Nota cultural – filme sobre Nelson Freire

Agora é a vez de “Nelson Freire”, que acaba de entrar em cartaz em São Paulo. O documentário do veterano diretor João Moreira Salles põe em foco um famoso pianista brasileiro, tão pródigo em sua interpretação musical, quanto reservado em sua vida pessoal.

Nelson Freire foi uma criança muito doente, que talvez tenha utilizado a música como refúgio e fonte de prazer e reconhecimento - não podia, por exemplo, brincar, nem andar descalço como as outras crianças. Já aos sete anos, Freire dava recitais aplaudidíssimos no Rio de Janeiro. Desde então, sua carreira foi uma sucessão de sucessos e elogios, arrancando lágrimas e recebendo convites no mundo inteiro.

Para quem gosta de música clássica, o filme é extremamente prazeiroso. Pode-se ver de perto os dedos ágeis deslizando no teclado e escutar trechos de recitais realizados por ele em diversos países. Outro ponto forte do filme é conseguir arrancar alguns depoimentos do pianista – que costuma se negar a dar entrevistas, fato diversas vezes lamentado pelo jornal New York Times. João Moreira Sales conseguiu captar alguns momentos da intimidade do músco, como tiradas bem humoradas e desabafos.

Mas uma dúvida fica na cabeça do espectador. Será que o filme agrada apenas porque o pianista e a música são bons ou porque se trata de bom cinema, com boas sacadas do ponto de vista da linguagem cinematográfica? Difícil responder, neste caso talvez estejam presentes ambas as coisas. Mas esta é uma armadilha na qual sempre se pode cair, quando se trata de documentários. Nem sempre é fácil distinguir forma e conteúdo, ou avaliar o tratamento visual de maneira separada do assunto tratado – especialmente se o assunto for sedutor. Nem que seja apenas para recolocar esta questão e para regalar os ouvidos do público, “Nelson Freire” vale a pena!

Ilana GOLDSTEIN PRAVDA.Ru BRASIL

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