Muito tem-se falado da posição declinante dos Estados Unidos no mundo, mas será mesmo que a águia está aterrissando?
Por Luiz Fernando Mocelin Sperancete
Do ponto de vista comercial, pode-se afirmar que os Estados Unidos enfrentam hoje a concorrência desenfreada de múltiplos polos, como China, Índia, Alemanha, e até mesmo o Brasil. No entanto, pela força do dólar como standard universal de valor, o déficit comercial americano com o mundo reforça seu papel de potência ainda dominante, pois, sendo o dólar a moeda das moedas nas trocas internacionais de bens e serviços, os Estados Unidos, com seu déficit comercial, inundam o mundo com sua própria moeda, apresentando duas características marcantes.
A primeira remete ao fato de que, com o mundo empanturrado de dólares, os estoques em dólares dos bancos centrais e instituições financeiras de diversos países elevam-se a cada ano. Por exemplo, hoje o Brasil acumula reservas em dólares da ordem de 371 bilhões, ou seja, temos um colchão de reserva em dólares que faz com que possíveis instabilidades cambiais e financeiras impactem com menor força a economia brasileira. Outro exemplo, a China, o grande dragão asiático, locomotiva da economia global, detém nada menos que 4 trilhões de dólares em seu estoque de reservas.
Por outro lado, todo esse volume de recursos em dólares que os bancos centrais e instituições financeiras ao redor do mundo apresentam em seus balanços faz com que a posição do dólar se reafirme como a moeda das moedas, tendo em vista peso do dólar nas trocas internacionais, salvo casos de trocas em moeda local, como entre Brasil e Argentina.
Do ponto de vista financeiro, os Estados Unidos ainda detêm a posição de maior potência investidora, ou seja, ao mesmo tempo que os déficits comerciais com o resto do mundo ajudam a propagar o dólar como a moeda universal de trocas de bens e serviços, as instituições financeiras norte-americanas vão muito bem-obrigado, financiando diversos projetos ao redor do mundo, promovendo fusões e aquisições entre empresas, ademais de comandarem as praças e os circuitos financeiros internacionais, quando não promovendo instabilidades financeiras para contrabalançar governos contrários ao mundo das cifras e próprio governo dos Estados Unidos.
Do ponto de vista político-militar, percebe-se cada vez mais exacerbado a força da máquina de guerra norte-americana, principalmente após a década de 1980, com conluios e conchavos promovidos pelos Estados Unidos ao redor do mundo para imporem seus desígnios a países que chama de "aliados", incluindo-se, aí, um amplo movimento de tropas ao redor do mundo, como na Espanha, Itália, Reino Unido, dentre outros países, a fim de promover certas linhas de segurança aos seus "aliados", mas que, ao mesmo tempo, serve para evitar qualquer tipo de insurreição destes mesmo "aliados" contra os interesses norte-americanos.
Cabe destacar que o aspecto militar do poder dos Estados Unidos apresenta a visão mais aparente de que o poder norte-americano não está em declínio, pois será mesmo que estaria em declínio uma potência que detém nada menos que 800 bases militares ao redor do mundo?
Pelo lado político, os Estados Unidos ainda controlam, ainda que de forma compartilhada com França, Reino Unido, China e Rússia, o centro duro do poder político mundial, a saber, o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Para quem não tem ideia disso, tal conselho aprova e desaprova intervenções militares onde achar que convém, ou seja, aplica-se o uso da força caso necessário e contrário aos interesses dos Estados Unidos, França, Rússia, Reino Unido e China.
Neste sentido, atualmente está muito claro que os Estados Unidos detêm grande parcela do poder mundial, e é exatamente por isto que deve haver a formação de grandes blocos políticos e econômicos internacionais, como o BRICS, o MERCOSUL e a UNASUL, além da promoção de uma coesão nacional forte dentro dos países, com vista a formar a opinião pública em favor dos interesses nacionais, para que instabilidades políticas e econômicas externas, principalmente oriundas de Washington, não interfiram nos seus processos de desenvolvimento nacional. Nesse sentido, as tentativas de destruir a Petrobrás nada mais são do que tentativas de Washington e seus "aliados" mundo afora de tentar jogar areia no "projeto de nação" iniciado com a subida de Lula ao poder, em 2003. Na Rússia, acontece a mesma coisa, pois os Estados Unidos chegaram à fronteira daquele país com suas tropas, e Putin nada mais faz do que defender os interesses da nação russa. Já no caso da Síria, percebe-se claramente que os Estados Unidos estão envolvidos na formulação, criação e financiamento do Estado Islâmico, na sua luta, sem sucesso, contra o Presidente eleito daquele país, Bashar Al-Assad, o qual não é subserviente aos desígnios de Washington.
Em suma, o que liga Brasil, Rússia e Síria é o fato de estes três países estarem sob forte pressão externa, pressões estas que visam destruir seus projetos de desenvolvimento e coesão nacionais.
A única via que resta, é resistir.
Luiz Fernando Mocelin Sperancete
Bacharel em Relações Internacionais pela FACAMP, metrando em Ciências Sociais pela PUC-SP. Diretor no Instituto de Estudos Geopolíticos do Oriente Médio e Assessor Especial de Relações Internacionais da Presidência da Federação das Entidades Árabes de São Paulo (FEARAB-SP).
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