Jolivaldo Freiras
Os mais jovens, esses da Geração Z, claro que não irão acreditar, mas houve um tempo, nem tão longe assim, em que as eleições em todo e qualquer rincão do Brasil era uma festa. Um FlaFlu, um GreNal, um BaVi. As torcidas animadas pelas ruas, bares, clubes, praias e beiradas de rio incensando seus candidatos e defenestrando o do amigo, colega ou parente, numa boa. Pelas ruas as bandeiras em profusão. Era o tempo do santinho ser distribuído, dos cartazes nas ruas. A alegria de comorar a democracia. A festa.
Não havia temor
Não havia temor. O medo passava longe e se de vez em quando algum desequilibrado terminava por agredir ou matar um eleitor contrário, era um fato em milhões. Troca de tapas sempre houve e claro que ameaças, mas a absoluta maioria sem consecução. Era um tempo em que quem tinha carro plotava. Colocava pefurade com o nome, número e cara do seu candidato a presidente da república. Só se via carros de todos os tipos e preços adesivados. Quem queria colocava bandeira na porta de casa ou colava cartaz na porta para mostrar sua preferência. Quando da chegada do pen-drive copiava-se as músicas (jingles) e o povo do “paredão” saia mostrando suas preferências. E haja aposta.
Mas, hoje, o medo está nas ruas: ou os adeptos dos candidatos saem em volumosas manifestações, se auto protegendo, ou ninguém quer saber de colocar um botton na camisa, usar uma camiseta com a cara do seu candidato a presidente. Também fazer o quê, se já são centenas e centenas de agredidos e quase uma dezena de mortos por causa de questões políticas? Sem falar nas ameaças que os próprios candidatos vêm sofrendo.
Conforme pesquisa recente do Datafolha o receio de que exista brutalidade política no dia da eleição (hipótese acatada por 40% dos eleitores), pode afastar até 9% das pessoas das urnas. Ninguém quer sair de casa para votar e ser surpreendido com os doidos sectários, notadamente os de direita que andam desesperados com os resultados das pesquisas que amofinam o presidente Jair Bolsonaro e compactuam com o discurso altamente agressivo de figuras ligadas ao bolsonarismo, atitudes do próprio mandatário e dos seus filhos. Mas não se pode negar que a violência em seus inúmeros episódios e a animosidade vicejam de todos os lados.
Até quem não tem nada a ver com os problemas criados, como jornalistas e pesquisadores de institutos de opinião estão sofrendo permanente agressão. Então a população pensa assim, se até comunicadores que têm a força dos veículos em que atuam estão sofrendo violência, imagine eu. Então o que se acha é que ir votar pode ser como estar vestido de corintiano no meio da torcida do Palmeiras. E já basta muitos terem perdidos amigos de infância, compadres e nunca mais se relacionarem com irmãos, pais e filhos, Um caos geral nesse país que dizem tinha Deus como brasileiro, mas que até ele não tem dado as caras.
Mas os marqueteiros têm sabido usar o medo da violência, principalmente os ligados ao ex-presidente Lula. Iniciaram um movimento para o chamado “voto útil” que também implicaria em trazer para o petista os votos que seriam de Ciro Gomes, para que ganhando no primeiro turno a violência não se estenda por mais tempo.
Conforme o Datafolha, entre aqueles que acham que é grande a chance de violência, o índice é maior entre mulheres (45%) do que entre homens (35%). Também acreditam mais nisso eleitores de Lula (50%, ante 14% que não creem na hipótese) do que de Bolsonaro (26%, enquanto 29% não acham). No corte regional, apenas os moradores do Sul destoam (onde estão 14% dos ouvidos pelo Datafolha): 33% acreditam que a chance é grande. Avaliam que o risco é médio 27% dos ouvidos, enquanto 11% dizem ser pequeno e 19%, inexistente. Outros 3% não souberam dizer.
Somando-se, a rigor, a violência partidária com a violência institucional que tira a sociedade das ruas, como se diz por aí: quem tem... tem medo.
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Romancista e jornalista. Email:[email protected]
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