiro de Tiradentes, respondeu: “Aceitar que a Inconfidência acabou com a morte de Tirantes na forca é o mesmo que admitir que o cristianismo acabou com a morte de Cristo na cruz, quando, de fato, foi ali que começou”. Ele carregou sua cruz para ver o Brasil soberano e dos brasileiros.

Autor da Lei de Remessas de Lucros - que visava nacionalizar a nossa economia – um dos artifícios usados para justificar o descalabro militar de 64, foi cassado pelo Ato Institucional nº 1, em 1964. Ministro da Educação nos venturosos anos de Juscelino, ficou esquecido durante a época em que o plural foi calado pelo ditatorial. Durante este tempo, escreveu livros, vários, fez traduções, pesquisou sobre música e aprendeu a amar cada vez mais sua pátria. Um dia disse: “A única coisa que a ditadura fez com eficácia foi exterminar com o nosso nacionalismo... Onde já se viu nacionalistas de direita matando nacionalistas de esquerda”. Enxergava mais que o mundo das coisas normais.

No último sábado, dia 24 de abril, acordou alegre, acreditando ainda nas causas impossíveis. Fez a barba, tomou banho pela manhã, descansou mais um pouco e almoçou. Depois, foi fazer mais uma hemodiálise, e, de volta para casa, por volta das 20h, à porta do elevador, sentiu-se mal e desfaleceu nos braços do enfermeiro. Levado às pressas para o hospital, o coração cansado de lutas do velho inconfidente, parou. Não estava vencido, estava renascido, convicto da realização do grande sonho nacional, da pátria livre dos párias, do Brasil, que, lá de cima, está ele animando aqui embaixo com as suas idéias, os seus livros, os seus sonhos. Deixou o Movimento A Nova Inconfidência estruturado e o site onde se pode encontrar o seu pensamento puro, mineral, seu cabedal de ouro: www.anovainconfidencia.com.br.

Um dia, depois de várias idéias trocadas na mesa de um bar, ele com 82 anos e eu com 29, me disse, a caminho da sua casa, quando perguntei: - Celso, que propriedade encantatória tinha o Juscelino para ser este mito nacional que ele é hoje... Sem pestanejar, destilou adjetivos sobre o saudoso amigo, finalizando: “Foi uma glória para mim, conviver com um homem como aquele...”. Não sabia ele que glória era a minha de ter convivido como um homem como ele: Celso Teixeira Brant, um patriota. Petrônio Souza Gonçalves jornalista e escritor E-mail: [email protected]

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