Aníbal Cavaco Silva exposto

Há precisamente dez anos atrás, Aníbal Cavaco Silva não foi querido pelos portugueses. Perdeu na corrida presidencial contra Jorge Sampaio. Foi derrotado. E por uma boa razão...as pessoas naquela altura tinham Cavaco Silva mais presente na memória do que agora.

Dez anos dá para passar muita água debaixo da ponte e uma manipulação do silêncio, algo que o Aníbal Silva faz bem (quem o conhece sabe bem que nem abre o bico nas reuniões internacionais), apaga muitas memórias. As memórias de há dez anos foram, parece, esquecidas em grande parte e a década que passou elevou Aníbal Silva nas mentes de muitos ao nível do sebastianismo, um fenómeno que ocorre em Portugal de vez em quando nas alturas de crise.

Vamos lembrar aos portugueses e à comunidade internacional a razão porque Aníbal Silva não foi eleito há dez anos.

Depois de uma década como Primeiro-ministro, numa altura em que o dinheiro da Comunidade Europeia jorrava pelas fronteiras dentro, o quê é que fez Aníbal Silva para deixar Portugal numa posição de destaque? Onde foi esse dinheiro, onde foi empregue e quais as estruturas que Aníbal Silva construiu ao longo de dez longos anos para assegurar o futuro crescimento de Portugal na Comunidade?

Foram tão bem empregues, esses biliões, que Portugal depressa deslizou para 12º lugar na Europa dos 12, 15º dos 15 e agora ocupa o 19º dos 25. E está a cair a pique. As reacções acontecem alguns anos depois das acções.

Longe de ser competente como economista, Aníbal Silva provou ser o pior estrategista na história do país.

A segunda razão porque Aníbal Silva não foi eleito há dez anos foi a falta de coerência na promessa de melhorar a vida dos portugueses. Piorou, e bastante e destruiu o tecido social do país para o próximo futuro, minando o terreno para os anos seguintes, de maneira que Cavaco Silva pudesse ficar nos bastidores, metendo o nariz quando entendesse e dizendo “Eu disse-lhes que isso iria acontecer”. A venda tresloucada de propriedades e firmas do estado criaram todas as condições para um colapso do mercado do trabalho. Aníbal Silva representou a geração dos yuppies, arrogantes novos-ricos que aplicavam a política da linha do fundo, sem qualquer respeito pela condição humana.

Daí que António Guterres pudesse vencer as eleições em 1995 com a simples frase: “Os portugueses não são um negócio. São pessoas”.

Talvez a jóia na coroa de Aníbal Silva foi a propositada destruição da única firma portuguesa com peso no exterior – a IPE – Investimentos e Participações do Estado, SA, uma holding que agiu como o braço direito do estado, salvando empregos, criando postos de trabalho e criando riqueza. O quê é que fez o Aníbal Silva? Desmembrou-o. E as pessoas dizem que é competente? Aníbal Silva foi, pois, o pai do desemprego em grande escala em Portugal.

A terceira razão porque Aníbal Silva não foi eleito foi o seu estilo arrogante em lidar com as pessoas – por isso ele sabe que quanto menos fala e aparece, melhor, porque começa a abrir a boca e estraga tudo. Passou dez anos a carregar contra os portugueses, nas fábricas de Marinha Grande, na Ponte 25 de Abril, em Setúbal, na Praça do Comércio. Até tivemos um belo espectáculo para os turistas verem em pleno coração de Lisboa, quando dois corpos da polícia efectuaram uma luta feroz, a polícia de intervenção carregando à Cavaco contra o PSP que fazia uma greve pacífica. Uma Cavacada autêntica.

A violência foi tanta que até os transeuntes foram espancados eu próprio assisti uma senhora de cerca setenta anos que tinha sido violentamente agredida na cabeça com um bastão. Uma senhora de setenta anos. Pelo amor de Deus.

Aníbal Silva foi tão competente, tão capaz, que até teve de fugir do seu próprio partido e deixar Fernando Nogueira na liderança. Tão popular foi Aníbal Silva que teve de se distanciar daquilo que ele tinha criado. Tão hábil foi ele em dirigir seu partido, que os parlamentares do PSD foram rotulados na imprensa da altura como Rottweilers.

Aníbal Silva deixou o PSD odiado. E é competente?

Nem Aníbal Silva tem o perfil para ser Presidente. Quem o conhece, e quem conhece pessoas que o conhecem, sabe a verdade que ele tenta esconder. É péssimo nas relações pessoais e nas reuniões internacionais, toda a gente sabe que ele entra mudo e sai calado. Até se comentava isso na altura: “Quem é aquele, que olha para os papéis e nunca diz nada?” “É Aníbal Silva”. “Quem?”

E isso é o perfil de um Presidente? Um Presidente precisa de saber quantos cânticos tem os Lusíadas – e a Maria Silva é tão boa professora de português que nem o marido sabia esse facto elementar da cultura do seu país. Um Presidente tem de saber estar â mesa. Tem de falar com a boca vazia. Não pode usar o garfo como uma pá e encher a goela até ao ponto de ruptura. Não pode falar com a boca cheia a cuspir gafanhotos para todos à sua volta, como uma espécie de Jabba, the Hutt.

Votar em Aníbal Silva não vai ser sinónimo com votar por um Sebastião. Não há ninguém menos preparado para ser o Presidente de Portugal. Aníbal Silva é o único candidato que irá desprestigiar o país, aumentar as tensões sociais e entrar em guerrilha com o governo numa altura em que o país precisa de muito trabalho e estabilidade.

Essa figura ríspida não tem o perfil de um Presidente. Não se deixem enganar. Lembrem-se das razões porque esse senhor não foi querido em 1995.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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