Lula: é possível vencer a fome antes do que se espera

Durante a solenidade de abertura da Expo Fome Zero, Lula disse que a feira é uma prova de que com a solidariedade e a criatividade do povo brasileiro será possível vencer o problema da fome "antes do que alguns teóricos esperam". "Acabar com a fome no Brasil é uma questão de tempo. De pouco tempo", foi como ele encerrou seu discurso.

"Nós vamos cumprir a nossa tarefa de acabar com a fome no Brasil, porque, se em um ano nós fizemos o que fizemos, isso significa que nós ainda podemos fazer muito mais", afirmou Lula. "Saio daqui convencido que a trajetória e o compromisso que nós assumimos são irreversíveis e que um belo dia, quem sabe não muito longe, nós estaremos aqui fazendo outra feira para provar que neste país nem um homem, nem uma mulher e nem uma criança deixará de tomar café, almoçar e jantar todo santo dia".

Segundo Lula, as pessoas ficam ansiosas e querem resultados rápidos. Mas ele salientou que, para acabar com a fome, é preciso alterar a estrutura social do país. "Se fosse fácil acabar com a fome, outros já teriam resolvido isso. É difícil, pressupõe mexer na estrutura de distribuição de renda do Brasil".

De acordo com o presidente, no Brasil "moldou-se uma bem azeitada máquina de desigualdade social. Quando se aciona o acelerador da riqueza, se aciona o freio da distribuição". Lula mencionou o fato de o país produzir alimentos suficientes para toda sua população. Disse também que a renda per capita do país "não permite" que ninguém passe fome no país. "Se tem um país no mundo em que não tem razão nenhuma para ninguém passar fome, é o Brasil, porque aqui produzimos além até do que precisamos", disse.

Fundo mundial Lula fez um retrospecto de sua peregrinação pelo mundo em defesa do combate internacional à fome. Ele lembrou que levou a idéia de criação de um fundo mundial de combate à fome à fóruns internacionais. Citando números das transações comerciais, do comércio de armas e dos paraísos fiscais no mundo, Lula disse que, com "uma vírgula" desses valores seria possível resolver o problema da miséria no planeta.

Ele explicou que o Brasil pretende participar da iniciativa, mas não precisa ser um dos países beneficiados pelo fundo. "O Brasil não precisa participar desse programa recebendo ajuda, porque nós temos condições de acabar com a fome sozinhos. Nós vamos fazer esse país dar certo sem precisar pegar dinheiro de fora", garantiu.

Desfile de resultados "Alguns enxergam aqui uma vitrine de filantropia. Eu vejo um grande passo de transformação indispensável de mentalidade", disse Lula sobre o evento, que reúne 138 empresas engajadas de algum modo em projeto de combate à fome. Lula disse que estava tentado a improvisar, mas que iria ler seu discurso "para não pôr para fora toda a emoção do que via ali".

A Expo Fome Zero 2004 foi montada em uma área de 4.500 metros quadrados, onde 138 empresas públicas, privadas, e organizações não-governamentais mostram os trabalhos sociais que desenvolvem. A exposição funciona como uma vitrine para incentivar que outras empresas realizem ações sociais.

Após a apresentação dos resultados obtidos pelas empresas, o presidente ressaltou que a feira mostra que os empresários brasileiros estão dispostos a ajudar no combate à fome e à miséria. O desafio do Brasil, na avaliação de Lula, é produzir riquezas e justiça social ao mesmo tempo. "A solidariedade é fundamental para o desenvolvimento sustentável" disse.

Banqueiros no sertão Lula disse que, quando ficou sabendo que o assessor da presidência, Oded Grajew, convenceu a Febraban (federação dos bancos) a construir 10 mil cìsternas no Nordeste, não ficou tão feliz do que quando encontrou representantes dos bancos inaugurando cisternas em pleno sertão pobre do país. O presidente salientou a mudança de mentalidade que o Fome Zero tem provocado no país. "Não quero ser o indutor disto, mas o provocador", disse Lula.

A erradicação da fome não pode ser vista como uma tarefa restrita ao presidente da República. Esta é a opinião de Lula, conforme a reiterou durante a solenidade desta terça-feira. "O problema não é do presidente do Brasil, pode ser assumido pelo sindicatos, ONGs e empresas", disse Lula à platéia de empresários e demais representantes da sociedade civil "Queremos ser chamados a aplaudir e apoiar, não queremos saber o que estão fazendo", disse.

O presidente destacou que o apoio das empresas foi fundamental para que o Fome Zero chegasse, até agora, a 2.369 municípios, beneficiando 1,9 milhão de famílias. Lula ainda disse que o desfile de empresas no início da cerimônia foi uma forma das empresas dizerem "estamos fazendo o que achamos justo fazer". "É como se dissessem ao governo: não sejam tontos, não se matem sozinhos, não prometam o que não podem cumprir", disse o presidente. Lula disse que as empresas percebem que de nada adianta toda a riqueza de uma corporação, se estiver cercada de miséria coletiva.

Os organizadores acreditam que cerca de 6 mil pessoas devem passar pela feira. Todo o dinheiro arrecadado com o evento será destinado ao Fome Zero. A Expo Fome Zero 2004 vai até o dia 12 de fevereiro e pode ser visitada das 13 horas às 21 horas.

Estréia Segundo o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, o evento deverá estimular a adesão de novos parceiros. Ele considerou esta sua estréia como ministro. A Expo Fome Zero, que começa hoje, nesta capital, comprova que o programa "decolou". Patrus comparou a exposição a um grande mutirão nacional de solidariedade.

"Lula não é daqueles que fazem promessas, mas expressam os sonhos ousados que direcionam o país", declarou Patrus. Ele afirmou que, de sua experiência administrativa em Belo Horizonte, lembra das viagens internacionais em que teve que se justificar para organizações estrangeiras que não entendiam como "um país tão grande e rico" tinha que pedir ajuda internacional para combater a fome. Ele ressaltou que as empresas brasileiras não devem ter "vergonha de serem boas e solidárias".

Doação de coxinhas O idealizador da exposição, Oded Grajew, disse que, quando realizou o primeiro evento para propor o envolvimento das empresas na idéia, ficou muito frustrado. "Tivemos que doar as coxinhas do coquetel para o Banco de Alimentos, de tão poucas pessoas que compareceram", lembrou. Agora, ele comemora o interesse de mais empresas do que é possível abarcar no espaço de exposições.

O Instituto Ethos de Responsabilidade Social, criado por ele, teve muita dificuldade para convencer as empresas a contribuírem com programas sociais. Hoje, a entidade conta com o envolvimento de 800 empresas, enquanto a feira só pôde expor 138 estandes.

Acompanhado, entre outras autoridades, pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva, do presidente do conselho nacional do Sesi, Jair Meneguelli, Lula soboreou, logo na chegada ao Center Norte, salgadinhos produzidos na "Cozinha Brasil", montada na carroceria de um caminhão. Vários estandes oferecem doces e salgados feitos do aproveitamento de alimentos, como cascas de banana ou de legumes. Após o evento, o presidente seguiu para Brasília.

O presidente chegou acompanhado da primeira-dama, dona Marisa Letícia, e do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho. Também acompanharam o presidente os ministros Patrus Ananias, Luiz Gushiken (Comunicação Estratégica) e Roberto Rodrigues (Agricultura), os assessores especiais Frei Betto e Oded Grajew. Estiveram presentes à cerimônia o vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo (PT), que representou a prefeita Marta Suplicy, o presidente da Ong Apoio Fome Zero, Antoninho Marmo Trevisan e o presidente da Francal, Abdala Jamil Abdala.

Partido dos Trabalhadores

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