Para evitar o caos no cais

Há pelo menos 20 anos, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, disse que construir viaduto só ajuda a transferir congestionamentos de um lugar para outro.

Milton Lourenço (*)  

           14103.jpeg Há pelo menos 20 anos, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, disse que construir viaduto só ajuda a transferir congestionamentos de um lugar para outro. Nada mais certo. Isso, porém, não significa que as cidades, diante de constatação tão óbvia, não deveriam mais sofrer transformações em sua paisagem. São as contingências da época. Até porque não é possível evitar que a indústria automotiva continue a colocar veículos nas ruas. Até onde vamos chegar não se sabe.

            Foi o que ocorreu com a inauguração do Trecho Sul do Rodoanel em abril. Desafogaram-se as avenidas marginais que cortam a cidade de São Paulo e facilitou-se o acesso de caminhões e carretas ao Porto de Santos. O resultado? Ao final de uma destas tardes, para sair do bairro da Alemoa e chegar-se ao Centro de Santos, foram necessários uma hora e 50 minutos, quando, normalmente, o trajeto não exige mais que 15 minutos.

            Definitivamente, os congestionamentos passaram a ser rotina nos acessos ao Porto. É comum ver-se a Via Anchieta e a Marginal Sul bloqueadas por filas de caminhões que começam na chegada ao Viaduto da Alemoa e se estendem por 10 ou 15 quilômetros. O acúmulo de veículos gera lentidão entre os bairros do Saboó e da Alemoa.

            Pela manhã, já é possível registrar lentidão no sistema Anchieta-Imigrantes, mas o congestionamento se agrava depois do meio-dia, quando começam a chegar caminhões procedentes do Interior, da Capital e de outros Estados. Ao final da tarde, o congestionamento alcança o seu ponto mais crítico entre os quilômetros 32 e 43 da Via Anchieta.

            O que fazer? Apesar do que diz o arquiteto Lerner, parece que não há outra saída a não ser construir viadutos e ampliar as vias de acesso ao Porto. Um dos projetos prioritários é a duplicação do viaduto 31 de Março, no Jardim Casqueiro, que não suporta mais o volume adicional de tráfego. Outra obra imprescindível é o redesenho do entroncamento das rodovias Cônego Domêmico Rangoni (antiga Piaçaguera-Guarujá) e a Anchieta. Além disso, há necessidade de uma marginal entre a cidade de Cubatão e a rodovia Cônego Domênico Rangoni, uma intervenção nas vias de acesso ao bairro da Alemoa e a construção de marginais na Anchieta.

            A outra opção - que não invalida o investimento em obras viárias - é o controle do fluxo em direção aos acessos portuários. Ou seja, faz-se necessário uma reorganização logística com a adoção de um rigoroso sistema de controle de tráfego por agendamento. Com isso, será possível diluir o acesso de caminhões ao Porto durante as 24 horas do dia.

            Até já existe uma tentativa de se disciplinar o acesso. Assim, é possível marcar horário para a entrega de um contêiner num terminal portuário. Mas, como a maioria não faz esse agendamento, difícil é chegar ao terminal no horário previsto.

            Em finais de semana, feriados e dias úteis à noite, é possível fazer a entrega de cargas, mas, geralmente, os terminais estão às moscas. Portanto, está mais do que na hora de se adotar um sistema de controle de tráfego por agendamento. Assim, só poderá entrar nas vias de acesso aos terminais quem estiver incluído na programação. Quem não estiver que espere a vez num pátio de estacionamento e providencie o seu agendamento.

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC).

E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br    

 

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