A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) aumentará sua produção de petróleo pela primeira vez no período de mais de um ano devido a receios de que os preços da commodity, próximos de seu recorde, prejudiquem a economia mundial, que já está sofrendo com a desaceleração do setor imobiliário dos Estados Unidos.
A Arábia Saudita, que é o maior produtor da organização, liderou os demais na decisão de acrescentar 500.000 barris/dia à produção do grupo a partir do dia 21 de novembro próximo em relação a seu atual volume, informou o ministro do Petróleo do Catar, Abdulla bin Hamad al-Attiyah, informa a Gazeta Mercantil.
O novo limite, que vale para 10 dos 12 países-membros do grupo (exceto Angola e Iraque), totalizará 27,2 milhões de barris/dia, disse em entrevista o ministro em exercício do Petróleo do Kuwait, Mohammed Abdullah al-Aleem.
Estimulada pelos Estados Unidos, a Arábia Saudita superou a oposição apresentada por Venezuela, Argélia e Irã, que também são países-membros do organismo e para quem o mundo está bem abastecido de petróleo. Os preços do combustível, próximos de seu recorde, representam mais um entrave à economia mundial, que já está sendo golpeada pelo choque no mercado de crédito dos EUA, país que é o maior consumidor mundial de petróleo.
"Eles reconhecem que haverá um impacto sobre o crescimento da economia mundial se os preços ficarem nesses níveis bastante altos", disse ontem, em Viena, John Hall, diretor-executivo da empresa de consultoria sobre petróleo John Hall Associates. "Eles têm de tomar uma atitude."
A mudança na cota é uma surpresa. Vinte e três operadores e analistas do setor de petróleo ouvidos em pesquisa realizada pela Bloomberg News na semana passada previam que a Opep manteria sua meta produtiva inalterada.
O fantasma da crise asiática pareceu também sobrevoar a reunião em Viena. "Estamos preocupados com os mercados financeiros", declarou a jornalistas o secretário-geral da organização, Abdulá el Badri, minutos antes do início da reunião ministerial do cartel.
Os ministros de Energia da Venezuela e da Argélia expressaram temor de aumento da oferta de óleo bruto no momento em que a demanda pode cair com a desaceleração econômica mundial gerada pela crise dos créditos hipotecários de alto risco ("subprime") dos Estados Unidos. "A Opep tem que estar atenta à situação financeira nos mercados norte-americanos", estimou Rafael Ramírez, ministro de Energia e Petróleo venezuelano, que insistia em que é necessário manter a produção oficial em 25,8 milhões de barris diários (mbd).
"Temos de esperar. Vamos esperar a reunião de cúpula (de líderes da Opep em novembro em Riad) e a reunião extraordinária em dezembro (em Abu Dhabi) para tomar a decisão correta, ao contrário do que ocorreu em Jacarta, quando tínhamos a mesma situação e tomamos a decisão errada", afirmava, antes da decisão, o ministro de Energia da Argélia, Chakhib Jelil. No início de 1997, pouco antes da crise asiática, a Opep decidiu em Jacarta aumentar a produção em 10%. Em 1999, o barril registrava queda de 50%, recuando de US$ 20 para US$ 10.
"Se a Arábia Saudita, maior produtora mundial de ouro negro e líder de fato da Opep, "realmente quer aumentar a produção, todos aceitam", afirmou Paul Tossetti, analista da PFC Energy, uma consultora especializada com sede em Washington.
O ministro de Petróleo da Arábia Saudita, Ali al Naimi, que se manteve em silêncio desde que chegou a Viena na sexta-feria passada, vinha sofrendo crescente pressão dos países industrializados grandes consumidores de óleo bruto para aumentar a produção.
O preço do barril registrou em Nova York na segunda-feira o maior nível desde o começo de agosto e situou-se a poucos centavos de seu recorde absoluto de US$ 78,77 de 1º de agosto último.
Petróleo bate recorde
Apesar da decisão da Opep de aumentar a produção, os preços do petróleo continuaram em alta e ontem atingiram novo recorde de fechamento na Bolsa de Mercadorias de Nova York, onde o barril do WTI para outubro foi negociado no encerramento do pregão a US$ 78,23..
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