O povo do Paquistão foi deixado para apodrecer pela comunidade internacional. Ou a dimensão da catástrofe de inundação ou foi totalmente incompreendida ou então existem forças em jogo que desejam tirar proveito de uma desestabilização do Paquistão, a resposta lamentavelmente fraca pela comunidade internacional leva este país e a região em que está inserida mais próxima ao abismo do caos.
Esta semana o Secretário-Geral da ONU Ban Ki-moon disse à Assembléia Geral "Não se enganem: isso é uma catástrofe global, um desafio global. É uma das maiores provas de solidariedade global nos nossos tempos".
Colocar a catástrofe em contexto
Pondo a catástrofe das inundações de Agosto em contexto, Ban Ki-moon, qualificou a situação de um "tsunami em câmara lenta", como a varredura das águas da inundação movendo desde a área afetada até ao sul, afetando uma área tão grande como Itália ou Inglaterra, entre 15 a 20 milhões de pessoas - mais do que o tsunami do Oceano Índico, e os terremotos de Caxemira e Haiti combinados. 160 mil km quadrados de terra estão alagados - uma área maior do que metade dos países da comunidade internacional. Seis milhões de pessoas necessitam de ajuda de emergência em conseqüência das inundações.
O que aconteceu?
Monstruosas m onções incharam o rio Indo a 40 vezes o seu volume normal, todos os rios do nordeste do país enviaram torrentes de água rios abaixo, inundando um terço do país. Municípios de até um quarto de milhão de pessoas tiveram de ser evacuados, milhares de pequenas cidades e aldeias foram varridos da face do mapa.
Na sexta-feira, há 143.870 casos notificados de infecção da pele, 115.922 casos de diarreia aguda e 113.981 casos de infecções do trato respiratório. 1.600 pessoas já morreram (até saírem novas estatísticas). Milhares de casas foram perdidas, três milhões de pessoas estão desabrigadas, grandes extensões de terras foram inutilizadas.
200 unidades de saúde foram danificadas ou destruídas, milhares de hectares de culturas prestes a serem colhidas foram levados. Estradas, pontes, ferrovias, telecomunicações, linhas de energia deixaram de existir. Muitos dos afectados não podem atingir as instalações de saúde que estão a funcionar porque não há nenhuma possibilidade de transporte. Os recursos hídricos em muitas áreas foram devastadas, 2.000 escolas foram destruídas, afetando seriamente o ano letivo para centenas de milhares de crianças. O custo inicial dos danos foi estimado em 3,5 bilhões de dólares, incluindo um bilião de dólares de colheitas.
O perigo
Dada a resposta lamentável da comunidade internacional (ver abaixo), a conseqüência imediata é que uma segunda onda da doença atingirá uma população já enfraquecida e um já débil sector da saúde. No entanto, esta é a ponta do iceberg.
Quarenta e cinco por cento da força de trabalho do Paquistão está empregado na agricultura, pois dada a grande escala da catástrofe, os efeitos económicos só podem ser grandes. A insegurança alimentar atingirá milhões de pessoas numa escala endémica, uma grande parte da safra de arroz do Paquistão, juntamente com a cana-de-açúcar e algodão, desapareceu, trazendo outros problemas a jusante, como uma paralisação parcial da indústria têxtil. Isto, num país já cheio de problemas económicos, com a elevada taxa de desemprego, os preços elevados dos combustíveis, um alto grau de corrupção, falta de energia e um movimento crescente de insurgência com ligações à Al Qaeda.
Em suma, estão reunidas as condições para que o Estado entre em colapso e para o Paquistão implodir.
Patética resposta da comunidade internacional
Três triliões de dólares foram encontrados de um momento para o outro para salvar os bancos. Para o Paquistão, apenas US $ 227,8 milhões apareceram, menos de metade do orçamento inicial necessário para financiar o Plano Paquistanês de Emergência na Resposta às Inundações.
Apesar de ser descrita por Ali Treki, Presidente da Assembleia Nacional do Paquistão, como uma "catástrofe humanitária sem precedentes" e "uma situação extraordinária de emergência " apenas uma fração do que precisa ser feito foi alcançado. O governo paquistanês reagiu desviando recursos do seu orçamento de desenvolvimento, mas isto é como uma gota no oceano.
De acordo com Tammy Hasselfeldt, Presidente do Fórum Humanitário Paquistão, "a resposta internacional ao desastre foi pequeno demais para sequer começar a efetivamente atender às necessidades dos sobreviventes".
Com o financiamento tão necessário a longo prazo dos projectos de desenvolvimento a ser desviado para os esforços humanitários de curto prazo, com a perspectiva de aumentos nos preços dos alimentos e com a certeza do disparo nas taxas de desemprego, hoje, instituições de caridade islâmicas, e outras islamistas, estão a tirar partido da situação.
Quem sabe quais serão as conseqüências amanhã? Deveras, um Paquistão dividido seria mais fácil governar sob o velho preceito divide et impera e um Paquistão/Ásia Central controlado poderia vedar ou afetar o acesso da RP China aos recursos no futuro. No entanto, a fraca resposta da comunidade internacional só pode ser manipulada por forças que têm uma agenda e os tempos de crise fornecem abundante lenha para o fogo do extremismo.
Mais uma vez, a comunidade internacional faz uma leitura errada da situação.
Timothy BANCROFT-HINCHEY
PRAVDA.Ru
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