Hipocrisia ou Causa Justificada?

Ou pelo menos é isso que as autoridades portuguesas querem que acreditamos. Aquilo que começou como reportagem sobre a profissão mais antiga do mundo no país mais a sudoeste do continente europeu tornou-se numa chinfrineira entre o primeiro ministro adjunto português e uma das revistas mais respeitadas de actualidade.

A reportagem da revista Time falou sobre as actividades dos homens de Bragança, o distrito mais nortenho de Portugal, as suas mulheres e dezenas de imigrantes ilegais que lá foram para ganhar dinheiro para enviar para casa.

Uma reportagem aparentemente inócua na superfície até considerarmos que há homens a pagar imigrantes ilegais brasileiras e do leste europeu para satisfazer os seus desejos carnais. As suas mulheres indignadas têm organizado protestos e baixos-assinados com o objectivo de obrigar o fecho das casas de alterne e bares de strip onde trabalham estas raparigas. Talvez as auto denominadas ‘Mães de Bragança têm ciúmes; talvez faltam-lhes o ‘look’ atraente de uma jovem brasileira ou romena; talvez estejam chateadas que já não conseguem competir após anos de parir filhos e abuso de comida demasiadamente pesada.

Mas será que este tipo de comportamento não existiu desde sempre? Um ritual de iniciação para o adolescente acanhado; uma noite de divertimento para a despedida de solteiro do rapaz de vinte e cinco; companhia para o ainda solteiro trintão; prova que o gordo de meia-idade continua a ter desejos Então porquê a polémica?

Futebol. O grande jogo. Portugal foi dada a honra duvidosa de ser o país anfitrião do campeonato europeu do próximo ano e tanto ministros como oficiais de turismo têm gasto milhões de Euros a promover Portugal como uma nação moderna que oferece mais que o tradicional sol, mar e sexo fácil dos outros destinos turísticos sul europeus. Dizem-nos que Portugal tem cultura, religião, monumentos, golfe, boa comida, bons vinhos e um espirito de boas vindas sem comparação (mas, se não se importar, não das prostitutas). O resultado é que o problema da prostituição esta a ser disfarçado, ‘esquecido’, a mentalidade de achar que quando o problema deixa de ser visível deixa de existir é aquela prevalecente. Mas isto é provavelmente a mentalidade da moda em vez de ser por maldade.

Portugal tem sofrido décadas de falta de investimento nas suas infra-estruturas, e políticas sociais e habitacionais. Tem uma das taxas mais altas da Europa de alcoolismo e toxico-dependência. Tem uma das maiores diferenças entre os mais ricos e mais pobres do mundo, portanto esbanjar dezenas de milhares de Euros em estádios novos parece ser um pouco anormal. Será mesmo apenas um exercício em auto-promoção? Parece ser, pelo menos após a reacção à reportagem da Time.

A prostituição não é nada de novo. Existe em todos os países desde Afeganistão a Zimbabué. Então porquê a vergonha? A Holanda não foi um dos países anfitriões do ultimo Euro? Como todos sabemos, Amsterdão tem uma das zonas de alterne mais famosas do mundo. Talvez é apenas sinal que Portugal ainda não é um país suficientemente maduro para receber a atenção dos media internacionais, quer seja boa ou má. Se for mesmo este o caso, nenhumas tentativas de esconder os problemas sociais funcionarão. Primeiro que resolvam os problemas, e depois pensamos na festa.

Johan du Toit

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