Colômbia. O outro rosto da guerra: as mulheres das FARC

Colômbia é um país conservador e machista, porém, entre os intentos de emancipação da mulher nesse país, um dos melhores é o das guerrilheiras das FARC, assegura Oleg Yasinsky, jornalista ucraniano radicado no Chile, quem visitou um dos acampamentos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, exclusivo para Sputnik.

Ali, Yasinsky, quem se encontrava no país latino-americano junto a dois repórteres russos que neste momento preparam um documentário sobre esta organização colombiana, teve a oportunidade de conversar com as guerrilheiras e retratá-las com sua câmara. Segundo o jornalista, aproximadamente 40% dos guerrilheiros das FARC são mulheres, razão pela qual seus estatutos destacam a necessidade de igualdade de gênero.

Foto: Cristina. Sete anos na guerrilha. Participou em vários combates com o Exército

"Seria ingênuo afirmar que o machismo nas fileiras [das FARC] desapareceu totalmente; porém entre eles é muitíssimo menor que nas zonas rurais dos lugares mais remotos da Colômbia", explica o jornalista.

Milena. O pai de seu filho Adrián morreu num combate sem poder conhecer ao pequeno

As relações entre os homens e as mulheres das FARC são muito francas e cada pessoa tem o direito de eleger seu/sua parceiro/a, de viver com ele/ela ou de se separar.

"Ao mesmo tempo, a moral revolucionária professada pelos guerrilheiros cultiva o lado romântico das relações, sem acolher o desenfreio sexual ou o hedonismo", observa Yasinsky.

Patricia. Comandante de esquadra. Combateu por 20 anos junto a seu esposo. Seu filho de onze anos vive em Medellín

Segundo o jornalista, as FARC, entre outras coisas, se convertem numa alternativa para as meninas, as jovens e mulheres da Colômbia que veem a guerrilha como um escudo de proteção contra a exploração sexual e a prostituição, negócios controlados tanto pelo narcotráfico como pelos altos mandos do Exército colombiano, de acordo com várias organizações defensoras dos direitos humanos.

"A participação massiva de mulheres no movimento guerrilheiro é, por sua vez, uma resposta e uma alternativa a essa realidade".

Entre as mulheres que Yasinsky conheceu em sua viagem se encontravam alguma menores de idade, as quais não podia entrevistas, pois, segundo os acordos de Havana, os menores de idade de encontram em processo de abandonar as fileiras das FARC e devem ser entregues à Cruz Vermelha e à ONU.

Não obstante, diferentemente do que dizem os meios de comunicação, explica Oleg, "os adolescentes se unem aos guerrilheiros de maneira totalmente voluntária. Sua motivação, evidentemente, não é ideológica; a eles lhes interessa a possibilidade de receber educação [...] e comida três vezes ao dia".

"Quando o comandante em nossa presença reuniu aos menores de idade e lhes informou que era necessário separar-se, no marco do acordado em Havana, eles receberam a notícia com tristeza, algo incomodados; se lhes teve que explicar que ninguém os estava expulsando da organização, que o contato e a amizade continuarão e que em breve todos os guerrilheiros se converterão em civis, porém que a organização revolucionária deve ser honesta e deve cumprir com os compromissos adquiridos".

Essa foi a outra realidade que o jornalista encontrou em sua viagem. Dois dias depois de Oleg Yasinsky abandonar o acampamento das FARC, a 24 de agosto foi anunciado, na capital cubana, o fim de quatro anos de negociações e o esperado acordo de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e o Governo. É possível que na próxima vez que estas mulheres vejam a lente de uma câmara, seja nas ruas de uma Colômbia em paz.

 © FOTO: OLEG YASINSKY

 

Tradução: Joaquim Lisboa Neto

 

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