Para deixar as coisas como estão

Presidente da mais alta corte do país, chefe de um dos três poderes da República, o ministro Gilmar Mendes (*) confessa ser sócio de empresa que mantém contratos sem licitação com diversos órgãos do governo federal. Sua empresa foi aquinhoada com cerca de 2,4 milhões desde o ano de 2000. Mais: o ministro comprou por vias transversas terrenos de 2 milhões de reais por um quinto do valor.

A divulgação dessas práticas nada republicanas do ministro foi por feita pela revista Carta Capital e entendida por ele como uma “pistolagem jornalística”, que “não condiz com o Estado de Direito e de liberdade”. Interessante notar como a mídia prontamente repercutiu esta avaliação de Gilmar, embora não tenha demonstrado o menor interesse em repercutir as revelações da Carta Capital.

À mídia interessa divulgar Gilmar apenas quando se trata de alardear uma não comprovada gravação telefônica do ministro, cujo interesse é reforçar sua estranha tese sobre uma pretensa crise de governabilidade no país. Uma paranóia extemporânea e suspeita.

Sobre a prática empresarial de Gilmar, vale lembrar que em idênticas circunstâncias, salvo pelo cumprimento dos preceitos licitatórios legais, o filho do presidente Lula quase foi crucificado pela mídia nacional. Reação incomparável com a do silencioso socorro feito com dinheiro público ao banco Nacional, dos Magalhães Pinto, unidos por laços familiares a um dos filhos de FHC.

A suspeita cumplicidade (*) entre mídia, Gilmar e cardeais oposicionistas tenta forjar um clima de “estado policialesco”. No real, uma provável cortina de fumaça a tentar encobrir fatos adversos ao corporativismo de poder, como diz o jornalista Mino Carta, “para deixar as coisas como estão”.

Sidnei LIBERAL

BRASIL

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