por Marcos Coimbra
Com a vitória de Obama, vários analistas no exterior e no Brasil extrapolaram em suas análises, criando uma expectativa superior às reais possibilidades de realização do eleito. Afinal, apesar de vir a ser proximamente, pelo menos em teoria, o homem mais poderoso do mundo, ele está limitado a uma série de fatores condicionantes. De início, não poderá ultrapassar os rígidos limites impostos pelos donos do mundo. A História ensina que, quem se atreve, não completa o mandato. Por exemplo, a emissão de moeda dos EUA continuará a ser de responsabilidade do FED, que é um órgão privado (são oito no país). Além disto, ninguém recebe mais de US$ 600 milhões de doações para sua campanha sem proporcionar a devida contrapartida ao assumir o poder. As primeiras indicações anunciadas confirmam esta tese. E, mesmo que pudesse, a crise é muito séria, demandando competência, determinação e tempo, além de uma dose razoável de cooperação dos demais atores internacionais e muita sorte.
Em relação ao Brasil, os sinais não são alvissareiros. Além do contencioso econômico-financeiro já existente, em especial na área comercial, como o caso do algodão, Obama não é simpático ao nosso etanol, por exemplo, principalmente em função dos compromissos assumidos com grupos poderosos que o apoiaram, concorrentes do nosso produto.
Ele assume em um quadro caótico. Existe, no campo geopolítico, a grave situação no Afeganistão, invadido por tropas americanas a pretexto de combate ao terrorismo internacional. A verdadeira razão reside na estratégica posição daquele país, para construção de oleoduto com o objetivo de transportar petróleo do coração da Ásia para o porto adequado. Além disto, o Iraque. Com a desculpa de que Saddam Hussein teria armas de destruição em massa, foi concretizado o massacre do perigoso país ameaçador. Milhares de mortos, feridos e prisioneiros, sem direito à defesa. As causas de fato foram:
a) a conversão das reservas iraquianas de dólar para euro, há anos atrás;
b) a posse da segunda maior reserva mundial petrolífera;
c) a posse de imensas reservas de água, valiosas em especial em uma região desértica;
d) a oportunidade de reconstrução daquilo que foi destruído, ao custo de mais de centenas de bilhões de dólares, a serem entregues a empresas ligadas à atual administração, generosas financiadoras de campanhas eleitorais nos EUA e em outros países.
O mundo vivencia um colapso financeiro, atingindo a economia real, com o centro da crise nos EUA. A Economia dos EUA vive momentos perigosos. O desemprego ultrapassa 6,2 % da população economicamente ativa. Sucessivos déficits acendem as luzes vermelhas no painel de controle dos analistas do mercado financeiro mundial. Os EUA importam praticamente todos os insumos estratégicos dos outros países. São auto-suficientes na produção bélica e de alimentos. Exportam tecnologia de ponta para o resto do mundo e, no momento, possuem o poder real de destruir qualquer nação que não se submeta a seus interesses. Justificativas não faltam.
A perspectiva do retorno do poder ao povo do Iraque é cada vez mais remota. O controle é dos "falcões-galinha do Pentágono que, depois, deverão passar a administração a um governo de "fantoches", dominados por eles, a exemplo de outros países. Se houver eleição livre, os xiitas ganharão e surgirá mais um regime teocrático, muito distante do sonho da democracia norte-americana, praticada por eles. Talvez utilizem até a nossa "urna eletrônica".
A dúvida agora é sobre se o novo presidente poderá cumprir suas promessas, dentre as quais a retirada de tropas do Iraque, o fechamento da base de Guantánamo etc. Mas o futuro exige dos EUA uma quantidade de recursos naturais, de toda ordem, que eles não possuem. E aí surge uma preocupação para nós, brasileiros. Olhando o mundo, existem poucos outros países, indefesos, capazes de despertar a cobiça altruísta de libertação nos senhores da guerra. A abundância de recursos naturais, da água ao titânio, passando agora pelo petróleo, sua extensão territorial e a fragilidade de nossas Forças Armadas configuram um quadro preocupante.
De fato, há um plano arquitetado pelos "donos do mundo" de enfraquecer as Forças Armadas dos países emergentes, sufocando-as financeira e economicamente. Além disto, é proibido o acesso à moderna tecnologia bélica, seja no tocante a engenhos nucleares, seja na área espacial. O trágico episódio da explosão do terceiro VLS brasileiro, com a perda de vinte e um mártires, exige das autoridades responsáveis uma profunda reflexão. Até jatos supersônicos são proibidos. Fabricação de mísseis, nem pensar. Até a proibição da comercialização de armas e munições foi tentada. As empresas nacionais seriam expulsas do mercado e o Brasil ficaria dependente até da importação de um cartucho de 22. Desta forma, fica mais fácil intimidar e, se for o caso, ocupar militarmente as nações desobedientes.
Contudo, na maior parte dos casos, isto não é necessário, pois as próprias forças políticas locais elegem administrações representantes dos interesses deles, dóceis ao seu comando. De modo hábil, vão transferindo recursos para o exterior e permitindo a ocupação pacífica dos seus respectivos territórios, bem como a exploração de seus recursos.
Prof. Marcos Coimbra
Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.
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