Em Brasil Novo, a novidade é a floresta
Tatiane Ribeiro
Em região de desmatamento histórico no Pará, famílias plantam 250 quilos de sementes para reflorestar três nascentes
Um dia de plantio pode ser visto como um dia de trabalho duro. Mas se tratando do plantio de muvuca, o que era para ser uma atividade técnica se transforma em inspiração ¨É muito emocionante imaginar que vou passar ali daqui um tempo e ver uma floresta, que a água vai estar purificada de novo, vai renascer e a floresta vai segurar" conta Augusto Postigo do Instituto Socioambiental (ISA).
Na muvuca, várias espécies de sementes são misturadas e utilizadas no plantio. No último 14 de fevereiro, famílias da Área de Preservação Ambiental (APA) do município do Brasil Novo (PA) realizaram o plantio de muvuca para o reflorestamento da área, junto com técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
A região é emblemática porque as famílias que trabalharam na abertura de grandes rodovias foram incentivadas a produzir com base no desflorestamento. ¨Ver o pessoal envolvido em plantar floresta aqui onde só se fala em agropecuária é extremamente simbólico¨, pontua Augusto.
O trabalho é uma iniciativa do ISA em parceria com a Associação Rede de Sementes do Xingu (ARSX), que forneceu as sementes, e foi financiado pelo Projeto Amazônia Live, do Rock in Rio, em parceria com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e a Conservação Internacional (CI), instituições sem fins lucrativos. Com o apoio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente do Brasil Novo, foram plantadas 250 quilos de sementes, de 76 espécies diferentes, com o objetivo de recuperar as três nascentes existentes no local.
¨Bora¨ plantar
Para que ocorresse o plantio, o terreno foi preparado anteriormente com trator. No dia da ação, as sementes foram lançadas à mão. ¨O principal desafio foi plantar no começo do inverno para a região Amazônica, ou seja, no período das chuvas, porque comumente plantamos antes dessa estação e não durante¨, conta Marlisson Borges, técnico em restauração do ISA.
O técnico também explica que outro diferencial desse plantio foi o uso de sementes de açaí, bacaba e andiroba, que não são muito utilizadas na muvuca por terem pouca duração, mas puderam ser experimentadas já que as sementes estão na época de serem lançadas. ¨Foi um teste que fizemos e ainda aproveitamos as sementes também da Associação Agroextrativista Sementes da Floresta (AAsflor) e dos indígenas Parakanã, que puderam ver que é possível trabalhar também as sementes na cadeia do reflorestamento¨, conta Marlisson.
A expectativa dos presentes é de que o plantio de muvuca cause um bom impacto na região ao mostrar que é possível, sim, plantar floresta via semeadura direta adensada, o que traz menores custos para o reflorestamento. ¨Esperamos um excelente resultado e que possamos mostrá-lo em breve como fruto dessa parceria para vencer o desafio de que a natureza e a biodiversidade voltem a existir ali¨, afirma o Secretário de Meio Ambiente do Brasil Novo, Tarcísio Venturini.
O próximo plantio ainda não tem data certa para acontecer, mas a ideia é ampliar as experimentações com muvuca na região. ¨Um dos momentos mais memoráveis para nós, que nos entusiasma a continuar a plantar floresta, foi quando, após a chuva, no final do plantio apareceu um arco-íris no céu. Dizem as lendas que no final do arco-íris existe um pote de ouro, no nosso existe floresta¨, finaliza Marlisson.
https://www.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-xingu/em-brasil-novo-a-novidade-e-a-floresta
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