Luís Carvalho comenta que se devia deixar o cadáver em paz, enterrando-o ou cremando-o - seguindo o nobre exemplo de Álvaro Cunhal. E pôr fim a esse objecto de traição à memória de Lénine que é um mausoléu estilo tirania faraónica do antigo Egipto! Nas últimas semanas, regressou a polémica, pela mão do governo russo, sobre a hipótese de enterrar o cadáver de Lénine. Tem razão a direcção do partido Comunista da Federação Russa, encabeçada por Guennadi Ziuganov, quando afirma que a intenção do governo de direita do presidente Putin, ao reavivar esta polémica, será desviar as atenções dos gravíssimos problemas socias causados pela sua política de direita e pelo verdadeiro assalto que foi a governação do seu antecessor e mentor. Mas é um disparate dizer, como faz, Ziuganov, que enterrar o cadáver de Lénine seria um sacrilégio, e que se essa ideia for avante o PCFR organizará um protesto nacional. Faria melhor o dirigente comunista (?) russo em deixar o cadáver de Lénine em paz, enterrando-o ou cremando-o - seguindo o nobre exemplo de Álvaro Cunhal. Faria melhor também em deixar-se do que Lénine bem designava por "cretinismo parlamentar", e tratar de organizar protestos e alternativas para os verdadeiros problemas que afectam a vida da classe trabalhadora da Rússia. A mumificação do cadáver de Lénine e a sua exibição turística num mausoléu, para além de macabra, foi uma séria demonstração da degenerescência da Revolução Russa. Um acto digno de uma tirania faraónica do antigo Egipto e não de um poder revolucionário comunista! Mais lúcido, do que Ziuganov, será o governador da região de Ulianovsk, onde Vladimir Ilicth Ulianov (Lénine) nasceu, e baptizada com o seu apelido, Sergei Morozov, sugeriu que o corpo de Lénine fosse enterrado na sua terra natal, mais precisamente no cemitério onde está enterrado o pai de Lénine, Ilia Ulianov. Morozov garantiu que a maioria da população da região apoia esta sua ideia. Mais lúcido também, será Mikhail Gorbatchov. Que declarou à BBC: "Tendo em consideração a vontade de Lénine e da sua família, o seu corpo deve ser enterrado". No entanto, Gorbatchov considera que ainda não será altura para fazer isso e acresenta que o problema só poderá ser resolvido com base num consenso generalizado. "Esta condição é fundamental para por fim ao drama da história soviética". A posição de Ziuganov sobre esta questão é mais um reflexo, entre outros, de que está mais ligado à cultura estalinista de nacionalismo, de conservadorismo e de culto à personalidade do que ao legado de Lénine, no que este teve de revolucionário, internacionalista, modesto, materialista dialéctico - nada a ver com múmias! Luís Carvalho Pravda.ru
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