Desobediência civil
Em artigo publicado no site Sul 21, analisando as medidas fascistas, cada vez mais evidentes no governo Bolsonaro, ex-governador Tarso Genro termina por perguntar se não chegou a hora no Brasil da "Desobediência Civil"?
Quem talvez tenha sido o primeiro a tratar dessa questão de uma forma mais profunda foi o filósofo norte-americano Henry David Thoreau (1817/1862) Em 1849 ele escreveu um livro com esse título - A Desobediência Civil - após ter sido preso por se recusar a pagar seus impostos, alegando que esse dinheiro serviria para financiar uma guerra injusta dos Estados Unidos. Na época, os americanos estavam empenhados numa guerra de conquista de grande parte do território do México.
Para ele, a desobediência civil era uma forma de resistir a uma medida ilegal ou imoral do governo, não partindo para um confronto armado, mas se recusando a cumprir suas ordens.
Mais adiante na História, outro grande exemplo de desobediência civil se deu na Índia, na luta comandada por Gandhi contra a colonização inglesa.
Mahatma Gandhi (1869/1948) nasceu na Índia, formou em Direito na Inglaterra e iniciou sua vida política na África do Sul, onde havia por volta do início do século XX, uma grande população hindu, na região do Transwall.
Embora muitas das posições políticas de Gandhi tenham sido controversas em questões envolvendo as posições que assumiu diante dos alemães e japoneses na Segunda Guerra e a posterior divisão da antiga colônia britânica entre hindus e muçulmanos, (Índia e Paquistão), a sua política de resistência passiva é vista com uma das causas para a independência da Índia em 1947.
Outro que de certa forma propugnou por formas de resistência passiva contra um governo opressor, foi Nelson Mandela (1918/2013), embora em seus primeiros anos como ativista da luta contra o apartheid na África do Sul, tenha pertencido ao grupo Lança de uma Nação, o braço armado do Congresso Nacional Africano. Depois de 27 anos na prisão, Mandela saiu de lá para ser o primeiro presidente negro da África do Sul.
Nos Estados Unidos, dos anos 60, surge a figura do pastor Martin Luther King (1929/1968) mobilizando as pessoas para pacificamente combater o racismo, não aceitando as leis que ainda vigoravam em alguns Estados americanos, discriminando, por exemplo, a presença de negros no transporte público e nas escolas.
Na esteira desse movimento, vai surgir o grande movimento de desobediência civil dos jovens americanos, que rasgavam e queimavam em praça pública suas convocações para participar da guerra do Vietnam.
Se quisermos retroceder em muitos séculos na História e chegarmos até os gregos, vamos encontrar formas de desobediência civil na obra de Sófocles, que mostra Antígona se recusando a obedecer às ordens do rei Creonte e na comédia de Aristófanes, Lisístrata. Nessa peça, as mulheres dos soldados de Atenas, cansadas das guerras com Esparta, fizeram uma greve de sexo, que só terminaria com uma paz entre as duas cidades-estado que deixasse seus maridos em casa.
Não sei o que Tarso Genro estaria pensando quando falou em desobediência civil. Eu, modestamente, vou iniciar a minha, convidando às pessoas a não ler, ouvir ou ver (ou se ler, ouvir e ver, falar sempre mal) de tudo que for veiculado nos veículos da RBS.
Pode ser um início bem modesto, mas já dá para servir como treino para coisas maiores e mais importantes.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS
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