O pânico dos mercados induziu à pane na razão

Dizia o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, no dia 19 deste, na Folha de S Paulo , que a pedagogia truculenta da crise financeira ensinou como a paralisia no sistema de crédito causa fortes danos ao mundo “real”. Os bancos não emprestam, as empresas reduzem a produção e o emprego, a atividade econômica afunda e... As certezas dos analistas mais certeiros desmoronam.


Para Belluzzo, além do bloqueio do crédito, a crise planetária também ameaça paralisar os cérebros, até mesmo os bem-dotados. Atônitos, os sábios de ontem embarcam em hipóteses exóticas e peregrinas, como as que culpam os devedores (gente irresponsável) que aceitaram empréstimos oferecidos por bancos “generosos”. Ou os políticos que estimularam os créditos predatórios.


Segundo o professor, a pane cerebral afeta com particular virulência o pensamento imune à experiência histórica. Ele se refere à intolerância dos nossos “analistas” com uma era em que o capitalismo juntou prosperidade, avanço tecnológico, inovação institucional e redução das desigualdades. E... a mais baixa freqüência de crises financeiras e de crédito, desde o século 19.


Trata-se do “modelo” do pós-guerra cujo sucesso os crítico de hoje desconfiam ter nascido de um arranjo virtuoso entre a democracia e o capitalismo. Sucesso que deu 30 anos de progresso material, menos desigualdades nos países centrais e altas taxas de crescimento na América Latina e na Ásia.


“O ‘mal’, como sempre, é o ‘intervencionismo’ do Estado, o poder dos sindicatos, o controle dos mercados financeiros e do movimento de capitais. (...) E fundados receios de que o bote salva-vidas do Estado ‘populista’ seja baixado para resgatar a turma do ‘andar de baixo’”, finaliza Belluzzo.

Sidnei Liberal

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