Milton Lourenço (*)
SÃO PAULO O comércio exterior apresentou, em maio, números preocupantes, com superávit comercial de US$ 2,6 bilhões (média diária de US$ 132 milhões), o que representou uma queda de 28,6% em relação a abril deste ano (US$ 3,7 bilhões) e 34,9% abaixo que o de maio de 2008 (US$ 4 bilhões), segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). As exportações em maio foram de US$ 11,9 bilhões (média diária de US$ 599 milhões), resultando em queda de 2,7% em relação a abril último (US$ 12,3 bilhões) e de 37,9% na comparação com maio do ano passado (US$ 19,3 bilhões).
Já as importações de maio, por sua vez, totalizaram US$ 9,3 bilhões (média diária de US$ 466 milhões), apresentando crescimento de 8,4% sobre abril deste ano (US$ 8,6 bilhões) e retração de 38,7% sobre o mesmo período de 2008 (US$ 15,2 bilhões). A corrente de comércio do período alcançou US$ 21,3 bilhões (média diária de US$ 1 bilhão). Em relação a abril de 2009 (US$ 20,9 bilhões), foi registrado crescimento de 1,9%, mas houve redução de 38,3% sobre igual período do ano anterior (US$ 34,5 bilhões).
É de lembrar, porém, que as diferenças só não foram maiores porque, em abril e maio do ano passado, houve uma greve dos fiscais da Receita Federal, que afetou sensivelmente a movimentação de cargas nos portos naquele período. Os dados refletem bem a situação de crise interna da economia brasileira, a partir do reconhecimento do governo de que o País está em recessão, depois de uma retração de 1,8% no primeiro trimestre de 2009 em comparação com igual período do ano passado. É de observar que a queda do Produto Interno Bruto (PIB) só não foi maior porque 80% da produção industrial estão voltados para o mercado interno.
Segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), as exportações em 2009 deverão cair 20% em média, mas isoladamente as vendas de produtos manufaturados para o exterior vão sofrer um baque de 35%. A diferença ficará por conta de commodities que devem cair bem menos.
Com a desaceleração mundial, se o País não quiser continuar a acumular maiores perdas, precisará encontrar nos países emergentes o mercado para os seus produtos, especialmente Rússia, Índia e China, que formam, juntamente com o Brasil, a sigla Bric, que representa as nações em desenvolvimento que podem continuar a crescer (ainda que menos) neste momento de crise.
Mas não é o que se vê. Além de esperar muito para agir, o governo tem lançado iniciativas tímidas que, dificilmente, irão reativar a economia, limitando-se a buscar novas medidas de estímulo em políticas que não exijam desonerações de impostos. Externamente, o governo concentra-se, nos dias atuais, numa missão a mercados africanos, que não devem ser desprezados, mas que não representam nenhuma tábua de salvação para os produtos brasileiros. E que entram aqui apenas para que o governo tenha o argumento de que está procurando diversificar mercados, quando a questão é outra, ou seja, a perda de espaço em mercados tradicionais.
Para recuperar esse espaço e avançar nos mercados dos países emergentes, na verdade, o que se esperava é que o governo adotasse uma política mais agressiva, participando mais de feiras, fazendo marketing e, mais importante, colocando em funcionamento um Export-Import Bank nacional que venha, de fato, a fomentar as exportações, idéia que só nos últimos dias ganhou consistência.
Tudo isso, porém, deve ser feito sem se deixar de atacar os obstáculos internos que dificultam uma maior inserção do Brasil no comércio mundial, como as reformas previdenciária, fiscal e trabalhista, que reduziriam a carga tributária, e o investimento limitado que se faz em bens públicos (segurança, infra-estrutura, educação e saúde).
Só assim o País poderá continuar a fazer jus a sua inclusão no Bric, que inclui países com grandes populações e altas taxas de crescimento. Até agora, a liderança nesse grupo, termo criado pelo norte-americano Jim O´Neill, economista-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs, pertence a China, que cresceu 8,6% ao ano na última década. Para se manter como um Bric, o Brasil precisa crescer entre 3% e 3,5% ao ano pelas próximas décadas, segundo O´Neill.
É de registrar que o País vinha crescendo a 5% e 6%, mas, em função da crise, na previsão otimista do ministro da Fazenda, Guido Mantega, é de se esperar em 2009 uma alta de 1% a 2%, o que não seria o fim do mundo nas atuais circunstâncias. Para que essa previsão se concretize, porém, é preciso que antes o governo adote medidas que possam destravar o comércio exterior. Não será com o anúncio de missões ao continente africano ou de que o governo está procurando reduzir a burocracia que o País vai chegar lá. Esse discurso é sempre retomado em épocas de dificuldades, como pode descobrir quem se dispor a pesquisar jornais velhos. E não leva a nada de muito significativo.
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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Centro de Logística de Exportação (Celex), de São Paulo-SP.
E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br
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