Será que o CDS-PP irá alterar o nome para o Partido do Pugilato? O Conselho Nacional deste partido foi cena este final de semana de alegadas agressões, insultos e ameaças antes de várias figuras do partido, na segunda-feira, fazerem declarações contrárias, desculparem-se e acusando a facção rival de ter começado o mal estar.
Mais pareciam um bando de meninos-bem num patamar de um colégio exclusivo depois de uma briga. Petulantes, vieram à praça pública desculparem-se a facção fiel ao líder, Dr. Ribeiro e Castro, a acusar a facção de Paulo Portas, uma espécie de Jabba the Hutt na política portuguesa, de ter iniciado o mau clima no seio da reunião do Conselho Nacional. Por sua vez, a facção que gravita a volta de Paulo Portas, que saiu do partido há precisamente dois anos, admitindo que tinha falhado em todos os seus objectivos (depois do partido praticamente desaparecer nas eleições) acusa a Direcção do partido de estar agarrada ao poder a qualquer custo.
Seja quem for que criou o mau ambiente, se um grupo de políticos (profissionais, alguns) que representa as ideias políticas dos militantes do CDS-PP, se demonstra incapaz de conduzir uma reunião sem o tipo de cena que acontece amiúde no Taiwan, diz muito sobre este partido que cada vez mais parece um grupo de apoio para projectar Paulo Portas à vida pública.
Se esta é a direita em Portugal (o CDS-PP se apresenta à direita do PSD, sendo uma formação conservadora), então a esquerda só pode regozijar. Porém, onde está a oposição ao Partido socialista, com s menor, do Primeiro-Ministro José Sócrates, esse que parece uma dona de casa com um estado avançado de Alzheimer, armada com uma tesoura gigante a cortar tudo que mexe à sua volta, como de uma Dona Quixote se tratasse a carregar contra os moinhos.
Escolas primárias, escolas secundárias, cursos, cadeiras nas faculdades, maternidades, clínicas, postos de trabalho cortados...políticas de laboratório que parecem bonitos e fazem sentido no papel mas que demonstram que nem o Primeiro-Ministro, nem a sua equipa, conhecem o país.
Por quê? Porque a maioria são políticos profissionais que nunca fizeram um dia de trabalho normal nas suas vidas. Não sabem o que é gerir um salário médio, quanto menos um salário mínimo ou uma pensão de miséria. Não sabem o que é utilizar um hospital público, onde os doentes estão deitados a gemer nos corredores, alguns com dores extremos durante três ou quatro horas porque ninguém é capaz de gerir a sua dor, administrando um analgésico. Não sabem o que é ficar desempregado e depois ter de esperar meses, repito, meses, antes de receber o subsídio. O quê é que querem que as pessoas façam? Prostituir-se?
Cortar serviços para reduzir o défice público é uma obrigação imposta por Bruxelas, na senda de chegar à taxa de convergência, com o défice a 3 por cento do PIB. No entanto, há que ter bom senso e há que escolher políticas menos abrasivas que não lesam tanto as pessoas, pois ninguém tem culpa de ter nascido português, no entanto com esse tipo de governação, parece um castigo, uma espécie de Mal Original.
Com esse tipo de gestão que se viu este final de semana no Partido do Pugilato, com o tipo de gestão que se vê no PS de Sócrates, que aparece sensivelmente mais à direita do PSD com Santana Lopes, não surpreende que Portugal passou já à 19ª posição na tabela da Europa dos 25.
Com esse tipo de gestão, não surpreende que nos grandes hospitais, apesar da taxa de ocupação aumentou por 30 por cento, devido ao fecho dos centros hospitalares menores, não há pessoal nem equipamento suficiente. De facto, reina o pandemónio.
Com esse tipo de gestão, não surpreende que os políticos seniores que tomam esse tipo de decisão ignoram a realidade, pois nasceram, e viveram sempre, numa redoma de cristal confortável, socializam com pessoas da classe económica A1 e o mundo real, em que a maioria dos portugueses vivem, é para eles extra-terrestre.
E onde está a esquerda?
Está de costas viradas, fraccionada, tão petulante como a direita, tão infantil como aquele bando de meninos conservadores que vimos este fim de semana. Em vez de estar unida, determinada, forte e confiante, perante o fracasso dos três partidos que habitualmente formam Governos em Portugal (CDS-PP, PSD e PS), a esquerda está fragmentada e sem qualquer vontade de apresentar qualquer plataforma unida, qualquer alternativa credível, simplesmente porque A não fala com B, porque pertence a esse grupo ou aquele.
Sendo assim, a esquerda continuará como está, internamente dividida e por isso sem qualquer poder de intervenção na sociedade portuguesa, que por sua vez continuará a ser liderada por meninos e meninas com sorrisos bonitos e pouco ou nada entre as orelhas. Se isso é o melhor que se pode arranjar para a juventude, não surpreende também que os jovens estão a sair do país na primeira oportunidade de arranjam.
Venham os imigrantes.
Timothy BANCROFT-HINCHEY
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