O deputado João Teixeira Lopes apresentou hoje um requerimento ao Ministério da Educação questionando a decisão de não permitir o alargamento da Escola Básica das Aves (Escola da Ponte) ao 3.º ciclo, uma decisão que coloca em causa a continuidade de um projecto educativo cuja validade e qualidade são manifestamente reconhecidas nomeadamente pela Comissão de Avaliação Externa nomeada pela tutela.
Como é do conhecimento público, a recente decisão dos pais de não permitir o início do ano lectivo nestas condições, bem como a recusa dos docentes em leccionarem num projecto que, assim, vê as suas hipóteses de continuidade pedagógica cerceada pelo Ministério da Educação, atesta bem do nível de confiança e reconhecimento de que a escola goza na comunidade em que se insere.
Perante um caso de reconhecido valor e sucesso educativo, como é manifestamente o caso desta escola, assume contornos particularmente gravosos que o Ministério da Educação persista em sacrificar a qualidade do percurso educativo dos alunos à conformidade a uma cega política de contenção orçamental.
O Bloco de Esquerda espera pois que, perante a recusa dos docentes em leccionarem com um projecto educativo interrompido a meio, entenda o Ministério da Educação o alcance deste sua inqualificável decisão, possibilitando o alargamento deste projecto ao 3.º ciclo do ensino básico
Segue o requerimento apresentado pelo deputado João Teixeira Lopes
Requerimento
ASSUNTO: Possível encerramento da Escola Básica Integrada das Aves.
Apresentado por: João Teixeira Lopes, deputado do Bloco de Esquerda
Dirigido ao: Ministério da Educação
Data: 4 de Setembro de 2003
A Escola da Ponte, em Santo Tirso, destacou-se nos últimos anos por uma prática pedagógica inovadora e, paralelamente, pelos bons resultados obtidos pelo projecto educativo Fazer a Ponte. Por forma a garantir a continuidade deste projecto e a sequencialidade do percurso educativo dos alunos foi criada, em Agosto de 2001, a Escola Básica Integrada das Aves, a qual ampliou os seus objectivos ao 2.º ciclo.
A originalidade e validade dos métodos utilizados na Escola das Aves são, de há muito, comprovados pelo crescente números de estudos efectuados por várias unidades de investigação na área das Ciências da Educação. O exemplo desta particular escola tem vindo a ser crescentemente utilizado em casos de estudo apresentados em vários colóquios alguns dos quais organizados pelo Conselho Nacional de Educação.
Na sequência de recomendações da Direcção Regional de Educação do Norte, entendeu o Ministério da Educação criar uma Comissão de Avaliação Externa (CAE) - para a qual foi celebrado um protocolo com a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra - tendo em vista a elaboração de um estudo de avaliação do projecto educativo da Escola Básica Integrada das Aves/S. Tomé de Negrelos. A título de exemplo, transcrevo aqui algumas das conclusões a que chegou a CAE:
A CAE foi confrontada, no caso da EBI das Aves/ S.Tomé de Negrelos, com um exemplo, não de um mero projecto ou plano eventualmente virtual, mas com um Projecto-acção e avaliação da acção, com objectivo e elementos constitutivos vem definidos e apoiados;
Foi patente que os representantes dos pais presentes e, por extensão, os pais dos alunos da EBI das Aves/S.Tomé de Negrelos escolheram conscientemente o Projecto Educativo para os seus filhos, valorizando as suas características distintivas, como a forte componente de educação para a cidadania;
A existência de um conjunto de docentes altamente motivados e empenhados no processo de acompanhamento dos alunos na respectiva aprendizagem;
A presença de um acentuado espírito de corpo e de identificação com o Projecto por parte de docentes e alunos;
Convém realçar ainda que os resultados obtidos pelos alunos nas provas de aferição realizadas em 2000 e 2001 são, em 9 dos 12 itens avaliados, superiores à média regional e nacional. Mais, em pelos menos dois destes indicadores, esta distinção assume valores extraordinariamente elevados, registando os alunos da Escola das Aves 24 e 47 pontos percentuais acima da média nacional.
Sucede que, contrariando todas as leituras possíveis do relatório apresentado pela comissão, a tutela optou por não autorizar a abertura do 7.º ano, decisão que põe necessariamente em causa a continuidade do projecto, mais não seja porque a maioria dos alunos desta escola se situa exactamente no 2.º ciclo.
Ao contrário do que ontem afirmou o Ministro David Justino na TSF não existe nenhuma escola na mesma área com semelhante oferta educativa - como o comprovam as conclusões da CAE e o comunicado entretanto emitido pela Associação de Pais. Perante um caso de reconhecido valor e sucesso educativo, como é manifestamente o caso desta escola, assume contornos particularmente gravosos que o Ministério da Educação persista em sacrificar a qualidade do percurso educativo dos alunos à conformidade a uma cega política de contenção orçamental.
Espero pois que, perante a recusa dos docentes em leccionarem com um projecto educativo interrompido a meio, entenda o Ministério da Educação o alcance deste sua inqualificável decisão, possibilitando o alargamento deste projecto ao 3.º ciclo do ensino básico.
Nestes termos, solicito junto de V. Exas. o esclarecimento, o mais breve possível das seguintes questões:
1- Que entendimento faz o Ministério da Educação dos protocolos técnicos que contratualiza com unidades externas de referência, como é o caso da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, se, como é o caso, toma medidas que não obtêm validação nas conclusões e recomendações efectuadas?
2- Como pode o Ministério da Educação invocar a não conformidade do alargamento ao 3.º Ciclo com a nova Lei de Bases da Educação, se, como se sabe, esta ainda está em discussão na especialidade, razão que me parece suficiente para que não seja possível, no dia 4 de Julho, conhecer o seu desfecho final?
3 Que medidas pretende diligenciar o Ministério da Educação, e que não são perceptíveis no despacho emitido em 04 de Julho de 2003, para que sejam melhoradas as condições físicas da Escola Básica Integrada das Aves/S. Tomé de Negrelos, conforme recomendação da CAE?
O Deputado do Bloco de Esquerda,
João Teixeira Lopes
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