O matemático e astrônomo Johannes Kepler escreveu para Galileu Galilei em 19 de abril de 1610, logo que soube da grande invenção do amigo italiano, a luneta: "Quando tivermos dominado a arte do vôo, certamente não faltarão pioneiros humanos para as viagens ao espaço.
Criemos navios e velas adequadas ao éter celeste e haverá inúmera gente sem medo dos desertos vazios. Enquanto isso, preparemos, para os bravos viajantes, mapas dos corpos celestes. É o que farei para a Lua e vós, Galileu, para Júpiter".
Antes de subir ao céu pela escada teórica estendida por Kepler e Galileu, os homens teriam de superar intricados problemas práticos, que foram inicialmente resolvidos graças a genialidade de um humilde professor russo, nascido em 1857 na aldeia de Ijewski: todos os princípios matemáticos de vôo espacial foram escritos por Konstantin Tsilkovsky, que acreditava que "não só a Terra, mas também o Universo inteiro eram herança da humanidade".
Em 1934, engenheiros soviéticos liderados pelo jovem Sergey Korolyev apresentam à Academia de Ciências Soviéticas, um estudo sobre o vôo fora da atmosfera, com minuciosa análise sobre a obtenção de combustível líquido para foguetes, pressurização das cabines para as viagens no vácuo, e proteção da tripulação contra o excesso de aceleração durante a partida e no regresso à Terra.
No dia 04 de outubro de 1957, o grupo de Sergey Korolyev, engenheiro-chefe dos projetistas de foguetes soviéticos, se reunia nas instalações da base espacial de Baikonur, no Kazakistan. No topo de um enorme foguete de três estágios, os técnicos colocaram uma esfera de alumínio de 58 cm de diâmetro e 83 kg, com dois pares de antenas flexíveis de 2,4 e 2,9 m. Às 8 horas da manhã, os alto-falantes avisavam o fim da contagem decrescente: "tri, dva, odin, natchinai, zhar." Os sons agudos da partida dos motores anunciavam ao mundo o início de uma nova era. Algumas horas mais tarde, a Terra ganhava um "pequeno companheiro" no céu, feito pelas mãos do homem, o Sputinik I, que passava a viajar sobre quase todos os países, a uma velocidade de 28.800 km/h.
Em 01 de novembro de 1957, os soviéticos lançavam, também de Baikonur, outro imenso foguete que colocou no céu o Sputinik II, um satélite de 560 kg, que levava a bordo uma bela cachorrinha da raça esquimó Laika, de nome Kudryavka (Crespinha), o primeiro ser vivo no caminho das estrelas.
A primeira colheita científica dos satélites veio com a queda do último estágio do foguete lançador do Sputinik I, que também entrara em órbita. A carcaça cilíndrica do foguete foi perdendo velocidade gradativamente, queimando-se de volta na atmosfera no dia 01 de dezembro de 1957, para espanto dos cientistas, que esperavam seu retorno bem mais tarde. A rápida queda do foguete, porém, convenceu os astrônomos soviéticos de que a altura mínima da última camada da atmosfera deveria ser levantada de 50 km.
Agora sim, os soviéticos estavam prontos para presentear o mundo com aquele que seria o maior acontecimento científico da história da humanidade. Às 8 horas do dia 12 de abril de 1961, a temperatura do cosmódromo de Tyuratan, em Baikonur, marcava 40 graus negativos, quando o major de rosto sorridente foi atendido pelo médico da base espacial soviética. Seu nome: Iuri Alexeievich Gagarin. Idade: 27 anos. Piloto militar soviético, casado com Valentina e pai de duas filhas: Yelena de um ano e Galia, com 4 semanas de idade. Altura: 1,60 m. Peso: 64 kg. Nacionalidade: russa. A "vaznia sluzba" (missão importante), ele faria dentro de poucas horas. Duas horas antes do lançamento, Gagarin aproximou-se da torre de serviço ao lado do enorme foguete, a Vostok I (Oriente), vestindo um uniforme vermelho e capacete branco. Depois de saudar alguns amigos, subiu pelo elevador até o topo da Vostok, 40 m acima, acomodando-se na esférica cabine, de 2,4 m de diâmetro e 4,7 toneladas.
Às 9 horas de Moscou, o oxigênio líquido havia enchido o tanque principal da Vostok. Dentro da pequena cabine, uma câmara de televisão transmitia para o mundo o rosto sereno e concentrado do jovem russo. Gagarin estava pronto. Às 9horas e 7minutos de Moscou, os motores despertavam, e a Vostok subia aos céus, carregando Gagarin consigo. Quando atigiu 17 km de altura, a poderosa nave russa começou a inclinar-se em direção ao nordeste, e neste momento Gagarin olhou através de uma das janelas da cabine e disse a história frase: "Eu vejo a terra, ela é azul". Nunca nenhum homem tinha observado a Terra de tão alto. Depois de 5 minutos, o último estágio do foguete colocou a Vostok em órbita, a uma velocidade de 28.800 km/h. Como uma pedra girando amarrada a um barbante, a força centrífuga exercida sobre a Vostok para fora da Terra contrabalançava exatamente a atração gravitacional exercida sobre a nave para dentro da Terra, alcançando distância mínima de 190 km e máxima de 344 km, fazendo uma volta na Terra em 89 minutos e 10 segundos.
Na cabine, Gagarin sentia as emoções resultantes do equilíbrio dessas forças e da ausência de peso. "O Sol visto do espaço é dezenas de vezes mais brilhante. As estrelas são claramente visíveis", dizia Gagarin, que observava do espaço o imenso universo que acolhia a Terra, aquela bela esfera de luz envolvida por "um estreito cinto de tênues cores azuis". "A transição do azul terrestre para o preto do cosmo é suave... e maravilhosa". O vôo tinha um significado universal: "O maior acontecimento científico da história da humanidade”, declarou Bernard Lovell, diretor do radiotelescópio de Jodrell Bank, Inglaterra.
A primeira voz vinda do espaço falava russo! O vôo ocorreu esplendidamente. Os criadores da nave tinham conseguido prever tudo. Todas as situações extremas e inevitáveis em empreendimentos deste tamanho, foram ultrapassadas graças ao bom cálculo e grande margem de segurança das estruturas e sistemas da nave cósmica. Depois de 108 minutos em órbita, Gagarin desceu tranqüilamente para a Terra, perto da aldeia de Smelovka, Saratov, em local descrito como "área prevista", tendo percorrido 40.868,6 km. Depois do pouso, Gagarin solicitou que a agência soviética Tass transmitisse uma mensagem para o Partido Comunista, o governo soviético e o presidente Nikita Kruschev: "O pouso foi normal. Estou me sentindo bem e não estou machucado."
Sangue-frio e firmeza, coragem e inteligência, rapidez do pensamento e espírito de observação, vastos conhecimentos não esgotam todas as qualidades que Iuri Gagarin possuía. Além disso, sempre foi muito encantador e modesto. Um dos membros da comissão, o general Nikolai Kamanine, escreveu no seu diário: "É muito difícil escolher alguém para o mandar para a morte quase certa. Mas é igualmente difícil escolher um de dois ou três homens dignos para dele fazer uma celebridade mundial e preservar o seu nome nos anais da humanidade por todo o sempre." "A escolha foi feita corretamente”, confirmou Guerman Titov, cosmonauta número dois, que cinco meses mais tarde seria o segundo homem a alcançar o espaço.
Gagarin, filho de pessoas simples, trabalhadores em um kolkhoze, nascido em 09 de março de 1934, na pequena Gzhatsk, quando terminou os oito anos de escola secundária, matriculou-se numa escola de aprendizagem técnica, onde tornou-se fundidor de aço, freqüentando depois o clube aéreo, e entrando finalmente para a escola de aviação. Ao ouvir, em outubro de 1957 a notícia sobre o lançamento pela União Soviética do primeiro satélite artificial da Terra, o jovem cadete da escola de aviação pensou nos futuros vôos cósmicos do homem e sentiu-se atraído pela idéia de tornar-se um cosmonauta. Quando a União Soviética lançou o terceiro satélite artificial, Gagarin "compreendeu", como disse ele próprio, que não podia adiar mais o seu sonho, e enviou um pedido para ser incluído num grupo de cosmonautas. "Pensei que já era tempo de me engajar num grupo desses. Não me enganei. Convidaram-me para uma comissão médica." Iuri não teve muita esperança, pois muitos pilotos já haviam sido recusados por causa da saúde. "Não era alto nem forte”, recordava Gagarin. E havia homens muito fortes e altíssimos no grupo de pretendentes. “Não podia fazer-lhes concorrência", pensou. Não podia adivinhar que a altura também havia de desempenhar o seu papel. Uma das praças de Moscou tem uma maquete do primeiro aparelho de descida, junto ao monumento ao primeiro cosmonauta da Terra: é uma esfera de apenas 2,4 m de diâmetro que devia acomodar, além do cosmonauta, muitas outras coisas para o piloto poder fazer o seu vôo. Iuri Gagarin morreu num acidente aéreo em 27 de março de 1968, durante um vôo de treino num MIG-15.
Fábio Rossano Dario Pisa - Italia
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