Aquecimento global, efeito estufa e dilapidação do capital natural para atendimento aos padrões de produção de um tipo de economia cada vez mais agressivo em relação à natureza, são temas que, hoje em dia, ocupam certa posição de destaque na pauta de discussão dos principais líderes mundiais.
Marcus Eduardo de Oliveira
Diante desses temas, porém, encontra-se um dilema a ser equacionado, uma vez que isso tem desequilibrado todo o meio ambiente do planeta Terra, com reais possibilidades de presenciarmos, num futuro não muito distante, um cenário catastrófico para todos, ainda que haja relativa discordância quanto aos possíveis acontecimentos futuros.
O dilema fica por conta de duas posições diametralmente opostas e que acirram o debate sobre as questões ecológicas em sua íntima relação com a atividade econômica. De um lado, respondendo em nome da comunidade científica internacional, estão os que defendem que o desequilíbrio do planeta, alterado substancialmente pelo aquecimento global, é fruto imediato da irresponsável ação antrópica, restando pouco tempo para a reversão desse caótico quadro.
Do outro lado, estão os pesquisadores chamados comumente de céticos que defendem que o planeta, em breve, estará mais frio, dado o clima ser mais influenciado por radiações cósmicas que por ações dos humanos, viciados no consumismo, habituados a uma economia de produção de suntuosidades.
Partindo de uma posição voltada ao bem maior que é o cuidado, termo que muito mais que um substantivo é uma ação de cautela, quer seja em relação ao ser humano ou ao meio ambiente, enquanto não se "resolve" esse dilema, o mais sensato a ser feito é justamente procurar proteger (cuidar) o espaço natural do qual todos estamos inseridos.
Ainda que se desconheça em toda a plenitude os limites de tolerância da natureza e, mais especificamente, qual seu ponto de equilíbrio, sabe-se, com elevado grau de certeza, que muitos desses limites já foram abusivamente ultrapassados, e que não é mais possível continuar mantendo, em ritmo acelerado, as políticas de crescimento da economia global pautadas na extração descomedida de recursos naturais.
A continuidade desse tipo de economia linear que aí está que extrai, produz e descarta sem critérios e sem o devido respeito à capacidade de resiliência da natureza, somente tem potencializado a crise ambiental.
Como bem aponta o professor Rodnei Vecchia, os ecossistemas - suporte da atividade econômica (grifo meu!) - tem de ter a capacidade de resiliência ou elasticidade necessária para suportar as deformações e retomar sua forma original a fim de fornecer alimentos, energia, água e estabilidade climática em prol do equilíbrio e da continuidade da vida.
No entanto, continua o referenciado autor, não se respeita o tempo necessário para a recuperação do capital natural; pelo contrário, extrai-se da natureza mais que sua capacidade de restauração. (*)
O respeito aos limites de tolerância da natureza precisa estar em consonância com um modelo de desenvolvimento econômico sustentável, capaz de priorizar as pessoas, e não as mercadorias, de caráter social e ambiental equilibrados, afastado, portanto, do modelo de crescimento econômico ora em vigência, que cultua a economia do descarte, do desperdício, de característica ambientalmente destrutiva e largamente insustentável.
Nesse pormenor, cabe às gerações atuais, como ação prioritária e como padrão de comportamento de vida, identificar, cuidar e, claro, respeitar, cada limite da natureza expresso, notadamente, nos principais serviços ecossistêmicos, pois somente assim essa geração deixará como herança às gerações vindouras um planeta ecologicamente equilibrado, uma terra sem sobressaltos, um tipo de economia moderada, compatível com um sistema ecológico que não se submeta ao sufoco da ânsia da produção industrial sem critérios de observância aos limites, para que, com tudo isso, se possa então alcançar um tempo de vida mais confortável para todos.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental
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