Com apoio oficial da prefeitura da cidade o Rio de Janeiro pode criar nos próximos anos a Cidade do Sexo. A informação saiu no jornal O Globo, em reportagem do jornalista Alessandro Soler. A Cidade do Sexo, um centro de estudos, comércio, entretenimento, memória e medicina ligados ao tema, foi concebida por Igor de Vetyemy para ocupar a Avenida Princesa Isabel, em Copacabana, uma zona de prostituição. O prefeito Cesar Maia, no entanto, prefere que o projeto vire realidade, mas na zona portuária.
A construção e a administração caberiam à iniciativa privada. Vetyemy estima em algo como R$ 260 milhões o custo de implantação, com a geração de mil empregos nas obras e 300 na abertura. O poder público facilitaria o processo e participaria dos debates com a sociedade. Para muitos é original, futurista, moderna . A procura por sexo e a prática de prostituição a céu aberto nas ruas de Copacabana são conhecidas. O projeto é uma forma também de concentrar tudo num só lugar e com outros serviços, como centro de estudos, assistência médica etc. O site Regional online publicou diferentes opinhões.
Sonia Braga considera boa a idéia de construir as cabines ou as cápsulas para a prática de sexo, mediante pagamento.
- Vé, e os motéis também não funcionam assim? Só acho estranho que isso parta da iniciativa pública. Por que em vez de cabines não se investe num centro de aconselhamento público sobre as questões da sexualidade e do sexo? - comenta a atriz, acrescentando que o projeto não prejudica a imagem dos cariocas.
- A cidade só tem a ganhar, pois mostrará ao mundo que o Rio é uma cidade de personalidade liberal, que encara o sexo de forma natural. Isso, lógico, se a divulgação do projeto for feita com a abordagem pertinente. Do contrário, corre-se o risco de enviar para o mundo a idéia errônea de que o Rio é o paraíso para aqueles que são adeptos do turismo sexual.
E se, além de museu, houver uma cinemateca na Cidade do Sexo, Sonia tem algumas sugestões:
- Não poderiam faltar O império dos sentidos, Dona Flor e seus dois maridos e Eu te amo.
Para a atriz Mônica Martelli, em cartaz com a peça Os homens são de Marte... E é pra lá que eu vou, o projeto é válido se for para melhorar a qualidade de vida dos profissionais de sexo.
- A Cidade do Sexo pode trazer mais segurança física para esses profissionais. Você pode delinear um espaço físico contra a violência. E ainda passa noções de saúde, entre outros benefícios. Lembra Amsterdã - diz a atriz, lembrando que o projeto apenas vai dar visibilidade a algo que já existe. - Todas as cidades do planeta praticam sexo, estaremos apenas legalizando. E vai inibir o que há de mais cruel na prostituição, que é a prostituição infantil.
Fernanda Abreu ainda não conhece detalhes do projeto, mas, pelo que foi descrito, aprova:
- Não se trata de um motel ao ar livre, mas um espaço para informação e discussão sobre sexo também. Quanto mais conhecimento sobre o assunto, melhor. O que a gente precisa é educar esse povo.
Para Fernanda, o que prejudica a imagem da cidade é a exclusão social e a violência.
- Sexo faz parte da cidade do Rio e do imaginário do carioca, assim como de qualquer outro povo. E, sem hipocrisia, Copacabana é, entre outras coisas, sexo puro. Um bairro que faz jus a essa vocação e à fama. Apenas iríamos organizar isso tudo - comenta.
Na opinião de Fernanda, só não vale ser machista, sexista e preconceituoso.
- Além do sexo propriamente dito, que para mim é o de menos no projeto, o mais legal é o que está em torno dele e que é de utilidade pública para a sociedade como o centro de atividades, o museu, a sala de exposições, os debates, as informações sobre doenças e saúde relacionadas ao sexo, sobre iniciação sexual e sexo na terceira idade, história da pornografia, história do sexo na antiguidade, movimentos gays, teorias de Freud etc - diz.
A artista Rogéria é contra:
- Acho que um projeto misturando centro de estudos, entretenimento e cabines para a prática de sexo prejudica a imagem da cidade e do país. O Brasil já é conhecido no exterior pelo grande número de casos de prostituição infantil. Seria melhor construir um centro cultural. Deve ser mais um factóide do prefeito.
Já a doutora Carmita Abdo, professora de Psiquiatria e coordenadora geral do Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (ProSex), acha inviável reunir num só lugar um centro de estudos, as clínicas de medicina e um museu com entretenimento sexual.
- Vivemos num país com fama de praticar muito sexo, mas na verdade os brasileiros estão mal informados sobre o tema, sobre o uso de preservativos, doenças sexualmente transmissíveis e outras questões relacionadas. O projeto pode ser interessante do ponto de vista de educação sexual, mas não dá para integrar isso com cabines para sexo pago.
Não combina e pode afastar as pessoas que estão apenas interessadas em saber mais sobre sexualidade e discutir o tema.
É preciso separar conhecimento de prática. Nesse projeto, um lado da Cidade do Sexo, de cultura e conhecimento, contrapõe-se ao outro, ao da prática - diz a médica.
Ao cantor Línox agrada a idéia de trocar de problemas.
- Assim como a questão do comércio ilegal de drogas, o mundo paralelo do sexoé uma realidade crescente que gera muito dinheiro, não se apuram impostos e produz grande cadeia de atividades ilícitas com soluções cada vez mais remotas. O projeto pode regulamentar os que trabalham informalmente com sexo e analisar melhor esse universo. E haverá um maior controle da prostituição infantil - afirma o cantor.
O artista plástico Marcio Botner, diretor da galeria A Gentil Carioca e professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, discorda da forma como o prefeito trata o tema, tentando enquadrá-lo num espaço cenográfico, como fez com a Feira de São Cristóvão e o Camelódromo:
- Agora ele quer enquadrar o sexo. O sexo deve ser feito com liberdade e não numa cerca controlada. Ele deveria aproveitar para discutir de forma geral e irrestrita o assunto, promovendo mais educação sexual, distribuindo camisinhas e dizendo como o sexo é bom em liberdade e com responsabilidade.
Para Botner, parece que nesse projeto Cesar Maia só quer panfletar a idéia do sexo sem se aprofundar na questão.
- O Brasil tem craques na arte erótica, como Ernesto Neto, Laura Lima, Marcia X., Tunga, Cabelo, Rosângela Rennó, Franklin, Cassaro, Rozana Paladian e Jarbas Lopes. Mas do jeito que o projeto está, nenhum artista plástico com um trabalho sério se enquadraria na proposta - diz o professor do Parque Lage.
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