Em meio à crise humanitária na Síria, New York Times revela que Pentágono irá “significativamente reforçar” sua súcia de mercenários, em operação encoberta financiada com meio bilhão de dólares.
No exato momento em que se destampou a tragédia dos milhões de refugiados das guerras impostas pelos EUA no Oriente Médio, norte da África e Ásia, e que não é mais possível abafar, como visto nas estradas e praças da Europa (ver página 6) e na comoção causada pela foto do pequeno Aylan afogado numa praia turca, o New York Times teve a desfaçatez de estampar na segunda-feira (7) que o Nobel dos Drones Obama irá “significativamente reforçar” sua intervenção na Síria com mercenários “em maior número”. Ou seja, em vez de alívio para os refugiados e paz para a Síria, vem aí mais terror sob patrocínio de Washington.
Cinicamente, o NYT registrou ainda que o “esforço do Pentágono” para salvar seu programa de treinamento encoberto de US$ 500 milhões - que, esclarece, não deve ser confundido com “programa paralelo” sob controle da CIA – que “chega quando o mundo está fixado na sorte de milhares de refugiados buscando segurança na Europa dos conflitos no Oriente Médio, inclusive muitos fugindo da guerra civil síria e da opressão nas áreas sob controle do Estado Islâmico”.
Aliás, na sexta-feira (4), Obama recebeu na Casa Branca o decrépito monarca saudita, seu cúmplice na matança na Síria e no Iêmen e no patrocínio de terroristas. Sobre a chamada Divisão 30, o NYT acrescentou ainda que a remuneração é de US$ 225 mensal no caso de ‘soldado’ e US$ 350 por ‘oficial’, e relatou o sufoco passado pela primeira leva de ‘formandos’, sob chumbo da Frente Al Nusra não se sabe bem por qual motivo; o “treinamento” continua na Turquia e na Jordânia.
Sem fim ao assalto sem precedentes aos países islâmicos – e ao petróleo – desencadeado pelos EUA sob o pretexto da “Guerra ao Terror” e depois, apoio à “Primavera Árabe”, agora transformada em “Outono Europeu”, não há como deter a fuga em massa de milhões de pessoas dos países destruídos pelos bombardeios norte-americanos e de seus cúmplices, como Inglaterra, França e petromonarquias feudais. A devastação já se estendeu ao Iraque, Afeganistão, Iêmen, Líbia, Síria e Somália, e com reflexos no Sahel africano e sequer o Sudão do Sul escapou.
Países com governos laicos e bom desenvolvimento econômico e social, como o Iraque, a Líbia e a Síria, transformados em escombros e estados falidos. Da população síria de 23 milhões, a metade é considerada pelo órgão da ONU para refugiados (UNHCR) como sendo de deslocados, sendo que 4 milhões estão em campos na Turquia, Jordânia e Líbano. Um terço da população líbia está no exílio. No auge da invasão, o total de refugiados do Iraque chegava a 4,1 milhões, sendo 1,5 milhão internamente. Também há 2 milhões de refugiados do Donbass, consequência de outra operação, essa para derrubar o presidente ucraniano a poucos meses de novas eleições.
Ao que parece, cada novo presidente dos EUA quer deixar uma nova guerra como legado: se Clinton se lambuzou com os 10 mil mortos nos 78 dias de bombardeio para esquartejar a Iugoslávia e com as 500 mil crianças iraquianas mortas no bloqueio (“valeu a pena”, dizia madame Albright); W.Bush se superou com mais de 1 milhão de iraquianos em sua guerra às ‘armas de destruição em massa’ e milhares no Afeganistão, Paquistão e Iêmen; e Obama fez o seu melhor, centenas de milhares na Síria e Líbia, mais uns milhares no Iêmen, Afeganistão e Paquistão nas ‘terças da morte’, e as no Donbass, nada mau para quem começou prometendo a retirada do Iraque e o fechamento de Guantánamo.
Antes da invasão e latrocínio (por petróleo), não havia no Iraque nem Al Qaeda e nem Estado Islâmico. A “constituição” trazida por generais ianques ainda está em vigor e o Baas, banido. Os líderes do país, encarcerados, para não falar de Sadam, enforcado, e Tariq Aziz, morto na prisão. Já a Líbia, de país africano mais rico virou um molambo, com dois “governos”, Kadafi assassinado e onde sequer conseguem extrair petróleo. A Síria foi invadida por mercenários após o governo Assad ter recusado proposta de gasoduto do Qatar, patrocinado pelos EUA, por estar condicionada à violação da soberania síria no território subjacente ao gasoduto.
Genocidas
Os maiores genocidas do planeta e os feudais mais antidemocráticos do pedaço se juntaram para acusar Assad de “ditador” e despejaram bilhões de dólares, armas, mercenários e fanáticos para derrubar o governo legítimo e instalar um fantoche ao gosto de Washington e das petroleiras. O DIA – a ‘CIA’ do Pentágono – previu o surgimento de um “califado” como subproduto da operação encoberta para derrubar o presidente sírio, mas ainda está sob discussão se foi ou não inesperada a meia volta, volver, até Mossul e subseqüente ascensão do Estado Islâmico. Até aqui resta provar que o Pentágono quer, de verdade, “combater o EI”.
No Afeganistão na década de 1980, o fanatismo, a CIA e os narcotraficantes uniram forças para assassinar os professores, que tentavam alfabetizar camponeses e as meninas que estudavam pela primeira vez graças à revolução, e foi nesse afã que surgiu a Al Qaeda e seus brotos, como o EI, que lançou uma feroz campanha pela tomada da cidade de Kobane, no curdistão sírio, cidade onde o menino Aylan nasceu e de onde foi levado, até o naufrágio no Mediterrâneo. Mais de 2.000 refugiados morreram até aqui este ano na travessia do Mediterrâneo; no ano passado, foram 3.500.
Se não houvesse o pretexto da “Primavera Árabe” ou a “ditadura de Assad”, arrumariam outro. Como o ex-comandante da Otan, Wesley Clark, escreveu em seu livro de 2003, “Vencendo as Guerras Modernas”, em novembro de 2001, no Pentágono, ele foi informado do plano de “invadir o Iraque” e, mais, que isso era parte uma campanha para atacar sete países, sendo alvos “também a Síria, o Líbano, a Líbia, o Irã, a Somália e o Sudão”.
ANTONIO PIMENTA
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