Nota do IDP sobre Davos 2009

Nos assuntos de economia e de política internacional, o encontro de Davos 2009 pertenceu aos políticos, enquanto os dirigentes dos mercados financeiros estão domesticados pela crise global.

Após Davos 2009, passaram à história as celebrações opulentas em que empresários e agentes dos mercados financeiros, com alguns estadistas de permeio, celebravam com elogios mútuos o optimismo económico; em que os multimilionários juntos a alguns chefes de Estado elogiavam o triunfo dos mercados sobre os governos; passou o entusiasmo e a confiança dos advogados da globalização a todo o custo, da desregulação e da ideologia do neo-liberal da "Nova Ordem Mundial" que agora se revela como não sendo nova nem ordenada.

 Davos 2009 entra na história como o fórum econômico mundial onde o Estado veio à festa dos Mercados doutrinar como estes devem consertar o problema que criaram. E que o FMI tenha anunciado um crescimento global de 0.5%, o mais baixo desde 1945, nem sequer é tão alarmante como a incerteza de quanto tempo durará a crise e de quais serão as suas consequências sociais e políticas.

Mesmo George Soros, um dos capitalistas mais sofisticados, admitiu que a economia global está mais danificada do que parece a muitas instituições públicas e privadas que tentam avaliar a duração e a profundidade da crise. Davos 2009 foi dominada por políticos. Estavam presentes 40 chefes de Estado, o maior número em 39 anos, e um indicador de como os Estados estão a querer demonstrar a sua hegemonia face ao sector privado. Os dirigentes chineses, japoneses e russos – e em menor grau os europeus – teceram críticas à derrocada económica americana e defenderam um multilateralismo económico. A chanceler alemã, a sr.ª Merkel, foi ao ponto de recomendar a criação de "Conselho de Segurança" para a economia mundial, tendo o presidente brasileiro Lula afirmado que as nações pobres não devem pagar a crise causada pelos países ricos.

O principal evento de Davos acabou por ser o choque entre o presidente israelita e o presidente turco, no debate com o jornalista do Washington Post . São personalidades carismáticas e astuciosas, sobreviventes de muitos desafios internos e internationais. E parece certo, e não só porque as fontes israelitas assim o dizem, que Erdogan cumpria uma agenda para reforçar a sua posição muito debilitada por problemas económicos profundos e negociações difíceis com o FMI, ao atacar Simon Peres quando este defendeu a "Guerra dos Feriados". O presidente turco Erdogan, acusado pela oposição laica turca de favorecer os palestinos e Hamas, tem sido o intermediário da Srª Clinton, a nova secretária de Estado, para a diplomacia americana no Médio Oriente.

Como voz muçulmana moderada que fala com o Hamas, como dirigente de um país que os E.U.A precisam para se opôrem a expansão da Rússia na região, e como um líder de um país da NATO em que os E.U.A podem confiar em troca de empréstimos, o presidente Erdogan tornou-se tão essencial no Médio Oriente que foi Simon Peres quem depois lhe pediu desculpa, embora fosse Erdogan quem acusasse Peres de crimes de guerra. Os pormenores da diplomacia secreta da srª Clinton, iniciada logo após a tomada de posse do presidente dos EUA em 20 de Janeiro, não são conhecidos. Mas parece estar já em curso a tentativa de alterar a dinâmica política do Médio Oriente utilizando a Turquia, um aliado tradicional dos EUA e de Israel.

Não se fez ouvir qualquer voz portuguesa em Davos 2009, nem de dirigentes políticos nem económicos.



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