O que se viu na noite de hoje, em Lisboa, foi algo nunca antes visto. Poucos minutos depois de começado o concerto de ontem à noite, e ao som de No Expectations, Ana Moura entrou em palco e cantou com os Rolling Stones perante cerca de 30 mil pessoas em Alvalade.
Anunciava Jagger que este No Expectations teria um sabor português, "romântico" mas não se esperava que, depois de terem assistido, na passada semana, à actuação da fadista portuguesa numa casa de fados, trouxessem o fado para a sua casa.
E tornassem a sua música ainda mais universal. O público aplaudiu e a expressão de Ana Moura dizia tudo. Nunca o fado foi tão moderno, tão calças de gannga nem tão rocknroll. Ainda que o resultado estivesse loge da excelência.
Grande parte do público era constituído por gente com mais de 30 anos. Mas também proliferavam muitos pais com os respectivos filhos já devidamente convertidos à devoção pela banda de "Satisfaction".
António Oliveira, de 48 anos, era um deles. "Já os ouço, sei lá, desde 1970". Esteve em todos os concertos que a banda de Jagger deu em Portugal e, como tal, não esperava grandes surpresas para o espectáculo de ontem. Mesmo assim, e apesar de considerar que "este deve ser igual ao concerto do Dragão", o fã não aguentou ficar em casa, não obstante, também, o preço exagerado dos bilhetes (69 euros era o mais barato). "Esse é que é o grande senão", lamentou. Na sua óptica, aquilo que mais lhe atrai nos Stones "é o misticismo". A seu lado, o filho, João Oliveira, corroborava as palavras do progenitor.
No que concerne à estrutura,a relva estava forrada com uma película de plástico almofadada que, ao final da tarde, convidava a um sentar preguiçoso . À volta abundavam os bares, as casas de banho e vendedores ambulantes que tentavam despachar binóculos a 10 euros. À frente, o palco metia respeito um ecrã gigantesco no centro com duas espécies de asas .Do palco saía ainda um corredor que penetrava pelo relvado fora.
O fogo de artifício dá o mote para a explosão: nos ecrãs representam-se milhares de partículas à deriva, frenéticas. Voam carros, aviões, e os rostos de cada um dos Stones são representados pela fusão rápida dessas partículas. E a rapidez eleva a adrenalina de tal forma que, quando se ouvem os primeiros acordes e se olha para o palco, o brilho do casaco de Keith Richards parece torná-lo ainda mais incandescente. Os dados para uma enorme noite de festa estavam lançados ao som de Start Me Up, claro.
Desfilaram sucessos e soltaram-se hinos, de Paint It Black a Bitch, Its All Over Now, Honky Tonk Women ou You Got Me Rocking; Ill Go Crazy marcou a homenagem a James Brown e You Got The Silver e I Wanna Hold You trouxeram um tímido Richards para o microfone principal. Com Sympathy For The Devil suspeitou-se que os Stones tivessem vendido a alma ao diabo e que isso justificasse a sua juventude. E era! Ou talvez essa sede esteja para sempre relatada naquele que foi o momento mais alto do concerto: Satisfaction (com direito a uma mega-língua insuflável a encher o palco!).
Foi esta uma noite de verdadeiro rocknroll. O rock que é feito de guitarras, sim, mas que transpira a sensualidade do rhythmnblues, que é quente com os arranjos dos metais e profundo com os arranjos de voz. O rock que também é feito de jams - que os Stones não recusam. É um rock de estádio mas não é arrogante nem distante; antes se cria íntimo quando a banda sobe para um pequeno estrado que a leva, por três canções, até meio do recinto, numa viagem só possível por estarmos defronte de uma mega-produção. Os Stones estavam literalmente no meio de nós. E enquanto cantavam "It's only rock'n'roll..." numa mnve que vogava no meio da multidão, percebeu-se a sua missão.
Houve labaredas a envolver o palco e explosões de pirotecnia. Anunciava-se que este era o maior espectáculo de rocknroll do mundo e os Rolling Stones cumpriram a promessa. Vocês foram um público fantástico, despedia-se Jagger, que no encore ainda tinha energia para fazer um sprint e correr até ao fundo do estádio, mesmo ao nível do seu público. Juntaram-se os quatro na boca do palco e agradeceram a devoção.
Fonte Blitz
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