As guerras do Afeganistão e do Iraque seguem tendências distintas, como mostra o gráfico que ilustra este texto. George W. Bush, que iniciou as duas, tinha forte preferência pelo Iraque. Deu errado. Terminou seu governo deixando ambas em banho-maria, exceto no discurso. Barack Obama diz que sairá do Iraque, no ano que vem, mas radicalizará no Afeganistão. Tampouco vai dar certo, como já começa a mostrar a aparatosa Operação Moshtarak.
Por Bernardo Joffily
O gráfico mostra as baixas fatais de soldados americanos e aliados ocidentais (na maioria britânicos). Os números são do www.icasualties.org , um dos muitos sites que acompanham essas mortes on line, às vezes até o nome e a patente de morto por morto.
Bem mais precária é a cobertura das baixas de mercenários das 'empresas de segurança' que fazem um bom negócio nessas guerras semiterceirizadas ou das baixas do lado contrário. E pior ainda para as baixas de civis, iraquianos ou afegãos.
Os números do Iraque
Porém os números do gráfico evidenciam o essencial: a Guerra do Iraque, mesmo começando mais tarde (março de 2003), foi a mais mortífera, num crescendo... até 2007. Maio daquele ano é o pior mês para os ocupantes, com 131 mortos. Depois disso, há uma brusca queda.
Bush fingiu que era porque estava ganhando. O primeiro ministro do Iraque, o xiita Jawad al-Maliki (do partido Dawa, ligado ao vizinho Irã e antes considerado pelos EUA como uma organização terrorista) finge que chefia um governo fantoche. As diferentes alas da resistência aos ocupantes finge que ressiste... E todos esperam pelo ano que vem, quando, conforme a promessa de Obama e uma resolução do governo iraquiano, as tropas estrangeiras finalmente irão embora.
Os números do Afeganistão
Observe agora as baixas dos EUA no Afeganistão. Nunca atingiram um pico como o do Iraque (além de incluírem uma percentagem maior de mortos não-americanos), mas vão em uma constante escalada. Em 2008 quase empataram com as do Iraque. Em 2009, bateram a estas numa proporção de 3,5 por um. E neste início de ano são dez vezes mais numerosas.
Obama e os seus generais insistem no envio de mais tropas (30 mil homens dos EUA, mais 7 mil de aliados) e em operações como a Moshtarak, a maior desde a invasão de 2001, com 15 mil soldados mobilizados. Por esse caminho a Guerra do Iraque ainda pode empalidecer diante da do Afeganistão.
Assim, o jovem senador que começou sua caminhada para a Casa Branca opondo-se firmemente à Guerra do Iraque, e se elegeu com o voto de 99% dos pacifistas dos EUA, pode terminar os seus dias como um presidente belicista a mais. Tal como os seus correligionários democratas, John Kennedy e Lyndon B. Johnson, que fizeram a escalada da Guerra do Vietnã nos anos 60.
'Guerra às Guerras'
Dificilmente haverá uma solução militar para os EUA, quer no Iraque, quer no Afeganistão. E isto porque "a guerra é a continuação da política por outros meios", como ensinou o prussiano Carl von Clausewitz (1780-1831), general e atilado teórico militar.
Vence a guerra quem vence também a política. E contam aqui tanto os mortos de uniforme como os civis a exemplo dos 12 que perderam a vida em Marja no domingo, quando sua casa foi atingida por um míssil americano devido a um 'engano' de 300 metros.
Os EUA venceram na 2ª Guerra Mundial, e entraram triunfantes em Paris em 1944, sob o aplauso dos franceses, porque representavam os Aliados que tinham derrotado o nazifascismo, política e militarmente.
Ao entrarem com suas tropas em 2003, Bush encenou uma paródia de libertação que mais pareceu saída de uma ópera bufa. Teve força bruta bastante para manter o país ocupado, mas nunca para curvá-lo ao seu projeto.
No Afeganistão será ainda mais difícil, dados a geografia inóspita, a tradição militar e a vizinhança com o Paquistão, onde também ferventa a oposição aos invasores. As colunas verdes no gráfico que ilustra esta matéria tenderão a crescer. E com elas também a oposição à carnificina afegã no interior dos EUA, fazendo soar, de novo e ainda mais forte, o mais que centenário lema de "Guerra às Guerras", revolucionário e justo.
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