Direção da CUT engrossará ato do dia 10 contra o FMI

A maior central sindical brasileira (3.326 sindicatos e 22 milhões de trabalhadores na base) apontou pontos positivos mas também aqueles que urgentemente precisam ser mudados, a começar pelo acordo com o FMI.

A Direção exigiu, por unanimidade, que o governo não faça a renovação do acordo com o FMI, contrariando a indicação feita pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. A defesa da posição foi feita pelo próprio Luiz Marinho, presidente da CUT desde o 8º Congresso. A CUT também manteve posição contrária à adesão do Brasil ao acordo da Alca e vai participar das iniciativas da sociedade visando sua rejeição, inclusive a proposta de um plebiscito oficial para deliberar sobre o tema. E deliberou sobre uma campanha pela redução da jornada e a valorização do trabalho, entre outras bandeiras para 2004.

Balanço com prós e contras

No documento aprovado, a maioria dos 115 membros da Direção avaliou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no seu primeiro ano de mandato, vem procurando implementar medidas destinadas a reduzir os impactos negativos da política macroeconômica, entre elas, voltadas para redução das taxas de juros e ampliação de crédito, a exemplo do crédito consignado com desconto em folha. Outro aspecto positivo bastante citado foi a política internacional.

No entanto, a Direção chama atenção sobre os prejuízos causados, como o crescimento do desemprego, a queda da renda dos trabalhadores, ampliação da informalidade no mercado de trabalho com impactos importantes sobre o crescimento da violência e da desagregação social. “Na próxima semana, vamos cobrar resposta sobre as nossas propostas de geração de empregos, apresentadas em outubro, ao presidente Lula”, comentou o presidente da CUT.

Ato anti-FMI no Salão Negro

Marinho estava se referindo ao ato marcado para quarta-feira, dia 10, às 14 horas, no Salão Negro do Congresso Nacional em Brasília.

Convocada pela CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais, que inclui além da CUT a UNE, o MST e outros), a manifestação visa expressar a rejeição destes setores ao projeto de renovação do acordo com o Fundo Monetário.

Em uma central onde convivem tradicionalmente diferentes tendências sindicais, reafirmou-se uma ampla maioria defendendo para a central uma postura de independência, apoio ao governo e também crítica.

Quase 90% dos 115 participantes compuseram este bloco — que incluía a majoritária Articulação, a CSC (Corrente Sindical Classista, identificada com o PCdoB), a CSD (CUT Socialista e Democrática, ligada à tendência DS do PT), a ASS (Alternativa Sindical Socialista), a TM (Tendência Marxista).

As vozes discordantes defenderam uma linha de oposição ao governo Lula. Foi a atitude do MTS (Movimento por uma Tendência Socialista, ligado ao PSTU), com 7% dos votos na reunião. E também o da corrente O Trabalho (4% dos votos), embora tratando de se diferenciar do oposicionismo mais estridente do PSTU.

A tomada de posição da Direção Nacional da CUT pode ser vista como uma reação a críticas que vinham se avolumando, sobre a agenda excessivamente "governamental" da entidade, em detrimento da ação direta de massas. O gesto de Marinho, ao defender pessoalmente uma proposta que colide com a da equipe econômica do governo Lula, é eloqüente neste sentido.

O presidente da CUT também foi criticado na reunião, pelos setores à esquerda, por sua aparição em outdoors da Uniban — uma universidade privada de São Paulo. Com gradações de ênfase, os críticos viram na atitude um comprometimento desnecessário daquele que representa a central, e uma contradição com a defesa do ensino público e gratuito.

Pesquisa surpreende com maioria pró-unicidade

O secretário de Organização da CUT, Artur Henrique da Silva Santos, apresentou à reunião os primeiros resultados de uma pesquisa surpreendente, mostrando que 62% das lideranças de base da central defendem a unicidade sindical na base — ou seja, o princípio de uma entidade por categoria e por município, ao contrário da orientação cutista predominante, que defende o plurisindicalismo.

A pesquisa foi feita pela Unicamp em agosto passado, entre os 3 mil delegados presentes ao último Concut (Congresso Nacional da CUT), por encomenda da própria direção da central. Quatro meses depois, sua tabulação ainda não está disponível, mas os resultados preliminares apontam uma maioria de 62% a favor da unicidade na base.

O resultado deve ser levado em conta na conduta cutista face à reforma sindical, pautada pelo governo Lula. O ex-presidente da central e deputado federal Vicentinho (PT/SP), adiantando-se, apresentou um projeto de lei a respeito que defende um plurisindicalismo radical, mas muitos sindicalistas duvidam que ele vá prevalecer.

A CUT aprovou um indicativo neste sentido, ao votar uma proposta do MTS de retirada do Fórum Nacional do Trabalho (FNT), onde a reforma sindical está em debate: além de rejeitar a proposta, aprovou a busca de "uma proposta consensuada" com as outras centrais, onde é forte a defesa da unicidade. Nesta segunda-feira, CUT e Força Sindical têm um encontro bilateral para tentar avançar neste consenso. Segundo o metalúrgico baiano Pascoal Carneiro, um dos quatro integrantes da representação cutista no encontro, a unicidade ou plurisindicalismo na base "ainda é um problema que está pegando", mas ele acredita que é possível superá-lo.

Debate com Lessa e Sérgio Mendonça

Para balizar sua avaliação sobre o primeiro ano do governo Lula, a CUT convidou, para debates, o presidente do BNDES, Carlos Lessa, e o diretor técnico do Dieese, Sérgio Mendonça.

A palestra do primeiro terminou amplamente noticiada nos meios de comunicação, devido ao trecho em que, para explicar a postura do Banco sobre empréstimos à Embraer, ele cantarolou um trecho do conhecido samba: "Vai ter que rebolar, rebolar, rebolar". Entretanto, foram bem menos noticiadas partes mais substantivas, como ao se referir aos índices de ações que sobem sempre que aumentam os boatos sobre sua demissão.

Lessa informou que o BNDES pretende mudar bastante suas prioridades num futuro próximo. Agora, passará a investir em conglomerados de pequenas e micro-empresas, criando pólos em determinadas áreas do país - foram citados um de tênis e produtos esportivos, em Minas Gerais, e outro de confecções, no Ceará. Ele colocou o banco à disposição dos sindicalistas para examinar projetos e parcerias, enquanto tecia críticas ao modelo do banco do povo. Saiu aplaudido e muito elogiado, por um público em geral muito exigente.

O diretor técnico do Dieese já é um antigo conhecido do universo sindical, onde conta com luz própria. A rigor, ele é hoje ex-diretor do Dieese, pois está assumindo um posto no governo federal, onde será encarregado da interlocução permanente com os funcionários públicos.

Mesmo assim, não dourou a pílula. Afirmou que a política econômica precisa mudar. E fundamentou a afirmação com números como este: apenas um quinto das categorias de trabalhadores conseguiu aumento de salário em 2003, e mesmo estas tiveram aumentos de no máximo 2%.

Diário Vermelho

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