Parabéns, 25 de Abril!!

Há precisamente 30 anos, Portugal acordou do pesadelo em que estagnava, do saloiice institucional que queria fazer do país e do povo uma aldeiazinha grande com horizontes limitados.

Muitos são os portugueses que chamam este dia o Dia da Desgraça, principalmente aqueles que perderam seus bens na África, onde o processo de descolonização foi, e é, muito criticado. Culpam o 25 de Abril por isso.

Muitos são os portugueses que fazem comparações negativas com o antes e depois do 25 de Abril, que ficou um ponto de referência em termos de contar o tempo. Lisboa é mais insegura depois, não havia drogas antes, havia mais respeito antes e a juventude é mais insolente depois.

Verdade, inegavelmente mas é injusto culpar o 25 de Abril por tudo. Todos os países são mais ou menos inseguros, dependendo do ciclo sócio-económico que está a passar. No século XIX, em Londres, os homens usavam coleiras de ferro para os proteger contra tentativas de os degolar.

Não foi o 25 de Abril que trouxe as drogas para Lisboa, foram os homens e na abertura da sociedade, o país ficou aberto a correntes vindos de fora. O 25 de Abril fez acordar Portugal e a sociedade portuguesa, trouxe novas oportunidades e igualdade de direitos e pôs um ponto final no mal que foi a Guerra Colonial, que ninguém queria.

Nem estão completamente certas aquelas pessoas que acreditam que o 25 de Abril foi traído. Os dois principais objectivos – a democratização política do país e o fim da Guerra Colonial – foram realizados. Hoje, Portugal tem no Parlamento uma representação fiel da vontade política do seu povo há dois anos (a última eleição). Hoje, Portugal vive ao lado dos seus irmãos na CPLP, comunidade que cada vez mais se une num espírito de cooperação mútua.

Relativamente à descolonização, há que lembrar que Portugal não é uma ilha e que havia forças muito superiores às de Portugal operando contra Lisboa – os recursos de Angola, principalmente, e a posição geo-estratégica das restantes colónias fez com que o Mundo Português de Salazar e Marcelo Caetano fosse um laboratório para os protagonistas da Guerra Fria (Washington, que tentava dominar os recursos do mundo e ainda tenta, e a União Soviética, que tentava contra-balançar).

O quê é que Portugal podia fazer? Tinha de acabar com a guerra, e acabou. Tinha de assimilar cerca de dez por cento da sua população, de dia para a noite, e assimilou, com grande sucesso.

Antes do 25 de Abril, uma mulher não podia viajar para fora sem a autorização do marido, as pessoas não podiam discutir a política em conjunto, as pessoas não tinham a liberdade de ler o que queriam (o pai de Jorge Sampaio incorreu um risco sério em trazer as Obras de Lenine para ele ler), as pessoas não tinham a liberdade de serem eles próprias.

Talvez fosse este o maior feito do 25 de Abril – criou um espaço em que as pessoas podiam crescer como queriam, onde podiam desenvolver a sua sociedade, feito por elas e não pelo regime. Deu ao povo português uma folha branca e uma caneta.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

Agradeço imenso ao poeta Manuel Alegre a honra de poder colocar o poema que ele escreveu há três dias, em homenagem a ele e ao 25 de Abril, pois as palavras dele falam mais altas que as minhas:

Abril com “R”

Trinta anos depois querem tirar o r se puderem vai a cedilha e o til trinta anos depois alguém me berre r de revolução r de Abril r até de porra r vezes dois r de renascer trinta anos depois Trinta anos depois ainda nos resta da liberdade o l mas qualquer dia democracia fica sem o d. Alguém que faça um f para a festa alguém que venha perguntar porquê e traga um grande p de poesia. Trinta anos depois a vida é tua agarra as letras todas e com elas escreve a palavra amor (onde somos sempre dois) escreve a palavra amos em cada rua e então verás de novo as caravelas a passar por aqui: trinta anos depois.

Manuel ALEGRE 22-04-2004

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