Na era FHC, fundos de pensão registraram prejuízos bilionários

Matéria publicada na edição desta sexta-feira do Jornal do Brasil confirma o envolvimento de operações irregulares de fundos de pensão realizadas na época do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo o texto, assinado pelo jornalista Hugo Marques, a sub-relatoria de Fundos de Pensão recebeu documentos demonstrando que três dos maiores investimentos da Previ acumularam prejuízos acima de R$ 1,5 bilhão na era FH, segundo documentos da própria fundação, que chegaram às mãos de alguns parlamentares.

Entre os maiores prejuízos estão os investimentos no Complexo Turístico do Sauípe, na Bahia, onde a Previ investiu R$ 1,018 bilhão - via carteira de investimento do complexo hoteleiro - e hoje amarga um prejuízo de R$ 846 milhões. Para o deputado Maurício Rands (PT-PE), relator-adjunto da CPMI dos Correios, quanto mais se avança nas investigações mais fica fragilizada a tese inicial das oposições que queriam passar a versão de que todos problemas existentes em financiamento de campanhas tinham surgido a partir do governo Lula. “Essa tese não se sustenta porque, infelizmente, os problemas de irregularidades na administração pública no Brasil são antigos e profundos e não seriam eliminados da noite para o dia”, considerou.

Ainda segundo avaliação de Maurício Rands, a diferença do atual governo para o governo anterior é que o governo Lula tem uma política clara de combate a esses desvios na administração brasileira. “Tanto que a ação da Polícia Federal foi reforçada, nunca foram feitas tantas punições em casos de crimes de colarinho branco e, por sua vez, o Ministério Publico não tem a sua frente um engavetador geral da República, mas um procurador que age com independência”, disse. Rands lembrou ainda que no governo Lula a Controladoria Geral da União foi total reformulada para ajudar na luta contra os desvios de recursos públicos. Sobre a Previ o deputado foi enfático: “o que se vê é que, as contrário das insinuações que haviam sido feitas pela oposição, o aprofundamento das investigações está demostrando que há mais problemas no período do governo anterior do que no atual governo”.

Leia abaixo a íntegra da matéria publicada no Jornal do Brasil:

“Colocadas no centro das investigações da CPI dos Correios pela oposição para, entre outros motivos, arranhar a imagem do governo Lula, as operações da Previ - fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil - acabaram atingindo em cheio a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A sub-relatoria de Fundos de Pensão, que no mês passado divulgou relatório assinalando aplicações de R$ 60 milhões da Previ nos bancos BMG e Rural neste governo, acaba de receber documentos demonstrando que três dos maiores investimentos da fundação acumulam prejuízo acima de R$ 1,5 bilhão na era FH, segundo documentos da própria Previ, que chegaram às mãos de alguns parlamentares.

Entre os maiores prejuízos estão os investimentos no Complexo Turístico do Sauípe, na Bahia, onde a Previ investiu R$ 1,018 bilhão - via carteira de investimento do complexo hoteleiro - e hoje amarga um prejuízo de R$ 846 milhões. Outro rombo nas contas da Previ foi o investimento no Hospital Umberto Primo, em São Paulo. Com investimentos de R$ 240 milhões na carteira de terrenos e imóveis em construção, a Previ acumula um prejuízo de R$ 206 milhões com o hospital.

Na lista de grandes prejuízos também estão computados os desembolsos na Santa Catarina Participações e Investimentos, para projetos de infra-estrutura no estado, que hoje somam provisões para perdas no valor de R$ 600 milhões. O histórico de todos os grandes investimentos da Previ estão detalhados na documentação que chegou ao Congresso. A Previ confirmou ontem os prejuízos milionários no governo passado. O valor de mercado do complexo de Sauípe, calculado pela Previ, é de R$ 171 milhões. Significa que, mesmo se todo o complexo fosse vendido, a Previ resgataria apenas 16,7% do que foi investido.

O protocolo de entendimento para a construção do Complexo Turístico do Sauípe foi assinado pela Previ em 5 de dezembro de 1997, com a Fontecindam Participações e a construtora Norberto Odebrecht. Uma das assinaturas de testemunhas do protocolo é atribuída ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), avô do sub-relator de Fundos de Pensão, Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). A assessoria do senador informou que ontem ele estava a bordo de um avião dos Estados Unidos para o Brasil e que posteriormente vai se pronunciar sobre o protocolo de Sauípe.

Cinco meses antes da assinatura do protocolo para a construção de Sauípe, o governo da Bahia enviou ofício ao então presidente da Previ, Jair Bilachi, a quem cumprimentava ``pela decisão`` de investir no complexo turístico. Os primeiros registros da venda do hospital Umberto Primo para a Previ são de 1993. Naquele ano, um parecer assinado pelo assessor da Diretoria Técnica da Previ, Álvaro Germano Albernaz, detalhava a situação do hospital, interditado pela Vigilância Sanitária por falta de higiene e limpeza. O hospital acumulava um passivo de R$ 37 milhões.

Álvaro Germano assegura, em seu parecer que o então deputado tucano José Serra (PSDB), hoje prefeito de São Paulo, ``prontifica-se, como já vem fazendo, a manter contato com órgãos e instituições públicas a fim de encaminhar soluções passíveis`` para o problema vivido pelo hospital. Informalmente, Álvaro ficou sabendo que, por ``intervenção do deputado José Serra``, uma comissão de representantes do hospital foi recebida no mesmo dia pelo presidente do Banco do Brasil, ``que teria se comprometido a obter auxílio junto à Fundação Banco do Brasil, para contratar o referido estudo de viabilidade`` desse mesmo hospital.

Em outubro de 1996, foi assinado protocolo de intenções para a compra do hospital. O sistema de contabilidade gerencial da Previ registra um valor de mercado de R$ 34 milhões para o hospital. Até agora, foram feitos desembolsos que, corrigidos, somam R$ 240 milhões.

A assessoria do prefeito José Serra solicitou que as perguntas fossem enviadas por mensagem eletrônica. No início da noite, a assessoria de Serra pediu também cópia do parecer da Previ, enviada pelo Jornal do Brasil. O prefeito não se pronunciou sobre o assunto.

Os prejuízos da Previ foram tema de debates ontem, na sub-relatoria de Fundos de Pensão da CPI dos Correios. A senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA) questionou os prejuízos de ``centenas de milhões`` em Sauípe. Para a senadora, é importante esclarecer estes prejuízos milionários, no momento em que os fundos de pensão são questionados por eventuais operações irregulares para financiar o mensalão”.

PT

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