Luis María Maidana – Ex goleiro do Verdão e Peñarol analisa Palmeiras x Nacional de Montevidéu

Primeiro goleiro Campeão da Taça Libertadores, primeiro goleiro Sul-Americano Campeão da Taça Intercontinental, jogou na estréia internacional de Eusébio e defendeu um pênalti do Edson Arantes do Nascimento (Pelé). Currículo e tanto de um múltiplo campeão.

PRAVDA: Onde você nasceu?

MAIDANA: Nasci o 22 de Fevereiro de 1934 em Pan de Azúcar, Departamento (Estado) de Maldonado, pertinho de Punta del Este mesmo que minha criancice aconteceu no balneário Piriápolis á partir dos dois anos e meio. Joguei no clube Tabaré de Piriápolis até os dezessete anos que acabei dando um pulo até a Federação de Futebol de Maldonado e daí para Peñarol, isso tudo no ano 1951. Mais logo joguei no Peñarol até 1965.

PRAVDA: Desde o início foi com sucesso, não é?

MAIDANA: Com certeza, o primeiro ano acabei sendo campeão na Terceira Divisão (tinha duas Terceiras, «A» e «B»). Eu tinha idade para jogar nas duas Terceiras mas uma dessas era a o degrau prévio para jogar com os grandes craques. Porém tratavam-se dos reservas do time adulto principal. Esse time jogou uma partida final no Estádio do Central (time que recebeu o Silas faz alguns anos) vencendo o Nacional do Escalada, Mesías, Mañana, Brienza, etc.

Ano seguinte, 1952 também tivemos o privilégio de obter a Taça de Campeão na categoria mas em 1953, o goleiro Dimitrio sofreu cirurgia de menisco e fiquei como reserva do Pereira Natero que tempo depois pediu passe acho que para o Vasco da Gama e foi minha chance de ficar no plantão atrás do Roque Gastón Máspoli, Campeão do Mundo 1950 tendo completado apenas 20 anos. Foram dias muito movimentados para mim nessa época pois joguei na Terceira de manhã, na Segunda á tarde e logo ficava como reserva do Máspoli na Primeira. O treinador da terceira era o mesmo que na Segunda, o «Coco» Espósito. Então meu roteiro era o seguinte: de manhã o time de Terceira jogava em qualquer um dos Estádios de Montevidéu, logo íamos para o Estádio Centenario, um sanduíche, um refri ou cafezinho e ficava pronto para jogar á tarde cedinho na Segunda sendo que no meu caso ficava no plantão atrás do Máspoli. Em uma oportunidade mesmo que não acredite joguei quase os três jogos em um dia só. De manhã no campo do Wanderers na Terceira, logo á tarde no Estádio perante o Danubio na Segunda e tendo andado apenas uns dez ou doze minutos do primeiro tempo o Máspoli machucou e tive que pular em campo,

PRAVDA: Compartilhou concentrações e partidas junto aos maiores craques do futebol mundial, não é?

MAIDANA: Puxa vida, (continua falando sorridente). Na concentração de jeito específico, fiquei do lado do Obdulio Jacinto Varela, o «Pepe» Schiaffino, Oscar Omar Miguez (todos eles Campeões do Mundo 1950) e Juan Eduardo Hoberg (Quarto no Mundo na Alemanha 1954).

PRAVDA: Quanto ao Maracanaço de 1950...eles falavam do assunto com os mais novos da turma do Peñarol?

MAIDANA: Nem por acaso. Eles nunca batiam um papo daquele Maracanaço. O que sempre disseram que aquela façanha aconteceu uma vez só. Caso jogassem mais dez partidas, quase com certeza iam perdê-las. Fora isso eu acabei «sendo parte» daquela turma pois jogaram uma outra versão do jogo sendo veteranos em 1965 em Maracanã quinze anos depois. Antes tinham vindo os brasileiros em Montevidéu e como eu tinha tido problemas no Peñarol e estava indo para Palmeiras, o próprio Obdulio veio até a minha residência, aqui neste mesmo endereço para que eu treinasse com eles pois estavam fazendo creche com a Fundação o Dr. Caritat pelo Uruguai inteiro e logo íamos retribuir a visita dos brasileiros. Acabamos perdendo de 1 x 0 e o artilheiro aquele dia foi o Jair. Então também joguei com aqueles craques brasileiros. Barbosa, Bauer, Danilo, Friassa. Jair, Ademir. Veja só!!

PRAVDA: Você foi um dos jogadores que foram parte da Primeira Edição da Taça Libertadores, aquele invento do ex Presidente do Peñarol, Washington Cataldi?

MAIDANA: Eu joguei desde o primeiro jogo da Libertadores perante os bolivianos do Jorge Wilsterman até o dia da minha despedida do Peñarol em 1965 sem faltar um jogo só. Aqui furamos as redes bolivianas acho que em sete oportunidades e lá na Bolívia a coisa mudou acho que pelo assunto da altura mesmo que no meu caso nunca percebi alterações no meu corpo, apenas que a bola voava bem mais rápido. Um jogo na altura não é normal mas até hoje ninguém morreu lá. Eu chutava desde minha área e a bola alcançava a área rival sem me esforçar. A ar suspendia a bola mais tempo. Treinando em Cochabamba um dia antes do jogo, sem aquela altura de La Paz, nem uma torneira que tinha atrás do gol foi minha parceira tentando deixar a bola úmida porém mais pesada. Aos poucos a bola ficava seca.

Então, joguei desde a primeira rodada da primeira Libertadores em 1960 até o jogo pelas Semis de 1965 perante o Santos em Pacaembu que perdêramos 5 x 4 mas fiz a defesa de um pênalti do Pelé na hora que o Santos ia na frente de 4 x 1. Logo o processo foi 4 x 2, 4 x 3, 5 x 3, 5 x 4 e acima do apito final do árbitro o José «Pepe» Sasía, «machucou» o ângulo da cidadela do Santos que poderia ter sido o empate 5 x 5. Logo o jogo teve mais uma versão em Montevidéu que vencêramos e tínhamos que jogar mais uma partida em Buenos Aires. Aí o preparador físico do Peñarol, Langlade me falou de um jeito que não gostei e acabei saindo da concentração me despedido do Peñarol para sempre. Eu sou assim desse jeito, percebeu...não gosto de uma coisa e...

Logo fui vendido para o Palmeiras que fiquei quatro aos de 1965 até 1968. Mas na Libertadores tive o privilégio de ter ganho as duas primeiras versões da Taça Libertadores 1960 e 1961. A primeira Taça Intercontinental ganha por um time Sul-Americano ficou por conta do Peñarol e eu era o guardião daquele time. O primeiro qüinqüênio do Peñarol na história do futebol uruguaio (hoje tem mais um de 1993-1997) eu participei como titular de 1958 até 1962. Perdêramos apenas a final em 1963 perante o Racing Clube de Montevidéu com um gol no final do jogo. Nessa oportunidade, acabei sendo mais um torcedor do Peñarol dentro do gramado e morrendo de frio pois não segurei nem uma bola só até que no final e logo após que os artilheiros do Peñarol deram a bola em sete oportunidade nas colunas do gol do Racing o centroavante Callá furou minha rede. Fora isso, o goleiro do Racing foi o Ladislao Mazurkiewicz que teve uma tarefa incrível e foi a partir desse jogo que o Peñarol comprou o passe.

Logo em 1964 arvoramos o caneco mais uma vez. Desse jeito assim é o futebol!!

PRAVDA: Você participou dentro do campo da estréia internacional do Eusébio na Final Intercontinental em Montevidéu perante o Benfica?

MAIDANA: Participei mesmo...a Diretoria do Peñarol fez uma jogada estratégica para receber a partida final em Montevidéu, bem feita sabe, pois tínhamos que jogar em Buenos Aires. Mas foi o próprio Benfica que tentou fazer uma permuta. Eles poderiam incluir na lista de jogadores o Eusébio e o ponta-esquerda Carben e o Peñarol teria a vantagem de jogar a final no Estádio Centenario de Montevidéu. Peñarol aceitou, imagina!!! Setenta e duas horas depois, o Estádio mais uma vez lotado e o Peñarol Campeão vencendo o Benfica de 2 x 1. Começamos o jogo em desvantagem pois o Eusébio fez um golaço de fora a grande área, um grande jogador que começava andar acima dos gramados do mundo. Fico orgulhoso de ter obtido todos aqueles canecos tendo na minha frente e contornando a minha grande área destaques do futebol mundial. Aqueles craques do Real Madrid. Na primeira Intercontinental perdida, o jogo em Montevidéu acabou 0 x 0, logo em Madri, 0 x 5. Herrera, Del Sol, Di Stéfano, Puskas e Gento. Cinco vezes Campeão da Europa. Logo a do Santos, Dorval, Vergalho, Cotinho, Pelé e Pepe. A do Benfica, Eusébio, Santana, Água, Coluna e Cabem. No segundo jogo daquela Final em 1961 o Santana acabou não jogando. A do Botafogo, Em Peñarol e no Palmeiras, craques mesmo...Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagalo (O Maidana lembrou se dando uma grande risada salientando a qualidade dos rivais). Conseguir arvorar Taças tendo esses rivais na frente é sempre mais gostoso, não acha?

Perder contra esses craques não ia gerar problemas mas ter ganho...imagina!!!

Adorei jogar sempre partidas difíceis. Felizmente nunca tive lesões e tendo gripe ou coisa semelhante tinha vontade de jogar sempre. Não dava a chance para ninguém, adorava jogar pois não gostava ser reserva. E como assim dessa forma eu jogava oficialmente sempre, adorava... pois goleiro precisa jogar e a «validade» é eterna.

Poderíamos dizer que conhece aos jogadores do time de cor. Entrando e saindo, não é a mesma coisa, tenha certeza. De 80 jogos, entrava com as luvas 78. Lesões zero. Treinava muito

PRAVDA: Agora que o Rei Pelé vai comemorar 69 anos em Outubro e levando em consideração a maravilhosa carreira profissional dele...valoriza ter feito uma defesa ótima de um pênalti chutado por aquele grande?

MAIDANA: Fiz a tarefa, só isso. Assinei contrato com Peñarol para isso, porém acho que acabei fazendo aquilo que prometi poderia fazer em prol do time. Eu sei, a torcida e a população toda valoriza bem mais pois foi o Pelé, pelo «tamanho» desse craque. O importante é salientar que fora o craque, Pelé foi uma pessoa muito legal, joguei Semis e Finais perante o Santos sendo parte do Peñarol. Logo na hora que o Brasil conquistou a segunda Taça do Mundo em Chile 1962, Uruguai jogou em Montevidéu perante o Bi-Campeão e lembro as manchetes da imprensa da época...Maidana 1 x Brasil 0. Esse dia foi inesquecível para mim...mergulhei uma e mil vezes fazendo boas defesas e foi ótimo para mim pois infelizmente não fui titular no Mundial. Ele sempre valorizou o Maidana e na hora que fui para o Palmeiras, encontrava o Pelé como rival duas ou três vezes cada ano. O tratamento que ele me deu foi sempre ótimo e no meu caso tentei retribuir pois tratava-se de um senhor maiúsculo no gramado e só mostrava as travas das chuteiras caso precisar. Foi um dos melhores que eu vi na minha vida, bem mais que o Maradona, fazia tudo bem, além de alguns detalhes que diferenciavam-nos mas vamos deixar isso para uma oportunidade. Acho que é bom salientar mais uma do Pelé...tudo mundo lembra-se é o grande artilheiro que ele foi mas saiba que deixava os outros artilheiros do time na frente do gol rival. Me lembro agora daquelas tabelinhas que montavam junto com o Coitinho. O Pelé com posse de bola perto da grande área rival fazia o cruzamento para o Coitinho que dava aquele mergulho entre os dois zagueiros, ultrapassando-os para concretizar o gol. Acho que os dois esqueceram a quantidade de gols que conquistaram desse jeito assim.

PRAVDA: Quanto ao Palmeiras, conseguiu obter troféus como aconteceu vestindo a camisa do Peñarol?

MAIDANA: Infelizmente não consegui. Na hora que eu cheguei no Palmeiras tinha um grandíssimo time e compartilhava o gol com Valdir que tinha muitos anos vestindo a número um. Sendo reserva dele, acho que na terceira partida, fiquei com a vaga do Valdir em um jogo mas estragou meu joelho. Um centroavante que tinha jogado na Portuguesa, Enrique Frade que foi logo jogador do Nacional, vestindo nessa oportunidade da camisa do Corinthians caiu acima de mim e acabou ocorrendo minha lesão. O Djalma Dias, zagueiro do «Verdão» não conseguiu conter o Frade, eles deram uma batida e caíram juntos acima da minha perna. Meu joelho ficou...nem sabe como...

Logo voltei, tivéramos alguns jogos para o lado de Ourinhos, Bauru, perto da divisa paraguaia e em um jogo que tinha chovido pra caramba, o gramado era um lamaçal mesmo e na hora que teria que ter segurado a bola, o Djalma Santos pediu-a para mim e acabei dando um toque nela mas o centroavante rival que aproximava-se muito rápido segura o meu corpo e as travas da minha chuteira ficaram grudadas na lama. No início não houve cirurgia mas logo não houve escolha. Três meses depois voltei de novo...daí para frente era titular, logo reserva e a coisa muda, nada é igual que sendo titular sempre. Quase doze anos como titular em Peñarol nunca fiquei na reserva. Além disso tinha completado 34 anos.

PRAVDA: Se lembra do endereço da residência sua lá em Sampa?

MAIDANA: (Com a ajuda da esposa, Gladys Coitinho). Morei perto do Estádio Palestra Itália, na Água Branca, acho que uns seis quarteirões. Caíubi 1270 com a travessa Apinagés, primeiro no segundo andar debruçando para Caíubi e logo num outro apartamento desse mesmo prédio que debruçava para a Apinagés, no quinto andar.

Nossa filha Jacqueline (hoje á mais velha das três) viajou com apenas 15 meses para Sampa. Mais logo dirigindo na Rodovía Giannatasio perto do Aeroporto de Carrasco em Uruguai capotei. Voltei logo para o Palmeiras, houve novo contrato assinado mas não foi como vestindo a camisa do Peñarol. Embora, acho que me comportei bem pois sou convidado das Diretorias do Palmeiras para comemorar os aniversários do clube a cada 29 de Setembro, eu acho, um dia depois que a data de nascimento do Peñarol.

Ás vezes vou, ás vezes não. Esse negócio do avião me incomoda bastante. As festas são sempre no Estádio Palestra Itália.

PRAVDA: Houve estádios mais confortáveis para jogar que outros? O Centenario de Montevidéu, Palestra Itália, Pacaembu...

MAIDANA: Joguei em muitos estádios e na maioria dos casos foi acima dos trilhos, caso contrário não poderíamos ter ganho tantos jogos e canecos. É assim desse jeito.

Joguei no Estádio La Bombonera de Boca Juniors da Argentina perdendo 1 x 0 quase no final. No Monumental de River Plate de Buenos Aires; no antigo Esttádio Chamartín (Hoje Santiago Bernabéu) do Real Madrid na Intercontinental de 1960; no Estádio da Luz de Lisboa, no Olímpico de Roma com o Milão e a Roma, no Lenin de Moscou neste caso com a seleção uruguaia na prévia para Chile 1962 tendo no outro gol o famoso Lev Yasim (apelidado «Aranha Negra» e segundo a imprensa o melhor da Europa) e perdendo 5 x 0 perante os russos da CCCP.Quanto ao Yasim, tratava-se de um goleiro rápido, alto e cortava muito bem as bolas que caíram na área. Não gerava rebote, negócio importante para os goleiros. Antes é agora foi sempre a mesma coisa, o goleiro tenta impedir que a bola ultrapasse a linha de funda embaixo do travessão.

PRAVDA: Se lembra do jogo que aconteceu no Estádio Centenario entre o Peñarol e o Palmeiras como parte do seu passe para o «Verdão»? Houve socos mesmo?

MAIDANA: Foi difícil. Eu entrei na segunda metade fazendo a estréia no Palmeiras. O jogo ia 0 x 0 e o Palmeiras tinha um equipe ótimo, Djalma Dias, Djalma Santos, Ademir Da Guia, Cervilho, Tupãzinho, Geraldo Scotto, Zequinha, Renato, conquistando a Taça Rio-São Paulo mas infelizmente não tinha sido incluído na lista de jogadores porém não participei do torneio. Logo conseguíramos o Vice-Campeonato no Brasileirão e Campeão Paulista. Estádio lotado e coitados os brasileiros agüentando tudo, acho que o único que não recebeu «carícias» acabei sendo eu que tentei sempre dividir colegas de um lado e do outro. Três meses antes compartilhava as concentrações com Alberto Spencer, Juan Joya, o Nestor «Tito» Gonçalvez, o «Pardo» Julio César Abadie. Logo a bagunça acabou acalmando-se. Acho que o Peñarol não se comportou muito bem, Não foi justo não. Fala-se que os jogadores brasileiros são teimosos, que tem medo e posso acreditar que isso é uma lenda, é mentira. Tem simplesmente um estilo de jogo diferente ao nosso, fluente com a bola. Aprendi a conhecê-los até como treinador em um time pequeno, Nove de Julho, no norte de Paraná, em Cornélio Procópio, 400 km da capital rumo ao Norte. Entre eles tinham brigas, socos e tudo quanto possa imaginar e ninguém fugia. Aqui achamos que os brasileiros não são fortes e tem medo pela vitória que conquistamos em Maracanã e não tem nada á ver. Tem o estilo próprio, preferem ziguezaguear os rivais pois não tem sentido ter uma batida perante os jogadores do outro time. Tem? Não tem, verdade? A mesma coisa acontece hoje no futebol inglês. Na hora que o rival fica de perto, eles tocam a bola. Eles também acham que não tem sentido topar o rival, perder a posse de bola e até ganhar uma lesão.

PRAVDA: Nesta Quinta 28 de Maio vamos ter o primeiro jogo Palmeiras x Nacional de Montevidéu. Meados de Junho o «Verdão» retribui a visita no Estádio Centenario. Seu palpite? A Diretoria do Palmeiras vai convidá-lo para compartilhar uma janta no hotel?

MAIDANA: Está faltando ainda bastante para o jogo em Montevidéu e vou ligar para o Presidente do Palmeiras para me colocar ao dispor do clube. Mesmo assim acredito que eles já devem ter enviado com antecedência uma pessoa do clube para matar aqueles assuntos que envolvam a vinda do time para Montevidéu. Eles planejam tudo. Vou dar um pulo até o Hotel mas primeiro vou ligar para o Presidente.

Eu assisti alguns jogos do Palmeiras e não é aquele timaço de 1999. Perdeu perante o Colo-Colo 2 x 0 no Parque Antártica, logo a vitória perante o Sport Recife em Sampa mas não consegui assistir o jogo da classificação em Recife semana retrasada. Fora isso é um time difícil de vencer, Nacional está nessa fase das alterações de um jogo para o outro. Insere três ou quatro jogadores em um jogo e seguinte uns outros. O Palmeiras mantêm o esqueleto sempre. Como acontecia antes, o mesmo time jogava perante o Rampla Juniors, com o Danubio, o Defensor e meados de semana os jogos da Libertadores, mantendo sempre o mesmo time em campo. O resultado final dos dois confrontos é impossível de imaginar pois são rivais que acho não tem vantagens um acima do outro. O gol concretizado fora de casa é uma arma sempre importante, isso temos que levar em consideração. Se tivesse que arriscar, acho que é mais difícil para Nacional do que para Palmeiras. Os brasileiros têm que jogar de visitante mesmo em qualquer cidade desse grande país continente. Eles jogam perante o Fluminense, o Flamengo, Botafogo, Vasco, e no interior de São Paulo também é muito difícil. Naquela época em Ribeirão Preto tinha dois times difíceis, o Botafogo e o Comercial; em Campinas, o Guarani; em Santos. Jogam perante o time rival, os árbitros, as arquibancadas ferventes. Então para eles vir para Montevidéu, tanto faz. Pressão nenhuma para eles e no Estádio Centenario melhor ainda pois envolve muita segurança.

PRAVDA: Amigos do Peñarol e do Palmeiras que ainda continue o relacionamento?

MAIDANA: Amigos, de Peñarol são muitos. Infelizmente muitos faleceram. Nos últimos três anos faleceram um monte, Alberto Pedro Spencer, Oscar Omar Mígues, Juan Joya Cordero, Santiago Pino, Omar «Cacho» Caetano o último.

No caso do Palmeiras também tenho relacionamento ótimo com muitos que temos nossos encontros na festa que organiza o time a cada aniversário. Fico muito contente na hora de vê-los e acho que também eles ficam felizes de me ver. Não gosto muito de ligações, de escrever cartas. Vivo isolado do ambiente do futebol. Tenho crachá para entrar de graça no Estádio Centenario e acho que faz cinco anos não refaço credenciamento. Esse futebol que eu gostava já não existe. Tratamento fluente da bola, falhas no encerramento da jogada, nesses toques de bola simples que acabam errando. Isso gera estádio sem pagantes, da para entender?

Regredindo para á sua pergunta, os amigos do Palmeiras pedem para mim escrever, ligar mas isso fica aí. Também não fazem pouso em Piriápolis pois eles tem praias maravilhosas no Brasil. Todos eles foram e são pessoal muito legal.

Me lembro dos amigos do Peñarol mais uma vez; ás vezes tínhamos reuniões para bater papos da vida no Clube Náutico, Ramírez e ficamos sempre surpresos pois a Diretoria do time nunca convidou essas turmas que lotaram as vitrinas de canecos com um cafezinho, um churrasco. Não trata-se do custo de um churrasco para uma turma pois acredito que no máximo fica no eixo dos 500 dólares. Acho que contribuíramos bastante com o clube...primeira Taça Libertadores, segunda Taça Libertadores, primeira Taça Continental de um time sul-americano, primeiro quinquênio do clube. E agora o que acontece...não estou querendo ferir ninguém...ganham um caneco agora e logo? Ótimos salários. O assunto não é a grana do churrasco senão o reconhecimento. Infelizmente ficamos muitos poucos daquela turma. Faz pouco tempo fizeram uma homenagem ao «Lucho» Borges pois ele furou a primeira rede no histórico da Libertadores perante o Jorge Wilsterman e recebeu uma placa honorífica. Hoje somos apenas quatro jogadores que ficamos daquele time, Luis Alberto Cubilla que está longe e não podia vir, o «Tito» Gonçalvez, o «Lucho» e eu. Ninguém se lembrou de nós no clube. A vida é assim percebeu?

PRAVDA: Voltando ao Brasil, qual foi o clássico do Palmeiras, o São Paulo, o Corinthians?

MAIDANA: Ao meu ver, o Corinthians. Fora isso, lá tem quatro clássicos, pois até a Portuguesa do Canindé era clássico naquela época. Santos era clássico bem mais naquela época que tinha um timaço. Acho que primeiro era o Corinthians, logo Santos, São Paulo e a Portuguesa. Agora não sei se houve mudanças nesse sentido. São Paulo nem estádio o clube tinha. Nessa época jogava em Pacaembu; Corinthians começava construir o Estádio; estou me lembrando agora que quanto ao São Paulo, alcancei jogar no Morumbi. Por enquanto, a grande maioria dos jogos aconteciam em Pacaembu e quase todos clássicos.

PRAVDA: O palpite para o jogo Uruguai x Brasil rumo á África do Sul 2010? Com Diego Forlán é um jogo, sem ele é um outro?

MAIDANA: Esteja quem estiver em campo, tanto faz. É bom salientar que Uruguai melhorou bastante nos últimos jogos pela Classificatória. A engrenagem das peças é bem mais fluente que antes. O rendimento da seleção foi bem melhor que no início desta classificatória, disso tenho certeza.

Até o jogo com a Venezuela após a partida perante o Brasil é difícil. O Caracas está brigando com o Grêmio Porto-Alegrense por uma vaga nas Quartas. O último jogo que assisti ao vivo no Estádio Centenario foi perante a vinho-tinto que perdêramos 3 x 0.

Quanto ao jogo perante o Brasil...Brasil tem jogadores incríveis, bem mais que os nossos, é assim mesmo. Acho que os nossos jogadores na grande maioria jogam em «timezinhos» e os brasileiros jogam no Milão, no Real Madrid, no Barcelona e como no caso específico do Barça, eles têm muitos jogos importantes na Liga da Espanha, na Copa del Rei e agora atingiu o alvo da final Européia (Champion League) perante os ingleses. Esses jogadores no meu ver são todos da elite do futebol mundial.

Colocando na balança, um jogador uruguaio e um brasileiro, eles jogam melhor que os nossos. De nosso lado, o Diego Forlán que está perto de mais um caneco de «Pichichi» na Espanha mas fora ele, qual é grande destaque no mundo?

Os nossos goleiros não são goleiros de elite, são apenas bons goleiros. Sebastián Viera que fica na reserva do Villarreal, na seleção acabou sendo titular. Se fosse tão bom assim teria que jogar lá na Espanha, não é?

Fabian Carini, jogou sempre na seleção e foi reserva em todos os times nos quais assinou contrato, não é?

Os brasileiros jogam sempre com a camisa titular.

Faz muito tempo que na hora da análise não sou torcedor de ninguém, as camisas do Peñarol e da seleção não influenciam na minha análise. Joguei futebol, e agora não entro em campo, porém assisto aos jogos deixando a paixão na gaveta. Eles são melhores que nós mas também poderíamos ganhar o jogo do jeito que ganhamos em Maracanã 1950. Oscar Migues, aquele camisa nove do Maracanaço, grande amigo da gente, falou sempre assim para mim. Saiba que jogamos mais dez vezes, numa semana, num mês ou num ano e vamos perder sempre.
Minha esposa, minhas filhas dizem que sou contra. Eu acho que não sou contra de nada. Só por acaso qualquer time pode obter uma vitória perante um outro. Futebol é assim, é surpresa. Um timaço não tem um jogo bom um dia e acaba perdendo-o. O azar faz parte deste assunto.

O pingar da chuva marcou o final da reportagem com Dom Luis María Maidana, um dos grandes jogadores do futebol uruguaio com escala no Brasil segundo os idosos fãs do futebol. Caso não ter tido a possibilidade de vê-lo naquelas defesas ótimas, a melhor referência dele são os canecos ganhos.

A esposa, Gladys Coitinho, neta de portugueses, foi importante na montagem desta reportagem compartilhando lembranças daquela cidade de São Paulo que adoraria reconhecer pois faz muito tempo que não viaja para essa Selva de Cimento que adora.

A filha mais velha, Jacqueline Maidana, psicologista de crianças, acabou sendo nosso contato com o papai e foi a única das filhotas que conseguiu curtir Sampa sendo ainda a neném do matrimonio Maidana-Coutinho.

Eles casaram o 20 de Setembro de 1958. Acabaram de comemorar meio século compartilhando casa, anéis e projeto de vida. As Bodas de Ouro chegaram para o guardião e sua esposa que nos trinta e tantos, escreveram duas cartinhas para a cegonha de Paris ainda em Sampa porém as outras filhinhas tem muito de paulistanas e num caso até o nome. A caçula é a Jenisse, por enquanto a segunda na fileira é a Solange.

Eric, Michele, Romina, Cecilia, Luana e Luis Ivan os netos do casal.

O Luis Ivan talvez possa ser o herdeiro do vovô Luis María, segurando as luvas do time Córcega na categoria 11 anos do bairro Carrasco que envolve futebol baby. O vovozinho é orgulhoso treinador do neto além de fundador do time da camisa laranja com campo na Rua do mesmo nome do clube.

O destaque de hoje pendurou as luvas. Embora compartilhou suas lembranças com os leitores do PRAVDA. Obrigado Campeão!!!

A reportagem do Luis é um presentinho do PRAVDA para a filha mais velha, Jacqueline que com cheirinho paulistano comemora hoje Segunda 25 de Maio quarenta e cinco.

Fotos: 1 – Luis María Maidana com a camisa do Palmeiras que comemora a Libertadores 1999, assinada por todos os destaques da turma campeã.

2 – Gladys Coitinho e Luis María Maidana segurando um outro amor na vida, a flâmula do Peñarol que tem uma faixa que diz: Glorioso Peñarol.

Correspondente PRAVDA.ru

Gustavo Espiñeira

Montevidéu – Uruguai

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey