Milton Lourenço (*)
Nos últimos tempos, manter uma indústria em boas condições de competitividade no cenário internacional está cada vez mais difícil. Até porque os obstáculos são muitos, a partir da baixa cotação do dólar, que vem destruindo no País a semente de uma indústria exportadora, passando pelos eternos gargalos logísticos que sobretaxam as exportações, até a falta de uma estratégia definida por parte do governo federal para o comércio exterior, agravada pela recente concorrência dos tigres asiáticos, especialmente da China.
Para quem se deixa impressionar apenas pela leitura dos números, o governo federal costuma exibir o crescimento das exportações e, principalmente, do saldo da balança comercial para justificar um otimismo forçado. Mas quem prefere analisar a conjuntura sem partidarismo observa que as exportações do País vêm crescendo nos últimos anos apenas em commodities petróleo (que o Brasil importa e exporta), minério de ferro e soja , enquanto os produtos manufaturados, que representam maiores ganhos para a economia nacional, encontram-se com as vendas estagnadas há vários anos.
Isso significa que, a médio prazo, a tendência é o desaparecimento do superávit em conta corrente (que, além da balança comercial, inclui transações financeiras e serviços). Basta ver que o superávit em conta corrente caiu de 1,76% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2004 para 1,28% em 2006. Para este ano, a projeção média do mercado para o superávit em conta corrente é de US$ 10 bilhões e, para 2008, de US$ 3,17 bilhões. Mas, para 2009, está projetado um déficit de US$ 670 milhões.
Por isso, é fundamental investir cada vez mais nas exportações, aumentando a fatia do Brasil no bolo do comércio mundial, hoje restrita a 1% de tudo o que se compra e vende no planeta. Como são as vendas externas que forçam a demanda interna, só com o aumento das exportações será possível criar o capital necessário para o aumento das importações. Afinal, só por meio das importações será possível abrir espaço para que o País obtenha a transferência de tecnologia e inovação necessária para assegurar o seu desenvolvimento.
O reverso dessa medalha é o período de substituição das importações que o Brasil viveu ao final do século XX, quando a economia nacional era ainda mais fechada, sem competição em seu mercado interno, o que levava a uma natural acomodação do setor privado. Na verdade, o País ainda não está longe desse cenário, pois, hoje, as prioridades do Ministério das Relações Exteriores ainda são essencialmente políticas, pouco representativas em matéria de negócios, seguindo uma conduta exatamente oposta à do governo chinês, por exemplo, que não parece preocupado com generosidades, mas apenas em defender seus interesses.
Os resultados dessa orientação equivocada, se não são totalmente desprezíveis, pouco representam em termos de abertura de negócios e ampliação da corrente de comércio. Em outras palavras: o Brasil tem perdido muito tempo e esforço com aproximações com a África e o Oriente Médio, em detrimento de economias muito mais avançadas como Japão, Coréia do Sul, União Européia e EUA.
Sem contar as estratégias ditadas por um viés de caráter político fora de moda, como o trabalho desenvolvido sub-repticiamente, ao lado da Argentina, para levar ao fracasso as negociações para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que levaram o País a uma conduta vista como isolacionista, o que pode ser comprovado apenas com um dado: entre 1995 e 2006 foram fechados no mundo 176 acordos comerciais e o Brasil não participa de nenhum, continuando atolado no Mercosul em crise.
Para piorar, além de investir muito lentamente na recuperação da infra-estrutura, o governo insiste em protelar a decisão de fazer uma reforma tributária que venha a desonerar os produtos manufaturados, que geram mais empregos e são mais estáveis, ao contrário das commodities.
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(*) Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP (www.fiorde.com.br). E-mail: [email protected]
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