O polêmico, misterioso e controvertido programa nuclear do Irã, com idas e vindas, acordos e desacordos, declarações confirmando seguidas de outras negando, colocou o tema sob o manto da desconfiança. O Ocidente acredita que as finalidades do programa nuclear do Irã não são civis nem pacíficas, como ele afirma, pelo contrário, destina-se ao desenvolvimento de uma bomba atômica.
As controvérsias em torno do programa nuclear iraniano são tantas que nesta semana o Governo Brasileiro chegou a desmentir uma declaração do diretor da agência iraniana de energia atômica, Ali Akbar Salehi, incluindo o Brasil entre os países com os quis Teerã está negociando para enviar urânio para ser enriquecido a 20% e, com isso, evitar suspeita sobre seu possível uso militar, conforme proposta feita pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão da ONU.
A declaração surpreendeu as autoridades brasileiras, e o ministro das Relações Exteriores, chanceler Celso Amorim, através de sua assessoria de imprensa, afirmou que "Em nenhuma das conversas mantidas pelo governo brasileiro com o Irã foi tratada a possibilidade de enriquecimento do minério iraniano no País".
O presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Alfredo Tranjan Filho, também rejeitou a possibilidade de um convênio nesse sentindo, lembrando que a produção atual da INB ainda não é capaz de atender nem sequer à demanda brasileira.
A Rússia, por exemplo, já quer uma ação mais dura e veemente do Conselho de Segurança da ONU contra a República Islâmica por conta do seu indefinido programa de energia nuclear. Por causa dessa posição de Moscou, os membros do Conselho de Segurança da ONU esperam que o Irã tenha ações construtivas com relação ao seu programa nuclear.
Em Berlim, Alemanha, o chanceler russo, Sergei Lavrov, foi enfático ao dizer que "se não observarmos uma resposta construtiva do Irã teremos de discutir isso no Conselho de Segurança da ONU", e acrescentou que ainda espera que seja encontrada uma solução diplomática para o problema.
Já prevendo um desfecho nada diplomático sobre a questão do programa nuclear Iraniano, a China entrou na discussão e está pedindo calma e paciência ao mundo para com a República Islâmica, e vem mantendo esforços diplomáticos para que seja encontrar uma solução.
O chanceler chinês, Yang Jiechi, disse que as negociações com o governo do Irã "entraram em uma fase crucial, e as partes interessadas deverão, com os interesses globais e de longo prazo em mente, intensificar os esforços diplomáticos, permanecer pacientes e adotar uma abordagem mais flexível, pragmática e uma política pró-ativa".
Se o Irã não mudar sua postura e não enquadrar seu programa nuclear e as suas intenções de enriquecer urânio dentro das exigências da Agência Internacional de Energia Atômica (AIET) vai sofrer, pela quarta vez, mais sanções do Conselho de Segurança da ONU. Mas o Irã nega as acusações e diz que seu programa atômico tem finalidades apenas pacíficas, mas ninguém acredita.
Já o chanceler alemão, Guido Westerwelle, acusou o Irã de usar táticas de adiamento, em vez de agir. Dando sequência ao seu ataque, o chanceler alemão afirmou que nos últimos dois anos o Irã tem, repetidamente, blefado e usado subterfúgios, e a comunidade internacional não pode aceitar um Irã com armas nucleares."
O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad afirmou na última terça-feira que seguia disposto a trocar uma parte do seu urânio pouco enriquecido (3,5%) por um combustível altamente enriquecido (20%), destinado ao seu reator de pesquisas e medicina nuclear em Teerã, com a finalidade de demonstrar que seus propósitos são puramente pacíficos, mas, os países ocidentais reagiram com prudência e desconfiança a essa declaração.
Atuando como pacifista, a misteriosa China disse que isso representa uma mudança na posição do Irã, significando que vale a pena prosseguir com as negociações em vez de discutir sanções mais amplas contra Teerã. Entretanto, vários membros da diplomacia internacional disseram o Irã não conduziu nenhuma mudança em sua posição para a AIEA.
O chanceler do Irã, Manouchehr Mottaki, fez críticas às ameaças de sanções por parte do Conselho de Segurança da ONU e agora tem novas exigências para receber urânio enriquecido do exterior. O compromisso proposto pela AIEA deve ser revisado, afirmou Mottaki.
As novas exigências da República Islâmica, segundo o chefe da diplomacia de Teerã, são de que o seu país só vai exportar urânio levemente enriquecido se receber imediatamente em troca combustível nuclear altamente enriquecido para seus reatores experimentais.
"Deve haver uma sincronia, ou seja, a troca deve ocorrer ao mesmo tempo", explica Mottaki, que garante que o combustível altamente enriquecido que reivindica será destinado a um reator que fabrica produtos para fins médicos. Os país do Conselho de Segurança da ONU consideram que o enriquecimento do urânio para o Irã fora do país permitiria maior controle do seu programa nuclear.
Ao se ver encurralado por Rússia e Alemanha, dois influentes membros do Conselho de Segurança da ONU, o Irã começa a demonstrar, pelo menos aparentemente, que vai concordar com os termos, mas mesmo assim a desconfiança é total.
Manuchehr Mottaki disse que um "acordo final" destinado a enviar urânio ao exterior para seu enriquecimento está perto de ser fechado. "Levando em conta as discussões com as partes, acredito que criamos uma base propícia para um intercâmbio em um futuro não muito distante", afirmou Mottaki.
"Pessoalmente acredito que criamos um terreno propício para essa troca no futuro não muito distante, mas cabe a Teerã definir a quantidade a ser trocada, com base em suas necessidades", disse Mottaki na Conferência de Segurança de Munique.
O acordo de troca de urânio foi discutido em 2009 entre o Irã e seis potências mundiais, que a consideraram uma forma de garantir que Teerã não enriqueceria o seu urânio a um nível potencialmente utilizável em uma bomba nuclear. Entretanto, Teerã não respondeu positivamente à proposta até hoje.
ANTONIO CARLOS LACERDA
PRAVDA Ru BRASIL
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