Opinião: Uma pergunta sem resposta

Até quando? Esta tem sido a pergunta feita por muitas pessoas a respeito da atual crise aérea, após o segundo grande acidente com aviões em dez meses. A resposta talvez fosse simples, houvessem sido tomadas providências há alguns anos para uma correção de rumos, um planejamento.

Os desvios administrativos deste nosso enorme país vêm sendo acumulados durante sucessivos governos; em 2001, quase ao final do segundo mandato de Fernando Henrique, houve o blecaute, com racionamento de eletricidade, que hoje se repete mais dramaticamente a Argentina.

Apesar de dura, a lição simplesmente não foi aprendida nem lá nem cá, pois estamos sob risco de novo apagão por volta de 2011. No que diz respeito à segurança aérea, alertas vêm sendo feitos desde 2003. Mesmo que não houvesse tempo ou recursos para a ampliação e modernização dos aeroportos, é certo que a questão do controle de tráfego aéreo poderia ter sido administrada, no mínimo, com a não concessão de novas rotas e horários de vôos e a modernização dos equipamentos de radar, comunicações, etc., sabidamente em condições precárias.

Quanto à responsabilidade pelo ocorrido em Congonhas, não é admissível que se tenha chegado a esse estado de coisas; governo, aeronáutica, empresas e pilotos sabiam que a operação naquele aeroporto é arriscada em dias de chuva. Tanto isto é verdade que os pilotos, após a tragédia que todos diziam anunciada, estão evitando pousar no aeroporto central de São Paulo sob chuva. Não é crível que este consenso tenha se formado apenas depois da “revelação” pela tragédia; ele existia, ainda que subliminarmente.

A pergunta “até quando?” se aplica às estradas, onde ocorrem acidentes diários cujos mortos, somados, talvez se equiparem aos do acidente da TAM, embora sem o mesmo apelo emocional; à segurança pública, ao inesgotável apetite dos governos por sangrar os recursos financeiros da sociedade, à nossa atávica carência de boas escolas e professores idem; e tudo mais que se possa imaginar.

Apesar de tudo os brasileiros remam incansavelmente – até quando? – contra a correnteza do Estado pesado, anacrônico, e, até agora, imutável. Conseguem, de maneira heróica, exportar carne para a Europa não obstante inacreditáveis 180% de imposto de importação, que se somam à nossa extorsiva carga tributária. Não deixa de ser um paradoxo realizarmos tal proeza e não conseguirmos mais viajar de avião em nosso território.

Não seria exagero dizer que seríamos uma espécie de China em miniatura se tivéssemos as mesmas condições que nossos concorrentes orientais, excetuando-se, é claro, a vergonhosa exploração de mão-obra através de salários aviltados. Nossos produtos são honestos, de qualidade; são até pirateados, com a falsificação de selos e certificados de origem. Lá, o corrupto é condenado à morte, aqui, o incompetente é condecorado.

Não há qualquer sinalização de mudanças no horizonte, não se fala em reduzir impostos – o que daria enorme impulso em nossa capacidade de competir no comércio internacional -, apesar do aumento de 10% na arrecadação de tributos em relação ao ano passado, cerca de R$33 bilhões a mais, inesperados, de mão beijada.

E ainda somos obrigados a ouvir que falta dinheiro para investir...

A cada terremoto ou furacão países se reerguem e retomam a vida, algo que o Brasil é poupado de fazer porque não sofre estes cataclismos. Mas nos sentimos incapazes de nos desatolarmos do fosso de incompetência em que estamos presos há décadas.

O governo Lula se dizia “contra tudo isto que está aí” e age pior, fazendo alianças políticas mais amplas e “pragmáticas” do que seus antecessores, admitindo e não punindo autores de deboches, dando medalhas a gente que deveria ser demitida e não aos bombeiros.

Luiz Leitão

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