Trabalho escravo

O sonho dos empresários da FIESP, representado por aquele pato amarelo, é lucro máximo e salário zero. Com o governo Temer, eles estão chegando quase lá, mas ainda falta um pouco para alcançar o sucesso, por exemplo, dos empresários alemães durante a guerra.

Os principais empresários alemães, responsáveis por empresas aparentemente sérias e muitas hoje ainda em atividades, se associaram a Gestapo e as SS para obter aquilo que é o sonho dourado dos empresários do mundo inteiro: empregados que trabalham em tempo integral, os sete dias da semana até se exaurir, quando então são substituídos por outros, sem nenhuma queixa.

Vamos apresentar a seguir alguns dados que o professor americano Robert Gellately  retirou de arquivos alemães, recuperados depois da guerra, que comprovam os acordos feitos em contratos oficiais entre os principais empresários alemães e o governo nazista para o uso do trabalho escravo de prisioneiros,  principalmente do Leste europeu, nos campos de concentração,construídos tanto na própria Alemanha, como nos países ocupados.

1)   A fábrica de aviões Heinkel tinha em 1943 cerca de 4 mil trabalhadores do campo de concentração de Sachenhausen, em Orienienburg.  O engenheiro Arhur Rudolf, que comandava o programa de criação de foguetes e depois da guerra foi trabalhar para a NASA, era um dos defensores do uso desses trabalhadores escravos.

2)   As empresas fabricantes dos aviões Junkers e Messerschmidt, usaram trabalhadores oriundos do campo de Buchenwald.  Como a região onde as empresas atuavam estava sendo bombardeadas pelos aliados, as fábricas foram transferidas para subterrâneos. Em Mittelbau-Dora, 8  mil homens trabalharam ali e o índice de mortes era de 20 a 25 prisioneiros por dia, embaixo da terra.

3)   A IG Farben, a maior empresa da Europa na época, fechou um acordo com a SS em 1941 para usar os prisioneiros de Auschwitz numa fábrica de borracha sintética

4)   Em 1944, a Siemens, a mais poderosa empresa da Europa  no setor elétrico, empregava mais de 15 mil trabalhadores oriundos de vários campos de concentração.

5)   A Daimler-Benz  se utilizou até o final da guerra do trabalho escravo de mais de 10 mil prisioneiros.

6)   A Volkswagen usou em suas fábricas cerca de 3.500 prisioneiros, principalmente judeus húngaros, recrutados em Auschwitz para trabalhar como metalúrgicos.

7)   A BMW fechou um acordo com as SS para usar mais de 3 mil prisioneiros, a maioria russos,  em sua fábrica de Allach.

O uso dos judeus húngaros, considerados melhores capacitados para o trabalho nas fábricas, dividiu os nazistas da SS. Enquanto alguns viam as vantagens econômicas no seu uso como trabalhadores escravos nas fábricas alemãs, outras pretendiam exterminá-los nas câmaras de gás de Auschwitz.  Dos 800 mil judeus que viviam na Hungria à época da ocupação alemã, a metade foi executada em Auschwitz.

Os grandes campos tinham campos menores que funcionavam como unidades satélites e forneciam mão de obra escrava não apenas para empresas, mas também para serviços públicos e fazendas.

Era uma cena comum durante a guerra, em pequenas cidades alemãs, esses trabalhadores, quase sempre vestindo andrajos e usando tamancos nos pés, voltarem para o campo depois de trabalharem o dia inteiro fora em empresas industriais e fazendas.

Fora essas grandes empresas, outras menores foram recrutadas pelos nazistas para produzir materiais necessários para a administração das centenas de campos de concentração criados na  Alemanha e nos países ocupados, inclusive os famosos pijamas listrados, e também se valeram do trabalho escravo.

Ainda não chegamos a esse ponto no Brasil, mas também já estivemos bem mais longe.

Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey