Instinto de sobrevivência parlamentar
Em vista do novo escândalo na política (a política do venha a nós), nossas excelências resolveram tomar providências, reuniram-se os líderes dos partidos com o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, para definir uma estratégia contra a extinção da espécie.
Em vista do novo escândalo na política (a política do venha a nós), nossas excelências resolveram tomar providências, reuniram-se os líderes dos partidos com o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, para definir uma estratégia contra a extinção da espécie. Claro, o instinto de sobrevivência da classe é muito forte, portanto, em vista da torrente de falcatruas exposta pela operação Navalha, desencadeada pela Polícia Federal, declararam que "ninguém agüenta mais" essas denúncias de corrupção. Como se não fossem eles mesmos que absolvessem seus pares, seja no Conselho de "Ética", seja nas votações em plenário... São de uma candura comovente.
Se quiserem mesmo mostrar serviço, podem começar acabando com o foro privilegiado, passando pela criação de uma lei que exija dos partidos a seleção de integrantes que não respondam a processos criminais, de resto uma exigência corriqueira, tanto no mercado de trabalho quanto para se prestar concurso público. Isto não será garantia de qualidade parlamentar, mas pelo menos não dá oportunidade aos que se candidatam especialmente para usufruir do foro privilegiado.
Outra providência para evitar a trivialidade costumeira é acabar com as emendas ao orçamento, individuais e de bancadas, instrumento que foi usado no escândalo das ambulâncias, vulgo sanguessugas, e também neste novíssimo, porém antigo, caso da Construtora Gautama, desvendado pela operação Navalha.
Nessa jornada transformista, suas excelências se disporiam também a acabar com o décimo - quarto e décimo - quinto salários, com a semana de três dias, quando muito, e com a verba indenizatória, da qual parte não necessita comprovação, igualando-se aos demais mortais.
Se quiserem mesmo se converter à verdadeira representatividade, os congressistas podem começar observando o que reza a Constituição a respeito da impessoalidade do serviço público e poderão, então, votar um projeto de lei dispondo que o ingresso em todas as empresas estatais e autarquias, inclusive as dos Estados e municípios se dará exclusivamente por concurso, e as diretorias e presidências destas companhias só serão ocupadas por funcionários de carreira; acabarão com os cargos de confiança, reservando para nomeações pelo presidente da República somente os cargos de ministro de Estado e de auxiliares mais próximos na Presidência da República, além de tornar crime a prática de nepotismo.
E o que dizer da sistemática de tentar obstar a instalação das Comissões de Inquérito, as CPIs, que, apesar de inúteis por serem, quase genericamente, mera encenação, não deveriam ser boicotadas pelo rolo compressor da aliança governista.
Os nobres homens presididos por Arlindo Chinaglia passariam a se abster de legislar em causa própria, de aumentar seus salários quando os assalariados e os aposentados são contemplados com porcentuais de correção muito mais modestos; se abririam ao diálogo com os eleitores, deixando de a eles se dirigir somente a cada quatro anos para pedir seus votos.
Estariam dispostos a dar poder de fato aos Tribunais de Contas para que estes possam impedir que empresas de conhecida má reputação participem de licitações.
Nisso tudo é preciso incluir o melhor, que seria desempacarem a reforma política, há treze anos em compasso de espera no Congresso. Ter-se-ia então a demonstração de nova, alvissareira atitude, e não esse costumeiro falatório pós escândalo que o eleitorado já conhece de cor e salteado.
Luiz Leitão
http://detudoblogue.blogspot.com/
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