Um levantamento genético sem precedentes colocou o Brasil no centro da ciência mundial. Publicado na revista Science, o estudo analisou o DNA de mais de 2.700 brasileiros de diferentes regiões e revelou nada menos que 8,7 milhões de variantes genéticas inéditas, o que torna o país líder global em diversidade genética mapeada.
A pesquisa foi conduzida por cientistas brasileiros da Universidade de São Paulo (USP) e de outras instituições nacionais, como parte do programa Genomas Brasil, coordenado pelo Ministério da Saúde. O objetivo: entender como a miscigenação única do Brasil afeta a predisposição a doenças, a eficácia de medicamentos e a personalização de tratamentos.
Entre os achados, mais de 36 mil variantes foram classificadas como potencialmente nocivas, a maioria delas associada a populações de ascendência africana e indígena. Isso muda radicalmente o panorama da medicina genômica, que até hoje se baseava em bancos de dados centrados em populações europeias e norte-americanas — um viés que exclui a complexidade do DNA brasileiro.
Segundo os pesquisadores, a descoberta tem implicações diretas para a saúde pública. Com base nesses dados, será possível desenvolver medicamentos e políticas de saúde mais eficazes e inclusivos. “É um passo essencial rumo à medicina de precisão brasileira”, afirma a geneticista Maria Carolina Elias, coautora do estudo.
Além do impacto científico, o estudo levanta reflexões sociais profundas. A “democracia racial” muitas vezes proclamada no Brasil esconde desigualdades históricas que também se expressam geneticamente. A forma como a diversidade foi construída — por meio da escravidão, colonização e migração forçada — deixa marcas profundas também no genoma.
Agora, o desafio é ampliar o mapeamento: o Genomas Brasil prevê a sequenciação do genoma de 100 mil brasileiros até 2026. A expectativa é que essa base de dados permita não apenas avanços na medicina, mas também maior soberania científica nacional.
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